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AGRONEGÓCIO
Dono de frigorífico líder no país admite em gravação fixar preço; empresa diz ter "contrato de gaveta" com banco, que nega
Friboi assume cartel e ilegalidade no BNDES
MAURO ZAFALON
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Friboi, maior abatedouro de
bovinos da América Latina e
quarto maior do mundo, confessa
operar em regime de cartel unido
a pelo menos três outros frigoríficos brasileiros.
"Nós, o Bertin, o Independência... os três põe o preço do boi em
tudo quanto é Estado. Mato Grosso nós peita... Nós sozinho regulou o preço. Estamos fazendo o
preço do Mato Grosso, e os outro
acompanha [sic]", diz José Batista
Junior, proprietário do Friboi.
"Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, São Paulo e Minas,
agora nós estamos em cinco Estado, e nos cinco Estado nós combina com três", diz, nomeando os
frigoríficos Independência, Bertin
e Mataboi -que negam participação no esquema.
Essa combinação que Batista Junior descreve teria o objetivo de
forçar os pecuaristas a vender seu
gado aos frigoríficos a um preço
abaixo da lei da oferta e da procura, deturpando o mercado.
Neste ano, a partir de outra denúncia, foi aberta investigação no
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) atrás de
provas sobre a prática de cartel no
setor. A denúncia partiu da CNA
(Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil).
Batista Junior, que na semana
passada anunciou ser candidato
pelo PSDB ao governo de Goiás,
fez as declarações diante de testemunhas que estão em guerra comercial com o Friboi. Sem saber,
Batista Junior foi gravado e filmado durante as conversas.
"Contrato de gaveta"
Em uma dessas conversas, também gravada, o irmão de Batista
Junior, Joesley Mendonça Batista,
afirma ter um "contrato de gaveta" com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pelo qual assumiu
uma dívida de R$ 11,2 milhões do
grupo concorrente Araputanga.
Friboi e Araputanga firmaram
em 1999 compromisso de arrendamento com opção de compra
do frigorífico Araputanga (MT).
Os dois protagonizam disputa há
anos na Justiça, a qual põe o
BNDES em situação delicada.
O banco nega o "contrato de gaveta", mas reconhece ter cometido "erros" na operação e é acusado pelo Araputanga de favorecer
financeiramente o Friboi, empresa que concentra R$ 568 milhões
em empréstimos do BNDES.
A formação do cartel e o contrato "heterodoxo" com o BNDES
foram admitidos pelos proprietários do Friboi em pelo menos três
reuniões. Os encontros foram registrados pelo Araputanga, e as
gravações, obtidas pela Folha.
O vídeo e o áudio dos registros
foram periciados e atestados como autênticos por Ricardo Molina, perito do Laboratório de Perícias da Unicamp e conhecido por
sua atuação no caso da morte de
PC Farias, em junho de 1996.
Wesley Mendonça Batista, sócio
de Batista Junior e Joesley, dá
duas explicações para a formação
do cartel que seu irmão mais velho confessa nas gravações: acha
que a fita ou é "montada" ou não
faz sentido, já que os cinco maiores frigoríficos do país teriam um
poder de abate de bovinos equivalente a 15% do total nacional.
Sobre o "contrato de gaveta"
com o BNDES, Wesley afirma que
se trata da assunção regular de
uma dívida, mesma versão dada
pelo banco oficial.
O BNDES reconhece, porém,
que, mesmo após transferir a dívida do Araputanga para o Friboi,
continuou a enviar boletos de cobrança ao Araputanga. A empresa diz ter constado como inadimplente no sistema do Banco Central, o que a impediu de tomar outros empréstimos na praça.
O BNDES também deixou de
retirar o proprietário do Araputanga, José Almiro Bihl, como fiador do empréstimo.
"Estamos providenciando exatamente isso agora [a retirada de
Bihl como fiador]. A gente está
com problema aqui no banco, de
muito trabalho", afirma Jaqueline
Ferreira Lemos, assessora da área
industrial do BNDES.
A operação no BNDES é considerada "heterodoxa" pelo fato de
a unidade do Araputanga, garantia do empréstimo, não ter sido
transferida legalmente ao Friboi,
segundo os advogados de Bihl. Já
Wesley diz que nunca arrendou,
mas que comprou o frigorífico.
Wesley diz que o Araputanga
quer dar "um golpe". Segundo
ele, depois que o Friboi pagou dívidas do frigorífico, o Araputanga
quer o negócio de volta.
Para Marcelo Merlino, advogado do Araputanga, o Friboi não
cumpriu obrigações, por isso deveria providenciar a devolução do
frigorífico. O caso está na Justiça.
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