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OHL pode perder obra de trem espanhol
Por causa de falhas em construção, governo prepara rescisão de contrato com empresa, que levou concessões de estradas no Brasil
Num período de 10 dias, houve 6 acidentes em trecho de trem-bala entre Madri e Barcelona; empresa afirma que a obra é "complexa"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O governo espanhol está se
preparando para rescindir o
contrato com a construtora
OHL -a mesma que ganhou,
no Brasil, a concessão de cinco
dos sete trechos rodoviários federais licitados pelo governo
Lula- por causa de sucessivos
problemas na obra que a companhia executa em Barcelona
(um trecho de 1,1 km da linha
de alta velocidade que ligará
Madri a Barcelona).
A informação foi dada pelo
site eletrônico do jornal "El
País", o principal da Espanha,
que chega até a anunciar a empresa que substituiria a OHL.
Seria a Sacyr Vallehermoso.
O anúncio da eventual rescisão se dá após o sexto incidente
em dez dias envolvendo o trecho a cargo da OHL. Em geral,
são pequenos desabamentos,
como o de ontem pela manhã,
que afetou dez metros da estação de Bellvitge, sempre em
Barcelona.
Embora pequenos, os incidentes causam imensos problemas porque forçam a paralisação de algumas linhas dos
trens que os espanhóis chamam de "cercanias", ou seja,
trens de subúrbio que transportam 62 mil pessoas todos os
dias. Sem trens, tanto os serviços de metrô como as entradas
rodoviárias de Barcelona ficam
congestionados.
As maiores críticas à OHL
partem, como é natural, das autoridades locais, como é o caso
de Manel Nadal, secretário de
Mobilidade da Generalitat (o
governo da Catalunha). "Os
responsáveis da OHL não podem declarar, como o fizeram,
que o que está ocorrendo é normal", reclama.
Na quarta-feira, a vice-presidente do governo, María Teresa Fernández de la Vega, havia
dito à Folha que não era o caso
de "demonizar a empresa, que
é muito competente". Para ela,
os incidentes se devem à complexidade da obra, o mesmo argumento utilizado pela OHL.
De fato, o trecho que está
causando problemas é complicado: são três túneis, à entrada
de Barcelona, um sobre o outro.
Mas, ontem, De La Vega não
citou a empresa, ao comentar
os novos incidentes. Limitou-se a dizer o óbvio: "A rapidez
[para restabelecer o tráfego dos
trens de subúrbio] é muito importante, mas deve prevalecer
a segurança, acima de tudo".
A segurança, aliás, não é um
problema apenas das estações
e linhas do trem-bala ou dos
subúrbios. Ontem, a TV espanhola mostrou casas nas imediações da obra com brechas
razoáveis. Um dos moradores
contou que, há pouco tempo,
testava as brechas introduzindo o cartão de crédito no pedaço afetado. Depois, passou a
enfiar o isqueiro. Agora, a mão
inteira.
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a convite da
Fundação Carolina, do governo espanhol, cofinanciada pelas principais empresas do país.
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