São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Crise afeta mineração e gás na Bolívia

Principais fontes de divisas sofrem abalos; país ainda terá de enfrentar fim de preferência tarifária para exportar aos EUA

Entre as preocupações está o zinco, cujos preços caíram mais da metade em questão de semanas; produto é o segundo mais exportado

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A crise financeira mundial já provocou a paralisação do trabalho de 10 mil mineiros na Bolívia e deve gerar estragos na exportação de gás natural e nas remessas enviadas por imigrantes, as principais fontes de divisas do país mais pobre da América do Sul.
Além das agruras de cunho econômico, ainda terá de enfrentar o iminente fim das preferências tarifárias nas exportações aos Estados Unidos.
O tema mais urgente é o da mineração, o zinco, cujos preços despencaram em mais da metade em poucas semanas. Na sexta-feira, Morales decretou estado de emergência na atividade, criando um fundo de US$ 5 milhões para financiar os pequenos produtores.
Na quinta, a estatal Corporação Mineira da Bolívia informou que 10 mil dos 33 mil trabalhadores do setor já paralisaram o trabalho no altiplano.
Os ingressos vindos dos três minérios mais importantes para a Bolívia -zinco, prata e estanho- cresceram 30% no ano passado, chegando a US$ 1,39 bilhão -um terço das exportações, segundo dados oficiais.
O bom resultado não deve se repetir neste ano. No caso do zinco, o segundo produto boliviano mais exportado depois do gás natural, o preço chegou a US$ 1,51 por libra fina no ano passado, mas fechou a apenas US$ 0,48 na sexta-feira.
A médio prazo, a principal preocupação é o preço do gás vendido ao Brasil e Argentina, a principal fonte de recursos do Estado boliviano. O reajuste trimestral é calculado, em parte, pelo preço do petróleo.
Uma estimativa do especialista em gás Carlos Miranda baseado num petróleo a US$ 50 o barril prevê que o preço cairá a cerca de metade dos atuais US$ 8,34 por milhão de BTU (British Termal Unit, medida de energia) a partir de abril. Com isso, diz, a arrecadação do ano que vem cairá da previsão oficial de US$ 2 bilhões para cerca de US$ 1,35 bilhão.
Já a terceira fonte de entrada de divisas, as remessas dos cerca de 2,5 milhões de bolivianos no exterior, que neste ano devem chegar a US$ 1 bilhão, tende a diminuir devido à desaceleração das economias americana, espanhola e argentina.
"Isso afetará tanto a entrada de dinheiro quanto a oferta de trabalho. Muita gente deverá voltar à Bolívia, pressionando o mercado de trabalho interno", diz o economista Gonzalo Chávez, da Universidade Católica Boliviana, em La Paz.
Finalmente, a Bolívia provavelmente perderá os incentivos fiscais para a exportação de produtos como móveis, têxteis e jóias aos Estados Unidos depois que Morales expulsou o embaixador dos EUA e encerrou a ajuda americana no combate à cocaína na região do Chapare. A medida precisa ser ratificada pelo Congresso e pode afetar até 20 mil empregos.
"É um impacto importante pela quantidade de empregos que gera", disse Chávez. "A Bolívia é um país muito pouco industrializado, e as fábricas que exportam aos EUA estão em El Alto (grande La Paz), uma das regiões mais pobres do país."


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