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MUNDO REAL
Em julho, taxas caíram para pessoas físicas e empresas, mas total de empréstimos recuou de R$ 214,7 bi para R$ 213 bi
Juro menor não eleva volume de crédito
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com a recente queda
nos juros, as taxas cobradas pelos
bancos permanecem bastante elevadas e têm feito com que empresas e consumidores evitem contrair novos empréstimos. Dados
divulgados ontem pelo Banco
Central mostram que a expansão
do crédito desejada pelo governo
para estimular o crescimento da
economia não está ocorrendo.
Entre os meses de junho e julho,
os juros médios praticados pelos
bancos caíram de 56,7% ao ano
para 54,9%. No mesmo período, o
volume de empréstimos concedidos pelas instituições financeiras
recuou de R$ 214,7 bilhões para
R$ 213,0 bilhões, retomando o
mesmo volume registrado em janeiro deste ano.
Esses empréstimos não incluem
os financiamentos do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nem
aqueles do Sistema Financeiro da
Habitação, além de outros financiamentos cujos juros são controlados pelo governo.
"Como as taxas estão muito altas, as pessoas e as empresas têm
preferido reduzir seu endividamento", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O recuo dos juros bancários reflete a recente queda da taxa Selic
e as quedas das taxas de juros no
mercado futuro. Entre junho e julho, a Selic caiu de 26,5% ao ano
para 24,5%. Na semana passada,
foi feito um novo corte, de 2,5
pontos percentuais.
Entre as pessoas físicas, os juros
cobrados passaram de 81,4% ao
ano para 77,9%. Para as empresas,
a diminuição foi mais discreta: de
38,6% ao ano, caiu para 37,7%.
"As taxas ainda estão altas, é preciso esperar um pouco para que a
queda [dos juros] se consolide",
afirma Lopes.
Queda insuficiente
Os juros menores, porém, não
foram suficientes, pelo menos até
o mês passado, para estimular a
procura por novos financiamentos. O total de empréstimos contraídos por empresas instaladas
no país, por exemplo, caiu R$ 2
bilhões em julho e chegou a R$
130,2 bilhões. Entre pessoas físicas, houve uma ligeira alta: o saldo subiu R$ 300 milhões e passou
para R$ 82,8 bilhões.
Para Lopes, porém, esse aumento do crédito concedido aos consumidores não ocorreu, necessariamente, por vontade própria
das pessoas. "As empresas ainda
conseguem escapar dos financiamentos. As pessoas físicas, muitas
vezes, não têm outra alternativa."
Os juros cobrados das pessoas
físicas são mais elevados e, muitas
vezes, as obrigam a tomar um novo empréstimo para quitar o antigo. Além disso, por causa de um
efeito estatístico, os juros que incidem sobre os empréstimos a cada
mês são incorporados ao saldo
devedor, fazendo o volume de
crédito subir sem que, necessariamente, sejam concedidos novos
financiamentos.
A taxa do cheque especial chegou a 173,9% ao ano, mesmo depois da queda de 3,1 pontos percentuais ocorrida no mês passado
em relação a junho.
Desde o início do ano, o governo tem tomado várias medidas
para estimular a expansão dos
empréstimos. Entre elas, o estímulo à abertura de cooperativas
de crédito, o direcionamento de
mais recursos para operações de
microcrédito e a redução do recolhimento compulsório exigido
das instituições financeiras.
Com mais dinheiro na economia, os juros poderiam cair, o que
estimularia a retomada do crescimento econômico. Até agora, porém, essa intenção do governo
não surtiu efeito na prática, pois,
mesmo com todos os incentivos
oferecidos, os juros cobrados pelos bancos continuam elevados.
O total de empréstimos disponíveis -incluindo aqueles com
juros controlados pelo governo-
foi de R$ 382,6 bilhões em julho,
contra R$ 381,4 bilhões em junho.
Do saldo de julho, R$ 83,6 bilhões
(22%) referem-se a créditos concedidos pelo BNDES.
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