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SP quer que os Correios recolham ICMS
Estatal diz que não tem de pagar imposto porque Constituição lhe garante "imunidade'; empresas de entregas veem concorrência desleal
Correios afirmam que discussão para derrubar autuação será feita na Justiça; Secretaria da Fazenda não se pronuncia
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria da Fazenda do
Estado de São Paulo cobra da
Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos (ECT) o pagamento de cerca de R$ 2 bilhões, devido ao não recolhimento de
ICMS no transporte de cargas.
Esse valor, o maior já cobrado pelo fisco paulista de um
contribuinte, se refere a dois
autos de infração mais correções e multas, o que representa
17% do faturamento dos Correios (R$ 11,5 bilhões) em 2008.
Um dos autos é de R$ 645,35
milhões -valor atualizado até
fevereiro de 2008, segundo os
Correios. O outro é de R$
224,47 milhões. Somados, os
dois autos chegam a R$ 2 bilhões. Eles já foram discutidos
e mantidos no TIT (Tribunal de
Impostos e Taxas), instância
administrativa da Fazenda
paulista, e serão analisados pela Justiça, segundo os Correios.
O fisco entende que os Correios devem pagar ICMS no
transporte de mercadorias (assim como pagam as empresas
concorrentes) e que, ao não recolherem o imposto, criam
concorrência desleal.
A ECT entende que, sendo o
serviço postal um serviço público conferido exclusivamente
à União, não tem de pagar imposto porque tem "imunidade
recíproca", como prevê a Constituição. Cita o inciso 6º do artigo 150, que estabelece que
União, Estados e municípios
estão proibidos de instituir impostos sobre patrimônio, renda
ou serviços uns dos outros.
Além dos dois autos, os Correios informam que há outros
em discussão em São Paulo e
outros Estados e que o pagamento ou não de tributos será
decidido pela Justiça.
Empresas de transporte de
cargas expressas (de até 30 quilos) e advogados tributaristas
defendem que a ECT deve pagar ICMS e outros impostos.
Antônio Silvio Juliani, diretor do setor de cargas expressas
do Sindicato dos Transportadores de Carga de São Paulo e
Região, afirma que os cerca de
cem associados que transportam pacotes de até 30 quilos sofrem concorrência desleal.
Os preços das entregas feitas
pelos Correios, diz, são de 10%
a 20%, em média, inferiores aos
das empresas privadas. E há casos de preços até 50% menores.
"Os Correios não pagam nenhum dos tributos a que estão
sujeitas as empresas privadas,
como Imposto de Importação,
IPVA, IPTU, PIS, Cofins, ICMS
e ISS. Usam todos esses benefícios para competir num mercado mercantil, com empresas
privadas, que pagam todos os
impostos e estão sujeitas às restrições de circulação de veículos. Isso está errado", diz.
Fábio Noronha, diretor-executivo da AEG Courier do Brasil, diz que o setor enfrenta uma
briga entre "Davi e Golias" e
que é preciso regulamentar o
mercado de entregas expressas.
Projeto de lei que está na Câmara dos Deputados estabelece
normas para distribuição de
encomendas e propõe o fim do
monopólio da União no transporte e na entrega de cartas.
"Entrega de carta é uma atividade, e transporte de carga é
outra. Em qualquer entrega de
encomenda tem de incidir imposto, como prevê a Constituição", diz o advogado tributarista Alcides Jorge Costa.
O consultor Clóvis Panzarini
diz que "os autos de infração
são legítimos porque a Constituição estabelece [parágrafo 2º
do artigo 173] que as empresas
públicas e as de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais que não são extensivos às do setor privado."
Até entre os sindicalistas, o
não pagamento de ICMS é criticado. "Se não pagam impostos, há um motivo a mais para
investirem em melhores salários", diz Emerson da Silva, sindicalista que integra o comando de negociação dos Correios.
A Secretaria da Fazenda não
comentou o assunto.
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