São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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FUNDOS DE PENSÃO

Carta do presidente do Banco do Brasil ao Ministério da Previdência pode ter precipitado intervenção branca

Zaghen "denunciou" Previ à Previdência

FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma carta enviada pelo presidente do Banco do Brasil, Paolo Zaghen, ao Ministério da Previdência pode ter precipitado a intervenção branca decretada pelo governo na Previ, o fundo de pensão dos funcionários do banco.
Dois dias antes da conclusão do prazo dado pelo governo para que as negociações fossem concluídas, o presidente do BB, Paolo Zaghen, remeteu à secretária de Previdência Complementar, Solange de Paiva Vieira, uma carta informando que as negociações haviam chegado a um impasse.
No documento, Zaghen abdica da responsabilidade sobre a implantação da paridade de contribuições do banco e de seus funcionários. O presidente do BB transfere o problema para o Ministério da Previdência.
"Esclarecemos que encaminhamos o assunto à Secretaria de Previdência Complementar, para as providências que se fizerem necessárias", afirma Zaghen no documento datado do último dia 14. O prazo para as negociações se encerrou no dia 16 e a intervenção na Previ começou no dia 18.
Ao longo de três páginas, Zaghen faz duras críticas à diretoria da Previ e ao estatuto da entidade, que estabelece a gestão paritária do fundo de pensão.
"Não foi possível, até o momento, obter-se da diretoria executiva a implantação das medidas aprovadas pelo patrocinador e por seu conselho deliberativo", critica, referindo-se à recusa dos diretores eleitos pelos funcionários de aceitar as propostas feitas pelo BB.
Zaghen aponta também problemas de crise de decisão no fundo, porque ao banco "não é facultado decidir (...) em caso de impasse".
O presidente do BB também registra sua "preocupação quanto as atuais condições de governabilidade (da Previ), certamente abaladas em razão das divergências verificadas entre e dentro de seus órgãos estatutários".
A carta chegou ao conhecimento da diretoria da Previ na manhã da quinta-feira passada. A Folha apurou que o teor do documento surpreendeu até os diretores do fundo indicados pelo banco.
A diretoria da Previ acredita que a carta precipitou a intervenção no fundo, que têm um superávit de R$ 4,5 bilhões. Para os diretores, a evidência disso é que mesmo os fundos com déficit ganharam, na semana passada, mais 120 dias para se enquadrar às regras do governo.
Já as críticas de Zaghen ao modelo de gestão da Previ provocaram irritação e temor nos diretores. A principal razão é que o modelo de gestão é estabelecido pelo estatuto da fundação e só pode ser alterado pelos funcionários do BB. A direção não pode alterá-lo ou mesmo propor mudanças.
Mesmo assim, a carta estimulou suspeitas na diretoria da Previ de que o Ministério da Previdência poderá impor mudanças no modelo de gestão do fundo. Segundo a Folha apurou, boa parte dos diretores já admite que a intervenção branca possa resultar em mudanças no estatuto da Previ.


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