|
Texto Anterior | Índice
INTEGRAÇÃO REGIONAL
Crédito está condicionado ao fornecimento de produtos ou serviços por empresas brasileiras
BNDES direciona US$ 1 bilhão a países da América do Sul
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) estima aumentar para US$
1 bilhão (cerca de R$ 2,85 bilhões)
o valor do crédito a ser aprovado
neste ano para financiar projetos
de infra-estrutura em países vizinhos, dentro do que o governo
chama de "apoio brasileiro à integração física da América do Sul".
No ano passado, o BNDES
aprovou financiamentos de US$
850 milhões (R$ 2,42 bilhões) para essa finalidade, segundo informou à Folha o diretor da área de
Comércio Exterior da instituição,
Luiz Eduardo Melin. Apenas parte desse recurso foi liberado, já
que alguns contratos ainda não
foram assinados.
Para ter uma idéia do que esses
números representam, o governo
estimou em R$ 13,685 bilhões a
primeira carteira de obras das
PPPs (Parcerias Público-Privadas), dos quais R$ 5,992 bilhões
viriam da iniciativa privada.
As PPPs foram a forma encontrada pelo governo para levantar
altas somas de investimentos em
áreas em que o Estado não teria
condições de bancar sozinho. Os
projetos prioritários do governo
no âmbito das PPPs são os de infra-estrutura, justamente o destino dos recursos do BNDES para a
ação na América Latina.
A maior parte dos financiamentos aprovados até agora destina-se a projetos no setor de energia,
como para a construção de hidrelétricas. Mas outras áreas também
deverão ser atendidas, como a recuperação e abertura de estradas.
Para Melin, as vantagens na
adoção da política de integração,
"no geral, são muito grandes". Ele
argumenta que as empresas nacionais aumentam suas exportações de bens e serviços para as
economias sul-americanas, gerando empregos e divisas (dólares) para o Brasil. O crédito concedido pelo BNDES para projetos
em outros países está condicionado ao fornecimento de produtos
ou à prestação de serviços por
empresas brasileiras.
No ano passado, o banco aprovou financiamentos para a Venezuela (US$ 145 milhões) e o Equador (US$ 242 milhões), nos dois
casos para a construção de hidrelétricas. A Venezuela comprará
equipamentos brasileiros. No
Equador, as obras serão realizadas pela empreiteira baiana Norberto Odebrecht.
Integração
Segundo Melin, a aprovação de
US$ 1 bilhão para este ano "é a
melhor estimativa que se pode fazer no momento", pois o valor
preciso dependerá de análise dos
projetos que são oferecidos ao
banco pelos países vizinhos. "Pode ser um pouco mais, um pouco
menos. A avaliação tem de ser feita de forma bem segura", disse.
Outro ponto que Melin considera
importante é a integração da infra-estrutura e das atividades econômicas dos países da região.
Ele cita a construção de três pequenas hidrelétricas na fronteira
da Bolívia com o Brasil, também
financiadas pelo BNDES. Segundo Melin, a região hoje tem déficit
de energia elétrica. Com as usinas,
será possível realizar projetos de
irrigação do solo e de nivelamento de um rio que corta a área, para
aumentar sua extensão navegável.
"O solo da região é muito propício para o plantio de grãos. Com o
nivelamento do rio, teremos um
meio barato para o escoamento
da produção. Isso é exemplo de
integração econômica."
Melin rebate também "preocupações" que algumas pessoas têm
levantado sobre a possibilidade
de faltar recursos do BNDES para
financiar projetos nacionais, devido ao fato de a instituição conceder crédito a empreendimentos
no exterior. "A resposta [às preocupações] é categoricamente
não", afirmou.
Ele diz que o banco não trabalha
como os ministérios, que dependem de orçamento. "Nós concedemos crédito, que pode ser alavancado [ampliado]."
Ressalta, no entanto, que a instituição não empresta dinheiro a
fundo perdido, pois precisa do retorno das operações para "continuar emprestando". Melin lembra também que os recursos
aprovados para projetos de infra-estrutura são liberados ao longo
da construção dos empreendimentos, que costuma demorar
anos.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Índice
|