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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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MUNDO REAL

Em julho, taxas caíram para pessoas físicas e empresas, mas total de empréstimos recuou de R$ 214,7 bi para R$ 213 bi

Juro menor não eleva volume de crédito

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com a recente queda nos juros, as taxas cobradas pelos bancos permanecem bastante elevadas e têm feito com que empresas e consumidores evitem contrair novos empréstimos. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que a expansão do crédito desejada pelo governo para estimular o crescimento da economia não está ocorrendo.
Entre os meses de junho e julho, os juros médios praticados pelos bancos caíram de 56,7% ao ano para 54,9%. No mesmo período, o volume de empréstimos concedidos pelas instituições financeiras recuou de R$ 214,7 bilhões para R$ 213,0 bilhões, retomando o mesmo volume registrado em janeiro deste ano.
Esses empréstimos não incluem os financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nem aqueles do Sistema Financeiro da Habitação, além de outros financiamentos cujos juros são controlados pelo governo.
"Como as taxas estão muito altas, as pessoas e as empresas têm preferido reduzir seu endividamento", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O recuo dos juros bancários reflete a recente queda da taxa Selic e as quedas das taxas de juros no mercado futuro. Entre junho e julho, a Selic caiu de 26,5% ao ano para 24,5%. Na semana passada, foi feito um novo corte, de 2,5 pontos percentuais.
Entre as pessoas físicas, os juros cobrados passaram de 81,4% ao ano para 77,9%. Para as empresas, a diminuição foi mais discreta: de 38,6% ao ano, caiu para 37,7%. "As taxas ainda estão altas, é preciso esperar um pouco para que a queda [dos juros] se consolide", afirma Lopes.

Queda insuficiente
Os juros menores, porém, não foram suficientes, pelo menos até o mês passado, para estimular a procura por novos financiamentos. O total de empréstimos contraídos por empresas instaladas no país, por exemplo, caiu R$ 2 bilhões em julho e chegou a R$ 130,2 bilhões. Entre pessoas físicas, houve uma ligeira alta: o saldo subiu R$ 300 milhões e passou para R$ 82,8 bilhões.
Para Lopes, porém, esse aumento do crédito concedido aos consumidores não ocorreu, necessariamente, por vontade própria das pessoas. "As empresas ainda conseguem escapar dos financiamentos. As pessoas físicas, muitas vezes, não têm outra alternativa."
Os juros cobrados das pessoas físicas são mais elevados e, muitas vezes, as obrigam a tomar um novo empréstimo para quitar o antigo. Além disso, por causa de um efeito estatístico, os juros que incidem sobre os empréstimos a cada mês são incorporados ao saldo devedor, fazendo o volume de crédito subir sem que, necessariamente, sejam concedidos novos financiamentos.
A taxa do cheque especial chegou a 173,9% ao ano, mesmo depois da queda de 3,1 pontos percentuais ocorrida no mês passado em relação a junho.
Desde o início do ano, o governo tem tomado várias medidas para estimular a expansão dos empréstimos. Entre elas, o estímulo à abertura de cooperativas de crédito, o direcionamento de mais recursos para operações de microcrédito e a redução do recolhimento compulsório exigido das instituições financeiras.
Com mais dinheiro na economia, os juros poderiam cair, o que estimularia a retomada do crescimento econômico. Até agora, porém, essa intenção do governo não surtiu efeito na prática, pois, mesmo com todos os incentivos oferecidos, os juros cobrados pelos bancos continuam elevados.
O total de empréstimos disponíveis -incluindo aqueles com juros controlados pelo governo- foi de R$ 382,6 bilhões em julho, contra R$ 381,4 bilhões em junho. Do saldo de julho, R$ 83,6 bilhões (22%) referem-se a créditos concedidos pelo BNDES.


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