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Juro baixo é desafio para fundos, diz ex-BC
Para Gustavo Franco, queda da taxa deve fazer com que recursos em fundos DI migrem para outros investimentos, como CDBs
Poupança também deverá deixar de ser a principal fonte de recursos para o financiamento da casa própria, afirma Franco
TONI SCIARRETTA
ENVIADO A CAMPOS DO JORDÃO
A indústria brasileira de fundos e os bancos sofrerão o seu
maior baque quando os juros
brasileiros recuarem para a casa de um dígito, fato largamente aguardado no país e que deve
acontecer no mais tardar até o
fim de 2008, segundo o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco (1997-1999), que
comandou a política monetária
brasileira com taxas de mais de
40% ao ano à época da crise
asiática, em 1997. Hoje a taxa
Selic está em 11,5%.
A mudança, disse Franco, levará a uma completa migração
dos recursos hoje dos fundos
DI, a aplicação financeira mais
popular no Brasil, para investimentos como a poupança, os
CDBs e os fundos multimercados. Levará ainda a uma diminuição das taxas de administração e de tarifas e irá expor os altos impostos incidentes sobre
as aplicações financeiras.
"Sabe-se lá o que vai acontecer. Levamos toda uma geração
para ter uma taxa de juros de
um dígito. E isso agora causará
uma encrenca para os fundos e
o sistema financeiro. O que vai
acontecer quando a Selic [taxa
básica de juros do BC] estiver
em 7%? Descontados impostos
e taxas, a poupança renderá
mais [que os fundos DI]."
Acostumado aos antigos juros do "overnight", com rendimento diário, o investidor brasileiros terá de se acostumar a
retornos baixos e a abrir mão
da liquidez diária dos fundos,
que permite resgates a qualquer momento, disse Franco.
"Os fundos terão de ter liquidez semestral ou anual. Mas o
brasileiro não abre mão da liquidez diária e do rendimento
alto dos juros. O Tesouro emite
papéis mais curtos, que dá menos trabalho. Mas não terá escolha além de alongar o prazo
da dívida pública. Os papéis de
curto prazo são um resquício
da época de inflação" afirmou.
A visão é compartilhado pelo
professor Ney Ottoni Britto, da
UFRJ. Para justificar as altas
taxas de administração, afirma,
os fundos terão de "mostrar
serviço" para os cotistas.
Ele prevê uma mudança estrutural na indústria, com os
fundos deixando de oferecer
produtos massificados, como
os DI, para atender a necessidades mais personalizadas de retorno, risco e liquidez dos cotistas. "Os gestores terão de ouvir
o que o cotista quer e oferecer o
melhor produto para ele."
Poupança
Para o ex-presidente do BC, a
poupança também deverá deixar de ser a principal fonte de
recursos para o financiamento
da casa própria, como acontece
hoje. Franco prevê um rendimento ainda menor da caderneta, possivelmente com o fim
da TR. "Não teria mal nenhum
[em abolir a TR]. É muito baixa,
já está no chão."
Para deslanchar o crédito
imobiliário, que hoje é de apenas 2% do PIB, Franco afirma
que os bancos terão de encontrar novas fontes de captação
além da poupança. "O crédito
imobiliário depende da capacidade de o sistema bancário de
captar recursos mais longos. A
[captação da] poupança representa um teto para o financiamento imobiliário no país. Para
crescer, o crédito imobiliário
deve ser desamarrado."
Ele defende que as instituições financeiras busquem esse
dinheiro com os investidores
com interesse em tomar o chamado risco imobiliário, que
surgirão quando os juros recuarem para menos de 10% ao ano.
Franco citou instrumentos
alternativos de captação, como
as letras hipotecárias, os fundos imobiliários e os de recebíveis de prestações das construtoras, que já começam a aparecer no Brasil, como aconteceu
no México e no Chile.
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