São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

O BC e o dólar

A posição do Banco Central para combater a especulação cambial é semelhante à do governo norte-americano contra o terrorismo: não se trata de uma batalha final a cada dia, mas de uma guerra longa, que deve ser ataca em várias frentes.
A sugestão de alguns economistas, de que o BC passasse a tentar interferir no câmbio atuando no mercado de opções, não é bem-vista. A estratégia visaria diminuir o crescimento da dívida pública substituindo a emissão de títulos cambiais. A idéia é que o custo fiscal seria minimizado, porque, dispondo de mais informações que o mercado, o BC poderia ter até lucros nas operações, reduzindo a volatilidade do dólar.
O BC é contra devido aos seguintes argumentos:
1) na opinião da diretoria, quanto mais exótico o instrumento de interferência no mercado de câmbio, mais caro. Como são poucos os agentes econômicos que podem comprar esses títulos, o BC teria muito menos espaço para baratear suas intervenções. E cada definição do preço da opção seria considerada como teto pelo mercado, dificultando a precificação da moeda;
2) título cambial de prazo curto é de seis a oito meses. Derivativo curto é de um mês, às vezes menos que isso. Cada vencimento de opções provocaria estresse no mercado;
3) vendendo título cambial, o governo tira caixa do sistema, reduzindo a margem de manobra para especulações. O mesmo não ocorre com as opções;
4) as operações com títulos cambiais são visíveis, simples e todo mundo vê, o que facilita a sinalização do mercado. Já os mercados de derivativos operam com duas variáveis de risco: câmbio e taxas de juros. Nas operações de contrato a termo, vende-se dólar mais um cupom cambial contra uma taxa de juros. Quem comprar estará aplicado em taxas prefixadas. Se as taxas caírem, ele perde. O BC teria que dar dois sinais ao mesmo tempo -câmbio e juros. Quando isso ocorre, os agentes não entendem nada. Se for muito sutil, ninguém vê, e quem vê só pega o lado negativo.
Por isso, o BC diz não tratar o mercado de derivativos como questão religiosa. Mas não veria vantagens na sua utilização para conter a especulação cambial.

Ainda o SPB
Na coluna de terça, apresentei parte dos argumentos do BC -por meio do diretor de Política Monetária, Luiz Fernando Figueiredo- em defesa do Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB), que visa informatizar e transformar em tempo real a maioria das operações bancárias. Por falta de espaço, faltaram alguns argumentos, rebatendo as principais críticas ao sistema.
1) O SPB inibiria o uso do cheque e da compensação bancária. Ou seja, a empresa poder emitir cheques hoje com base no cálculo presumido da cobrança que entrará no dia seguinte.
Luiz Fernando contesta. Qualquer transferência de fundos de um banco para o outro, ou de recebimento, provoca a perda de um dia no "float" das empresas. É o banco que decide quem pode sacar por conta. E, em geral, autoriza apenas os grandes clientes. Com o SPB, clientes pequenos terão duas formas de disponibilizar dinheiro no próprio dia. Uma delas é mandar em tempo real o dinheiro, que ficará disponível na hora. A segunda forma é a transferência no final do dia. Ou seja, o dinheiro passa a ser muito mais do correntista do que era antes.
2) O SPB irá reduzir a liquidez, ao enxugar todo o dinheiro "intraday" (as operações que podem ser feitas com base na compensação do dia seguinte).
Segundo ele, um enorme colchão de liquidez será dado aos bancos logo cedo. O volume de risco ao longo do dia é de R$ 6 bilhões. Só de compulsório que terão de liquidez, liberado pelas novas regras, serão R$ 30 bilhões. Toda carteira de títulos públicos estará liberada. A única diferença é que o BC não mais assumirá o risco das operações interbancárias.
Segundo ele, não há hipótese de o mercado ser menos competitivo. No momento, não há clareza nas regras entre bancos e clientes, reduzindo o custo oculto, as cobranças indiretas. Agora tudo será explicitado, segundo Luiz Fernando, especialmente as obrigações bancárias.


Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Contas públicas: Economia para pagar juros já supera meta
Próximo Texto: Pós-atentado: Agências vêem país com pessimismo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.