São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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OHL pode perder obra de trem espanhol

Por causa de falhas em construção, governo prepara rescisão de contrato com empresa, que levou concessões de estradas no Brasil

Num período de 10 dias, houve 6 acidentes em trecho de trem-bala entre Madri e Barcelona; empresa afirma que a obra é "complexa"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O governo espanhol está se preparando para rescindir o contrato com a construtora OHL -a mesma que ganhou, no Brasil, a concessão de cinco dos sete trechos rodoviários federais licitados pelo governo Lula- por causa de sucessivos problemas na obra que a companhia executa em Barcelona (um trecho de 1,1 km da linha de alta velocidade que ligará Madri a Barcelona).
A informação foi dada pelo site eletrônico do jornal "El País", o principal da Espanha, que chega até a anunciar a empresa que substituiria a OHL. Seria a Sacyr Vallehermoso.
O anúncio da eventual rescisão se dá após o sexto incidente em dez dias envolvendo o trecho a cargo da OHL. Em geral, são pequenos desabamentos, como o de ontem pela manhã, que afetou dez metros da estação de Bellvitge, sempre em Barcelona.
Embora pequenos, os incidentes causam imensos problemas porque forçam a paralisação de algumas linhas dos trens que os espanhóis chamam de "cercanias", ou seja, trens de subúrbio que transportam 62 mil pessoas todos os dias. Sem trens, tanto os serviços de metrô como as entradas rodoviárias de Barcelona ficam congestionados.
As maiores críticas à OHL partem, como é natural, das autoridades locais, como é o caso de Manel Nadal, secretário de Mobilidade da Generalitat (o governo da Catalunha). "Os responsáveis da OHL não podem declarar, como o fizeram, que o que está ocorrendo é normal", reclama.
Na quarta-feira, a vice-presidente do governo, María Teresa Fernández de la Vega, havia dito à Folha que não era o caso de "demonizar a empresa, que é muito competente". Para ela, os incidentes se devem à complexidade da obra, o mesmo argumento utilizado pela OHL.
De fato, o trecho que está causando problemas é complicado: são três túneis, à entrada de Barcelona, um sobre o outro. Mas, ontem, De La Vega não citou a empresa, ao comentar os novos incidentes. Limitou-se a dizer o óbvio: "A rapidez [para restabelecer o tráfego dos trens de subúrbio] é muito importante, mas deve prevalecer a segurança, acima de tudo".
A segurança, aliás, não é um problema apenas das estações e linhas do trem-bala ou dos subúrbios. Ontem, a TV espanhola mostrou casas nas imediações da obra com brechas razoáveis. Um dos moradores contou que, há pouco tempo, testava as brechas introduzindo o cartão de crédito no pedaço afetado. Depois, passou a enfiar o isqueiro. Agora, a mão inteira.


O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a convite da Fundação Carolina, do governo espanhol, cofinanciada pelas principais empresas do país.


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