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EM TRANSE
Incerteza eleitoral volta a provocar alta; 70% dos títulos cambiais que vencem na terça serão rolados, diz o BC
Dólar tem nova subida e fecha a R$ 3,76
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar subiu 2,65% ontem e fechou a R$ 3,76. Apenas nesta semana, a alta acumulada da moeda
americana é de 10,4%.
A disparada do dólar é atribuída
a uma reacomodação de preços
no mercado financeiro. O ajuste
seria necessário, segundo operadores, para a incorporação da
possibilidade de o candidato de
oposição Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) vencer as eleições presidenciais no primeiro turno. A hipótese passou a ser fortemente considerada após pesquisa Datafolha,
divulgada no fim de semana.
Somada à incerteza política, alguns eventos técnicos do mercado pressionam a cotação. Na terça-feira, há o vencimento de US$
1,25 bilhão em títulos cambiais. O
governo iniciará hoje a rolagem
de 70% desse total.
O mercado tem dúvidas se a
operação terá sucesso. Nesta semana, o Banco Central recomprou dívida pública atrelada ao
dólar e explicou que tomou a medida devido à falta de demanda
por "hedge" (proteção cambial).
Como o mercado já sabe que a
totalidade dos papéis não será renovada, os bancos tentam pressionar a cotação da moeda norte-americana para elevar seus ganhos na hora da liquidação dos títulos. Por isso, o dólar deve seguir
em alta nos próximos dois dias.
Segunda-feira também é o último dia útil do mês, quando há
disputa entre "comprados" (que
apostam na alta das cotações) e
"vendidos" (que apostam na queda) no mercado futuro. O Ptax
(preço médio do dólar apurado
diariamente pelo BC) desse dia
baliza o vencimento de operações
do mercado futuro. Os investidores buscam, assim, adequar a cotação da melhor maneira para as
suas posições.
"Não houve notícias hoje no
mercado, só movimentações técnicas", avalia Clive Botelho, do
banco Santos. "O fato de o fechamento do Ptax de segunda balizar
o vencimento dos cambiais e o ser
o indicador do final do mês amplia a pressão sobre o dólar."
O dólar bateu em R$ 3,80 ontem, na máxima de alta do dia, de
3,7%. Neste momento, corria entre as mesas de operação boatos
sobre nova pesquisa Datafolha. O
rumor era que a sondagem mostraria nova subida de Lula. A pesquisa, no entanto, só será concluída no final da tarde de hoje.
"O mercado sempre antecipa,
para o bem ou para o mal, para o
certo ou para o errado", afirma
José Costa Gonçalves, sócio da
Multistock corretora. "As decisões têm de ser tomadas de imediato, em segundos, pois é nessa
velocidade que os boatos correm.
Primeiro o mercado age, depois
pára para pensar sobre a veracidade das informações."
Além de todos esses eventos, na
semana que vem também ocorrerá o vencimento de US$ 350 milhões em linhas externas. O BC informou ontem que iniciará a rolagem das linhas com um leilão de
US$ 150 milhões amanhã. Mas o
BC informou também que, se não
houver demanda para a renovação das linhas até a segunda-feira,
encerrará as operações, o que
equivale dizer que venderá dólares no mercado à vista, além de
sua intervenção habitual.
Além do setor público, dívidas
do setor privado são um outro fator de pressão sobre o dólar. As
empresas e os bancos que têm dívida externa vencendo nos próximos meses continuam adiantando a compra de dólares para quitarem suas dívidas.
Em períodos de normalidade,
parte desses empréstimos seria
repactuado. Como as linhas externas para o Brasil secaram, a
maioria dos dirigentes de empresas e bancos não vê outra saída a
não ser comprar dólar e quitar a
dívida no vencimento. O empresário Antônio Ermírio de Moraes,
presidente do Votorantim, é um
deles. Em outubro vence um empréstimo de US$ 175 milhões do
banco do grupo, que será quitado
integralmente. "Temos os recursos. Devido à turbulência é até
melhor se livrar de uma dívida em
dólar", disse Moraes.
Colaboraram a Sucursal de Brasília
e Isabel Campos, da Reportagem Local
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