São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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LUÍS NASSIF

Uma proposta de comércio exterior

A campanha eleitoral deste ano foi pródiga em novas idéias e conceitos para a economia. Uma das contribuições mais relevantes foi a do programa de comércio exterior do candidato José Serra (PSDB), preparado por Gabriel Colo, ex-jesuíta, especialista em comércio exterior. Seu paper "Como duplicar as exportações em alguns anos" poderá servir de subsídios para uma futura política do governo Lula para o setor.
O primeiro passo, diz Colo, é conhecer o mercado do lado da oferta. Todos os estudos sobre o setor analisam a competitividade interna, mas qual a verdadeira demanda potencial dos mercados externos, especialmente dos EUA, União Européia e Japão? O salto exportador depende das condições atuais de comércio, não de negociações multilaterais, que terão influência somente no médio prazo.
Outra conclusão é que as multinacionais terão um peso relevante nesse desafio. Em todos os continentes analisados, as multinacionais só tinham balança comercial positiva com o país das respectivas matrizes.
Para que o salto exportador ocorra em prazo curto, é importante uma opção rápida por paradigmas de países bem-sucedidos. O exemplo a ser seguido é o dos tigres asiáticos, de sucesso em prazo relativamente curto.
Colo considera simplificado o discurso que reduz a política de comércio exterior apenas à promoção de exportações e à substituição de importações. Sugere um terceiro conceito, a substituição de exportações. O Brasil tem produtos competitivos, mas sujeitos a barreiras pelos países do Norte. Em vez de o país se limitar a lutar pela quebra das barreiras, é mais útil trabalhar em cima de produtos menos sujeitos a barreiras, como ocorreu com os tigres asiáticos.
Para isso, três instituições seriam fundamentais:
1) External Trade Development Organization (ETDO): o braço armado dos tigres no exterior. Esses fundos provêm do governo, mas dois terços dos diretores são do setor privado. O maior investimento desses fundos foi em pesquisa no exterior, para identificar produtos nos quais os tigres pudessem ser competitivos.
Um órgão desse tipo no Brasil teria as seguintes missões:
  dentre os itens produzidos pelo atual parque industrial, determinar quais seriam exportáveis com maiores ou menores adaptações;
  identificar produtos a serem fabricados exclusivamente para os mercados externos;
  conceber estratégias heterodoxas (por exemplo, comprar um dos fabricantes mundiais de chips).
2) Centro de Inteligência Empresarial (CIE): um "think-tank" constituído por cerca de 30 empresários que formulem um modelo especificamente brasileiro de inserção voluntarista do país nos mercados internacionais. Eles seriam os responsáveis pela adaptação dos modelos asiáticos ao caso brasileiro; e se beneficiariam igualmente dos dados fornecidos pelo ETDO. O Centro faria a interface entre o público e o privado, e seu ponto central de atuação seria criar um modelo estratégico original e diferenciado dos concorrentes.
3) Banco Brasileiro de Comércio Exterior ou Eximbank: seu papel seria financiar a infância das exportações brasileiras, mas também cooptar as melhores cabeças financeiras, a fim de se tornar um centro de criatividade de novas engenharias financeiras a serviço do comércio exterior.
Colo considera imperativo que o Brasil conclua uma aliança estratégica prioritária, da mesma maneira que o México fez com os Estados Unidos. Uma alternativa seria procurar a União Européia, criando "cumplicidades" industriais e agrícolas.
A promoção comercial será peça fundamental do modelo. Além das embaixadas, ele propõe a criação de agências da ETDO no exterior, com especialistas em comércio exterior contratados no mercado e com a obrigação de permanecer dez anos no posto. Alternativamente poderiam ser contratados executivos locais com experiência comercial comprovada em seus respectivos países.
Nos grandes pólos econômicos seriam criados os "Council of Brazilian Export Promotion", que contrataria ex-altos executivos comerciais de grandes grupos empresariais, transformando-os em consultores permanentes das empresas brasileiras.
Um eventual Ministério do Comércio Exterior teria sob seu comando a ETDO para formular políticas de substituição de importações; seria tutor do Eximbank e a interface do Centro de Inteligência Empresarial.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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