São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Incerteza eleitoral volta a provocar alta; 70% dos títulos cambiais que vencem na terça serão rolados, diz o BC

Dólar tem nova subida e fecha a R$ 3,76

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar subiu 2,65% ontem e fechou a R$ 3,76. Apenas nesta semana, a alta acumulada da moeda americana é de 10,4%.
A disparada do dólar é atribuída a uma reacomodação de preços no mercado financeiro. O ajuste seria necessário, segundo operadores, para a incorporação da possibilidade de o candidato de oposição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer as eleições presidenciais no primeiro turno. A hipótese passou a ser fortemente considerada após pesquisa Datafolha, divulgada no fim de semana.
Somada à incerteza política, alguns eventos técnicos do mercado pressionam a cotação. Na terça-feira, há o vencimento de US$ 1,25 bilhão em títulos cambiais. O governo iniciará hoje a rolagem de 70% desse total.
O mercado tem dúvidas se a operação terá sucesso. Nesta semana, o Banco Central recomprou dívida pública atrelada ao dólar e explicou que tomou a medida devido à falta de demanda por "hedge" (proteção cambial).
Como o mercado já sabe que a totalidade dos papéis não será renovada, os bancos tentam pressionar a cotação da moeda norte-americana para elevar seus ganhos na hora da liquidação dos títulos. Por isso, o dólar deve seguir em alta nos próximos dois dias.
Segunda-feira também é o último dia útil do mês, quando há disputa entre "comprados" (que apostam na alta das cotações) e "vendidos" (que apostam na queda) no mercado futuro. O Ptax (preço médio do dólar apurado diariamente pelo BC) desse dia baliza o vencimento de operações do mercado futuro. Os investidores buscam, assim, adequar a cotação da melhor maneira para as suas posições.
"Não houve notícias hoje no mercado, só movimentações técnicas", avalia Clive Botelho, do banco Santos. "O fato de o fechamento do Ptax de segunda balizar o vencimento dos cambiais e o ser o indicador do final do mês amplia a pressão sobre o dólar."
O dólar bateu em R$ 3,80 ontem, na máxima de alta do dia, de 3,7%. Neste momento, corria entre as mesas de operação boatos sobre nova pesquisa Datafolha. O rumor era que a sondagem mostraria nova subida de Lula. A pesquisa, no entanto, só será concluída no final da tarde de hoje.
"O mercado sempre antecipa, para o bem ou para o mal, para o certo ou para o errado", afirma José Costa Gonçalves, sócio da Multistock corretora. "As decisões têm de ser tomadas de imediato, em segundos, pois é nessa velocidade que os boatos correm. Primeiro o mercado age, depois pára para pensar sobre a veracidade das informações."
Além de todos esses eventos, na semana que vem também ocorrerá o vencimento de US$ 350 milhões em linhas externas. O BC informou ontem que iniciará a rolagem das linhas com um leilão de US$ 150 milhões amanhã. Mas o BC informou também que, se não houver demanda para a renovação das linhas até a segunda-feira, encerrará as operações, o que equivale dizer que venderá dólares no mercado à vista, além de sua intervenção habitual.
Além do setor público, dívidas do setor privado são um outro fator de pressão sobre o dólar. As empresas e os bancos que têm dívida externa vencendo nos próximos meses continuam adiantando a compra de dólares para quitarem suas dívidas.
Em períodos de normalidade, parte desses empréstimos seria repactuado. Como as linhas externas para o Brasil secaram, a maioria dos dirigentes de empresas e bancos não vê outra saída a não ser comprar dólar e quitar a dívida no vencimento. O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Votorantim, é um deles. Em outubro vence um empréstimo de US$ 175 milhões do banco do grupo, que será quitado integralmente. "Temos os recursos. Devido à turbulência é até melhor se livrar de uma dívida em dólar", disse Moraes.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e Isabel Campos, da Reportagem Local


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