|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AGRICULTURA
Apoio vem de 16 países
Para o Brasil, OMC deve debater fim de subsídio
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro vai insistir
para que o texto sobre a liberalização do setor agrícola, apresentado
na semana passada por ele próprio e mais 16 países em desenvolvimento, seja levado a debate na
reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio, marcada para Cancún, em setembro.
O texto dos países em desenvolvimento foi praticamente abandonado pelo presidente do Conselho Geral da OMC, o uruguaio
Carlos Pérez del Castillo, em seu
esboço de documento final da
reunião de Cancún.
O Conselho Geral é o organismo que supervisiona todo o amplíssimo leque de temas que está
em negociação na OMC e que serão discutidos pelos ministros,
instância máxima da instituição,
no encontro de Cancún.
Pérez del Castillo preferiu, na
parte de seu esboço relativa à agricultura, acatar praticamente todas as recomendações do documento conjunto Estados Unidos/União Européia.
Houve uma revolta generalizada dos países em desenvolvimento. Agora, já são 20 os que respaldam o texto de que o Brasil foi um
dos principais inspiradores, ao lado da China e da Índia.
Documentos harmônicos
A tese desse grupo de países, exposta ontem em tempestuosa
reunião do Conselho Geral, é a de
que Pérez del Castillo deve tentar
harmonizar os dois documentos
principais sobre agricultura (o
dos EUA/UE e o dos 17 países em
desenvolvimento).
Se não for possível fazer a harmonização, "que mande todos os
textos para Cancún, para a decisão política dos ministros", diz o
embaixador Luiz Felipe de Seixas
Corrêa, chefe da missão brasileira
em Genebra, o QG da OMC.
Só hoje é que Pérez del Castillo
ficou de anunciar sua decisão, entre mandar para Cancún o esboço
que já preparou, retirá-lo, fundi-lo com os outros documentos
agrícolas, ou mandar todos, em
bruto, para a decisão dos ministros.
O que já é certo é que o Brasil
não aceita o texto Pérez del Castillo como único ou o principal. "É
um documento desequilibrado
em favor dos países desenvolvidos, não só em agricultura. Não
permite aglutinar em torno dele
os demais países", afirma o embaixador Clodoaldo Hugueney,
negociador-chefe do Brasil para a
OMC.
O impasse em torno da agricultura é tão intenso que, ontem, a
agência japonesa de notícias Kyodo chegou a informar que a OMC
desistira de fechar o acordo para
liberalizar o comércio agrícola na
reunião de Cancún.
Sempre segundo a Kyodo, haveria uma nova reunião ministerial, extraordinária, em março de
2004 em Genebra, para, aí sim,
buscar o acordo.
Avanços
Não é bem assim. A reunião de
Cancún não é conclusiva nem
marca o encerramento da chamada Rodada Doha, lançada há um
ano e meio na Conferência Ministerial realizada na capital do Qatar.
Portanto, se não houver acordo
em Cancún, a negociação continua até dezembro de 2004, prazo,
este sim definitivo, para encerrar
a Rodada Doha. "O mundo não
acaba em Cancún; a Rodada continua", resume o embaixador Seixas Corrêa.
O que se espera (ou se esperava)
de Cancún é um avanço na área
agrícola suficiente para desbloquear a negociação em todos os
outros itens que compõem a Rodada Doha (serviços, bens não-agrícolas, investimentos, políticas
de concorrência, compras governamentais etc.).
Se não houver avanço em agricultura, o resto fica parado. Para o
Brasil, o avanço na agricultura é
vital, porque se trata da única área
em que pode haver, de imediato,
um salto nas exportações, desde
que o mundo desenvolvido reduza suas barreiras.
Mas, entre observadores neutros consultados pela Folha em
Genebra, começa a haver ceticismo. Teme-se que países como a
Austrália, que sempre estiveram
na linha de frente da liberalização
agrícola, como o Brasil, já estejam
reduzindo suas ambições.
Há quem veja no silêncio recente da Índia um mau sinal. Se for
mesmo um mau sinal, a frente
pró-liberalização agrícola, entre
os países em desenvolvimento, ficaria sob o comando do Brasil, da
China (recém-ingressada na
OMC) e da África do Sul.
Texto Anterior: Em julho, vendas caem 3,89% nos supermercados Próximo Texto: Frase Índice
|