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AGROFOLHA
AGRONEGÓCIO
Após receber valores baixos na safra passada, produtores do cereal buscam novas formas de comercialização
Milho começa a seguir os preços externos
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O avanço do plantio de soja nas
áreas de milho nas safras de verão
está provocando profundas mudanças no mercado. Uma delas é
que o milho, como já ocorre com
a soja, começa a ter o mercado externo como referencial para os
preços internos. Os produtores,
após serem sufocados por preços
baixos, estão buscando novas formas de comercialização.
Esse novo referencial, somado à
escassez do produto, poderá dar
maior sustentação ao preço do
milho e provocar ajuste no setor
de carnes. Na ponta da linha, esse
custo chegará aos consumidores.
O milho perde espaço por dois
motivos, segundo analistas: a soja
promete bons ganhos no próximo ano e os produtores de milho
estão cautelosos após o revés sofrido na safra passada. Naquela
safra, plantaram milho na esperança de obter R$ 14 por saca, mas
foram obrigados a vender por até
R$ 7,50, diz o cerealista José Pitoli.
O milho começou a perder espaço para a soja com o fim do
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) cobrado nas exportações, em 1996, diz
Fernando Muraro, da Agência
Rural. A soja passou a ganhar US$
1,20 por saca após esse período, o
que viabilizou a produção no
Centro-Oeste. A valorização cambial nos últimos anos se encarregou de imprimir ritmo maior no
plantio dessa oleaginosa, diz ele.
Os produtores já se definiram
para a próxima safra, e as expectativas de plantio indicam um período difícil para os consumidores de milho em 2003.
A área de soja deverá subir de
15,8 milhões de hectares para 17,4
milhões nesta safra de verão, e a
de milho recuará de 9,5 milhões
para 9,2 milhões de hectares, segundo Muraro. Mas não são apenas os bons preços da soja que espantam os produtores de milho.
A indústria consumidora do cereal tem grande culpa nessa fuga.
"Eles [os produtores" estão magoados", diz Célio Porto, secretário de Política Agrícola do governo. Nos períodos de boa safra, as
indústrias pisaram na goela dos
produtores, diz ele.
Célio Terra, da Associação Paulista de Avicultura, diz que o setor
está aprendendo a antecipar as
compras, o que poderá dar maior
liquidez aos avicultores.
José Carlos Teixeira, analista do
setor de avicultura, diz que a indústria vai ter de resolver o problema de escassez e de preço elevado do milho. O problema, diz
ele, é repassar para o consumidor
o novo preço do frango. O produtor do milho, no entanto, não deverá pagar essa conta, afirma ele.
Teixeira acredita que esse período de ajuste será passageiro. Uma
melhor remuneração das indústrias para o milho vai incentivar o
plantio e permitir aos produtores
aplicar novas tecnologias na produção, o que aumentará a oferta.
Fim do preço baixo
Mesmo com aumento de produção, os tempos de preço baixo
para o milho vão acabar, na avaliação de alguns analistas. Ao contrário da soja, o milho tem poucos
mecanismos de venda, que em geral é feita à vista. No caso da soja, o
produtor pode vender o produto
até um ano antes do plantio.
O milho começa a deixar de ser
o "primo pobre", diz Vera Zardo,
do Deral paranaense. A crise vivida pelos produtores no ano passado, quando colheram o recorde
de 42 milhões de toneladas, permitiu a descoberta de novos mecanismos de venda.
Um deles foi a exportação. O
Brasil colocou 6,3 milhões de toneladas de milho no mercado externo em 2001, diz Porto. Neste
ano, mesmo com a queda de produção, as exportações deverão
atingir 1,3 milhão de toneladas.
Vera e Porto concordam que o
milho passa, a partir de agora, a
ser uma commodity como a soja.
Ou seja, deverá seguir a tendência
do mercado externo. A fixação
dos preços internos poderá ser o
valor pago nas exportações.
Esse cenário já começa a ser desenhado. Alguns exportadores estão fazendo contratos de venda
externa de milho da próxima safra no valor de R$ 17 a R$ 18 por
saca. Esse seria, inclusive, um dos
motivos do desinteresse do produtor pelos contratos de opção do
milho por R$ 15 a saca no Paraná.
Pitoli diz que os contratos de
opção deveriam ser, no mínimo,
de R$ 17 por saca para o Estado.
Porto reconhece que os contratos
estão pouco atrativos no Sul. Ele
diz que quando foram definidos,
o dólar estava a R$ 2,80. Uma elevação nos preços agora traria
poucas mudanças no plantio.
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