São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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AGROFOLHA

AGRONEGÓCIO

Após receber valores baixos na safra passada, produtores do cereal buscam novas formas de comercialização

Milho começa a seguir os preços externos

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O avanço do plantio de soja nas áreas de milho nas safras de verão está provocando profundas mudanças no mercado. Uma delas é que o milho, como já ocorre com a soja, começa a ter o mercado externo como referencial para os preços internos. Os produtores, após serem sufocados por preços baixos, estão buscando novas formas de comercialização.
Esse novo referencial, somado à escassez do produto, poderá dar maior sustentação ao preço do milho e provocar ajuste no setor de carnes. Na ponta da linha, esse custo chegará aos consumidores.
O milho perde espaço por dois motivos, segundo analistas: a soja promete bons ganhos no próximo ano e os produtores de milho estão cautelosos após o revés sofrido na safra passada. Naquela safra, plantaram milho na esperança de obter R$ 14 por saca, mas foram obrigados a vender por até R$ 7,50, diz o cerealista José Pitoli.
O milho começou a perder espaço para a soja com o fim do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado nas exportações, em 1996, diz Fernando Muraro, da Agência Rural. A soja passou a ganhar US$ 1,20 por saca após esse período, o que viabilizou a produção no Centro-Oeste. A valorização cambial nos últimos anos se encarregou de imprimir ritmo maior no plantio dessa oleaginosa, diz ele.
Os produtores já se definiram para a próxima safra, e as expectativas de plantio indicam um período difícil para os consumidores de milho em 2003.
A área de soja deverá subir de 15,8 milhões de hectares para 17,4 milhões nesta safra de verão, e a de milho recuará de 9,5 milhões para 9,2 milhões de hectares, segundo Muraro. Mas não são apenas os bons preços da soja que espantam os produtores de milho. A indústria consumidora do cereal tem grande culpa nessa fuga.
"Eles [os produtores" estão magoados", diz Célio Porto, secretário de Política Agrícola do governo. Nos períodos de boa safra, as indústrias pisaram na goela dos produtores, diz ele.
Célio Terra, da Associação Paulista de Avicultura, diz que o setor está aprendendo a antecipar as compras, o que poderá dar maior liquidez aos avicultores.
José Carlos Teixeira, analista do setor de avicultura, diz que a indústria vai ter de resolver o problema de escassez e de preço elevado do milho. O problema, diz ele, é repassar para o consumidor o novo preço do frango. O produtor do milho, no entanto, não deverá pagar essa conta, afirma ele.
Teixeira acredita que esse período de ajuste será passageiro. Uma melhor remuneração das indústrias para o milho vai incentivar o plantio e permitir aos produtores aplicar novas tecnologias na produção, o que aumentará a oferta.

Fim do preço baixo
Mesmo com aumento de produção, os tempos de preço baixo para o milho vão acabar, na avaliação de alguns analistas. Ao contrário da soja, o milho tem poucos mecanismos de venda, que em geral é feita à vista. No caso da soja, o produtor pode vender o produto até um ano antes do plantio.
O milho começa a deixar de ser o "primo pobre", diz Vera Zardo, do Deral paranaense. A crise vivida pelos produtores no ano passado, quando colheram o recorde de 42 milhões de toneladas, permitiu a descoberta de novos mecanismos de venda.
Um deles foi a exportação. O Brasil colocou 6,3 milhões de toneladas de milho no mercado externo em 2001, diz Porto. Neste ano, mesmo com a queda de produção, as exportações deverão atingir 1,3 milhão de toneladas.
Vera e Porto concordam que o milho passa, a partir de agora, a ser uma commodity como a soja. Ou seja, deverá seguir a tendência do mercado externo. A fixação dos preços internos poderá ser o valor pago nas exportações.
Esse cenário já começa a ser desenhado. Alguns exportadores estão fazendo contratos de venda externa de milho da próxima safra no valor de R$ 17 a R$ 18 por saca. Esse seria, inclusive, um dos motivos do desinteresse do produtor pelos contratos de opção do milho por R$ 15 a saca no Paraná.
Pitoli diz que os contratos de opção deveriam ser, no mínimo, de R$ 17 por saca para o Estado. Porto reconhece que os contratos estão pouco atrativos no Sul. Ele diz que quando foram definidos, o dólar estava a R$ 2,80. Uma elevação nos preços agora traria poucas mudanças no plantio.


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