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Turbulência testa empresas que estrearam na Bovespa
Apesar da apreensão, diretores dizem que crise é restrita a mercado de capitais
Período de instabilidade foi causado em boa parte pela falta de experiência dos operadores do mercado, afirmam alguns executivos
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Da primeira crise, a gente
nunca esquece. Pelo menos é o
que dizem alguns diretores de
RI (relações com investidores)
de empresas que abriram capital nos últimos dois anos e, até
este mês, só tinham vivido o
mercado sob céu de brigadeiro.
De olhos colados no monitor
ou simplesmente ignorando a
oscilação dos papéis, os comportamentos variaram nos dias
em que a Bovespa -e as empresas- perderam mais de R$ 200
bilhões em valor de mercado. O
discurso, no entanto, era um só:
as companhias foram a mercado para concretizar planos de
negócios estruturados, devem
crescer na vida real e a crise é
restrita ao mercado de capitais.
"O que compete à companhia
é entregar o que prometeu",
afirma Gustavo Junqueira, diretor financeiro e de RI da
construtora Eztec. "Essa era
uma crise financeira, mas não
dava para ficar completamente
alienado ao que acontecia."
Há menos de dois meses na
Bolsa, a Eztec captou R$ 540
milhões para incorporar prédios residenciais de classe média na capital paulista e em cidades num raio de até 500 quilômetros de distância. Os controladores, que sempre tiveram
em mãos uma empresa familiar, ficaram assustados com a
oscilação. Os papéis caíram
2,3% no dia 14 de agosto, mais
4% no dia 15 e despencaram 9%
no dia 16.
Junqueira, que já tinha enfrentado crises quando era diretor financeiro da Gradiente,
tomou a iniciativa de falar com
seus 20 maiores investidores,
brasileiros e estrangeiros. Na
colocação dos papéis, 70% ficaram com investidores internacionais. "Minha intenção foi
mostrar que, se eles estavam
procurando um porto seguro,
nossa companhia era exatamente esse porto", diz ele.
O resultado talvez não tenha
sido direto, mas os papéis da
empresa deram um salto de
7,7% na terça-feira, 21, e de
9,9% na última sexta, dia 24. A
cotação voltou ao mesmo patamar do dia da oferta pública,
apesar de o Ibovespa ter encolhido. "O mercado é soberano,
mas o relacionamento direto e
transparente sempre ajuda."
Em outras empresas, principalmente as familiares, a primeira crise também deixou
marcas. Diretores de RI evidentemente não gostam de parecer inseguros, mas confessam o frio na espinha nos dias
mais tensos.
Um deles, que pede para não
ser identificado, brincou com o
controlador da companhia no
dia em que viu a rentabilidade
acumulada em oito meses ir
embora em horas, dizendo que
iria para casa tomar uma vodca
e voltava só no dia seguinte.
Outro acordou às 3h para
acompanhar os mercados asiáticos, que poderiam influenciar
o brasileiro naquele dia.
Alguns diretores, no entanto,
disseram que nem sequer deram bola para o movimento de
sobe-e-desce. "Lá eu tenho
tempo para olhar ação despencando 10%, 12% por causa de
movimentos exclusivamente
financeiros?", pergunta Henrique Bastos, gerente de RI da
Dasa. A empresa de medicina
diagnóstica anunciou uma
aquisição em julho, viu os papéis subirem 10% e caírem pouco mais de 4% durante a crise.
Bastos não foi o único a dizer
ter se importado pouco com a
crise. "Ficar olhando a tela é
perder tempo", afirma José Roberto Pacheco, diretor de controladoria e RI da empresa de
planos odontológicos OdontoPrev. "Fui cuidar da vida real."
O solavanco, dizem eles, foi
causado em boa parte pela
inexperiência dos operadores.
"Essa geração é muito preparada, mas não viveu as crises que
afetaram o mundo na década
de 90", afirma Bastos. "Eles jamais viram o "circuit breaker"
[interrupção dos negócios na
bolsa, em caso de fortes oscilações] ser acionado. Sem experiência, os movimentos são
mais exagerados."
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