São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Bancos dizem a Malan e Armínio em NY que vão manter nível atual, mas reduzido, de empréstimos e aplicações

Bancos prometem não piorar crédito do país

Reuters
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, e Armínio Fraga, presidente de BC, após reunião com bancos


MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Dezesseis dos maiores bancos privados mundiais comprometeram-se ontem, de maneira genérica, a manter "o nível geral" de suas linhas de crédito para empresas brasileiras e de seus demais negócios no país.
O compromisso foi anunciado após reunião de duas horas entre representantes dos bancos e a equipe econômica brasileira, realizado na sede do Fed (banco central dos EUA) em Nova York.
A redução das linhas de crédito para exportação e a dificuldade das empresas brasileiras de renovar (rolar) seus empréstimos externos têm provocado a desvalorização do real e levaram o Brasil a pedir recursos ao FMI. Uma aversão global a investimentos de risco, devido a fraudes financeiras nos EUA e ao calote argentino, por exemplo, provocou uma seca de crédito mundial.
Em um comunicado divulgado depois do encontro, conglomerados financeiros como Citigroup, JP Morgan Chase, Deutsche Bank e Santander expressaram o "compromisso de longo prazo com o Brasil" e a "intenção de manter o nível geral de seus negócios no Brasil, incluindo as linhas de comércio exterior."
O compromisso não menciona valores nem duração. Além disso, não será monitorado oficialmente pelos próprios bancos, como ocorreu no acordo que manteve o volume de linhas de crédito ao Brasil após a crise da desvalorização do real, em 1999.
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, considerou o resultado da reunião "um sucesso absoluto", que "superou todas as expectativas do governo brasileiro". Acompanhado do ministro da Fazenda, Pedro Malan, Armínio disse que não haverá um mecanismo de controle porque, diferentemente do acordo de 1999, "esse não é um trabalho vinculado ao FMI".
Segundo Armínio, o compromisso anunciado ontem pelos bancos foi "um trabalho independente, que partiu de uma iniciativa nossa". Fraga disse ainda que seria impossível montar um sistema de monitoramento para esse acordo porque ele "vai além das linhas de comércio", atingindo também as demais operações dos bancos no país.
"Foi um apoio importante porque vai muito além das linhas comerciais, pois não adianta os bancos manterem ou aumentarem as linhas e reduzirem algum outro tipo de exposição ao país", explicou o presidente do BC.
Armínio informou que o compromisso dos bancos começou a vigorar ontem e afirmou ser "muito positivo" o fato de os bancos não terem estipulado um prazo de duração para a promessa de manter a exposição nos níveis atuais. "Foi melhor do que isso, porque (o prazo do compromisso) foi indefinido."
No mês passado, o diretor-executivo do Banc of America, Kenneth Lewis, declarou que a instituição iria esperar o resultado das eleições de outubro no Brasil para decidir se irá elevar os empréstimos ao país. Dessa vez, os bancos e a equipe econômica evitaram mencionar a palavra "eleições", embora Fraga tenha reconhecido que assuntos "políticos" foram abordados no encontro, "de forma detalhada".

Compromisso informal
"Foi um encontro informal, que produziu um compromisso informal", disse à Folha David Roberts, do Banc of America Securities. "Ninguém veio a Nova York obter um contrato escrito", avalia o executivo.
O FMI enviou dois observadores para a reunião: Anoop Singh, diretor do Fundo para os países do Hemisfério Ocidental, e Lorenzo Perez, chefe da missão do FMI para o Brasil. Durante a reunião, Singh fez uma exposição de dez minutos aos bancos, expondo os detalhes sobre o empréstimo para o país, de US$ 30 bilhões.
Fraga disse que o compromisso anunciado ontem pelos bancos não é "uma solução para todos os problemas do país, mas certamente foi um passo importante."
A nota divulgada ontem diz que "os bancos presentes à reunião responderam favoravelmente às apresentações e reiteraram o seu compromisso de longo prazo com o Brasil e seu apoio ao programa econômico do país. Eles (os bancos) também expressaram sua intenção de manter o seu nível geral de negócios no Brasil, incluindo as linhas de comércio exterior."


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