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LUÍS NASSIF
O BC e o dólar
A posição do Banco Central
para combater a especulação cambial é semelhante à do
governo norte-americano contra
o terrorismo: não se trata de
uma batalha final a cada dia,
mas de uma guerra longa, que
deve ser ataca em várias frentes.
A sugestão de alguns economistas, de que o BC passasse a
tentar interferir no câmbio
atuando no mercado de opções,
não é bem-vista. A estratégia visaria diminuir o crescimento da
dívida pública substituindo a
emissão de títulos cambiais. A
idéia é que o custo fiscal seria
minimizado, porque, dispondo
de mais informações que o mercado, o BC poderia ter até lucros
nas operações, reduzindo a volatilidade do dólar.
O BC é contra devido aos seguintes argumentos:
1) na opinião da diretoria,
quanto mais exótico o instrumento de interferência no mercado de câmbio, mais caro. Como são poucos os agentes econômicos que podem comprar esses
títulos, o BC teria muito menos
espaço para baratear suas intervenções. E cada definição do preço da opção seria considerada
como teto pelo mercado, dificultando a precificação da moeda;
2) título cambial de prazo curto é de seis a oito meses. Derivativo curto é de um mês, às vezes
menos que isso. Cada vencimento de opções provocaria estresse
no mercado;
3) vendendo título cambial, o
governo tira caixa do sistema,
reduzindo a margem de manobra para especulações. O mesmo
não ocorre com as opções;
4) as operações com títulos
cambiais são visíveis, simples e
todo mundo vê, o que facilita a
sinalização do mercado. Já os
mercados de derivativos operam
com duas variáveis de risco:
câmbio e taxas de juros. Nas
operações de contrato a termo,
vende-se dólar mais um cupom
cambial contra uma taxa de juros. Quem comprar estará aplicado em taxas prefixadas. Se as
taxas caírem, ele perde. O BC teria que dar dois sinais ao mesmo
tempo -câmbio e juros. Quando isso ocorre, os agentes não entendem nada. Se for muito sutil,
ninguém vê, e quem vê só pega o
lado negativo.
Por isso, o BC diz não tratar o
mercado de derivativos como
questão religiosa. Mas não veria
vantagens na sua utilização para conter a especulação cambial.
Ainda o SPB
Na coluna de terça, apresentei
parte dos argumentos do BC
-por meio do diretor de Política Monetária, Luiz Fernando Figueiredo- em defesa do Sistema de Pagamentos Brasileiros
(SPB), que visa informatizar e
transformar em tempo real a
maioria das operações bancárias. Por falta de espaço, faltaram alguns argumentos, rebatendo as principais críticas ao
sistema.
1) O SPB inibiria o uso do cheque e da compensação bancária.
Ou seja, a empresa poder emitir
cheques hoje com base no cálculo presumido da cobrança que
entrará no dia seguinte.
Luiz Fernando contesta. Qualquer transferência de fundos de
um banco para o outro, ou de recebimento, provoca a perda de
um dia no "float" das empresas.
É o banco que decide quem pode
sacar por conta. E, em geral, autoriza apenas os grandes clientes. Com o SPB, clientes pequenos terão duas formas de disponibilizar dinheiro no próprio
dia. Uma delas é mandar em
tempo real o dinheiro, que ficará
disponível na hora. A segunda
forma é a transferência no final
do dia. Ou seja, o dinheiro passa
a ser muito mais do correntista
do que era antes.
2) O SPB irá reduzir a liquidez,
ao enxugar todo o dinheiro "intraday" (as operações que podem ser feitas com base na compensação do dia seguinte).
Segundo ele, um enorme colchão de liquidez será dado aos
bancos logo cedo. O volume de
risco ao longo do dia é de R$ 6 bilhões. Só de compulsório que terão de liquidez, liberado pelas
novas regras, serão R$ 30 bilhões. Toda carteira de títulos
públicos estará liberada. A única
diferença é que o BC não mais
assumirá o risco das operações
interbancárias.
Segundo ele, não há hipótese
de o mercado ser menos competitivo. No momento, não há clareza nas regras entre bancos e
clientes, reduzindo o custo oculto, as cobranças indiretas. Agora
tudo será explicitado, segundo
Luiz Fernando, especialmente as
obrigações bancárias.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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