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Crise afeta mineração e gás na Bolívia
Principais fontes de divisas sofrem abalos; país ainda terá de enfrentar fim de preferência tarifária para exportar aos EUA
Entre as preocupações está o zinco, cujos preços caíram mais da metade em questão de semanas; produto é o segundo mais exportado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A crise financeira mundial já
provocou a paralisação do trabalho de 10 mil mineiros na Bolívia e deve gerar estragos na
exportação de gás natural e nas
remessas enviadas por imigrantes, as principais fontes de
divisas do país mais pobre da
América do Sul.
Além das agruras de cunho
econômico, ainda terá de enfrentar o iminente fim das preferências tarifárias nas exportações aos Estados Unidos.
O tema mais urgente é o da
mineração, o zinco, cujos preços despencaram em mais da
metade em poucas semanas.
Na sexta-feira, Morales decretou estado de emergência na
atividade, criando um fundo de
US$ 5 milhões para financiar os
pequenos produtores.
Na quinta, a estatal Corporação Mineira da Bolívia informou que 10 mil dos 33 mil trabalhadores do setor já paralisaram o trabalho no altiplano.
Os ingressos vindos dos três
minérios mais importantes para a Bolívia -zinco, prata e estanho- cresceram 30% no ano
passado, chegando a US$ 1,39
bilhão -um terço das exportações, segundo dados oficiais.
O bom resultado não deve se
repetir neste ano. No caso do
zinco, o segundo produto boliviano mais exportado depois do
gás natural, o preço chegou a
US$ 1,51 por libra fina no ano
passado, mas fechou a apenas
US$ 0,48 na sexta-feira.
A médio prazo, a principal
preocupação é o preço do gás
vendido ao Brasil e Argentina, a
principal fonte de recursos do
Estado boliviano. O reajuste
trimestral é calculado, em parte, pelo preço do petróleo.
Uma estimativa do especialista em gás Carlos Miranda baseado num petróleo a US$ 50 o
barril prevê que o preço cairá a
cerca de metade dos atuais US$
8,34 por milhão de BTU (British Termal Unit, medida de
energia) a partir de abril. Com
isso, diz, a arrecadação do ano
que vem cairá da previsão oficial de US$ 2 bilhões para cerca
de US$ 1,35 bilhão.
Já a terceira fonte de entrada
de divisas, as remessas dos cerca de 2,5 milhões de bolivianos
no exterior, que neste ano devem chegar a US$ 1 bilhão, tende a diminuir devido à desaceleração das economias americana, espanhola e argentina.
"Isso afetará tanto a entrada
de dinheiro quanto a oferta de
trabalho. Muita gente deverá
voltar à Bolívia, pressionando o
mercado de trabalho interno",
diz o economista Gonzalo Chávez, da Universidade Católica
Boliviana, em La Paz.
Finalmente, a Bolívia provavelmente perderá os incentivos
fiscais para a exportação de
produtos como móveis, têxteis
e jóias aos Estados Unidos depois que Morales expulsou o
embaixador dos EUA e encerrou a ajuda americana no combate à cocaína na região do
Chapare. A medida precisa ser
ratificada pelo Congresso e pode afetar até 20 mil empregos.
"É um impacto importante
pela quantidade de empregos
que gera", disse Chávez. "A Bolívia é um país muito pouco industrializado, e as fábricas que
exportam aos EUA estão em El
Alto (grande La Paz), uma das
regiões mais pobres do país."
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