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LUÍS NASSIF
Uma proposta de comércio exterior
A campanha eleitoral deste
ano foi pródiga em novas
idéias e conceitos para a economia. Uma das contribuições mais
relevantes foi a do programa de
comércio exterior do candidato
José Serra (PSDB), preparado por
Gabriel Colo, ex-jesuíta, especialista em comércio exterior. Seu
paper "Como duplicar as exportações em alguns anos" poderá
servir de subsídios para uma futura política do governo Lula para o setor.
O primeiro passo, diz Colo, é conhecer o mercado do lado da oferta. Todos os estudos sobre o setor
analisam a competitividade interna, mas qual a verdadeira demanda potencial dos mercados
externos, especialmente dos EUA,
União Européia e Japão? O salto
exportador depende das condições atuais de comércio, não de
negociações multilaterais, que terão influência somente no médio
prazo.
Outra conclusão é que as multinacionais terão um peso relevante nesse desafio. Em todos os continentes analisados, as multinacionais só tinham balança comercial positiva com o país das respectivas matrizes.
Para que o salto exportador
ocorra em prazo curto, é importante uma opção rápida por paradigmas de países bem-sucedidos. O exemplo a ser seguido é o
dos tigres asiáticos, de sucesso em
prazo relativamente curto.
Colo considera simplificado o
discurso que reduz a política de
comércio exterior apenas à promoção de exportações e à substituição de importações. Sugere um
terceiro conceito, a substituição
de exportações. O Brasil tem produtos competitivos, mas sujeitos a
barreiras pelos países do Norte.
Em vez de o país se limitar a lutar
pela quebra das barreiras, é mais
útil trabalhar em cima de produtos menos sujeitos a barreiras, como ocorreu com os tigres asiáticos.
Para isso, três instituições seriam fundamentais:
1) External Trade Development
Organization (ETDO): o braço
armado dos tigres no exterior. Esses fundos provêm do governo,
mas dois terços dos diretores são
do setor privado. O maior investimento desses fundos foi em pesquisa no exterior, para identificar
produtos nos quais os tigres pudessem ser competitivos.
Um órgão desse tipo no Brasil
teria as seguintes missões:
dentre os itens produzidos
pelo atual parque industrial, determinar quais seriam exportáveis com maiores ou menores
adaptações;
identificar produtos a serem
fabricados exclusivamente para
os mercados externos;
conceber estratégias heterodoxas (por exemplo, comprar um
dos fabricantes mundiais de
chips).
2) Centro de Inteligência Empresarial (CIE): um "think-tank"
constituído por cerca de 30 empresários que formulem um modelo especificamente brasileiro de
inserção voluntarista do país nos
mercados internacionais. Eles seriam os responsáveis pela adaptação dos modelos asiáticos ao caso
brasileiro; e se beneficiariam
igualmente dos dados fornecidos
pelo ETDO. O Centro faria a interface entre o público e o privado, e seu ponto central de atuação
seria criar um modelo estratégico
original e diferenciado dos concorrentes.
3) Banco Brasileiro de Comércio Exterior ou Eximbank: seu papel seria financiar a infância das
exportações brasileiras, mas também cooptar as melhores cabeças
financeiras, a fim de se tornar um
centro de criatividade de novas
engenharias financeiras a serviço
do comércio exterior.
Colo considera imperativo que
o Brasil conclua uma aliança estratégica prioritária, da mesma
maneira que o México fez com os
Estados Unidos. Uma alternativa
seria procurar a União Européia,
criando "cumplicidades" industriais e agrícolas.
A promoção comercial será peça fundamental do modelo. Além
das embaixadas, ele propõe a
criação de agências da ETDO no
exterior, com especialistas em comércio exterior contratados no
mercado e com a obrigação de
permanecer dez anos no posto.
Alternativamente poderiam ser
contratados executivos locais com
experiência comercial comprovada em seus respectivos países.
Nos grandes pólos econômicos
seriam criados os "Council of
Brazilian Export Promotion",
que contrataria ex-altos executivos comerciais de grandes grupos
empresariais, transformando-os
em consultores permanentes das
empresas brasileiras.
Um eventual Ministério do Comércio Exterior teria sob seu comando a ETDO para formular
políticas de substituição de importações; seria tutor do Eximbank e a interface do Centro de
Inteligência Empresarial.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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