São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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INTEGRAÇÃO REGIONAL

Crédito está condicionado ao fornecimento de produtos ou serviços por empresas brasileiras

BNDES direciona US$ 1 bilhão a países da América do Sul

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estima aumentar para US$ 1 bilhão (cerca de R$ 2,85 bilhões) o valor do crédito a ser aprovado neste ano para financiar projetos de infra-estrutura em países vizinhos, dentro do que o governo chama de "apoio brasileiro à integração física da América do Sul".
No ano passado, o BNDES aprovou financiamentos de US$ 850 milhões (R$ 2,42 bilhões) para essa finalidade, segundo informou à Folha o diretor da área de Comércio Exterior da instituição, Luiz Eduardo Melin. Apenas parte desse recurso foi liberado, já que alguns contratos ainda não foram assinados.
Para ter uma idéia do que esses números representam, o governo estimou em R$ 13,685 bilhões a primeira carteira de obras das PPPs (Parcerias Público-Privadas), dos quais R$ 5,992 bilhões viriam da iniciativa privada.
As PPPs foram a forma encontrada pelo governo para levantar altas somas de investimentos em áreas em que o Estado não teria condições de bancar sozinho. Os projetos prioritários do governo no âmbito das PPPs são os de infra-estrutura, justamente o destino dos recursos do BNDES para a ação na América Latina.
A maior parte dos financiamentos aprovados até agora destina-se a projetos no setor de energia, como para a construção de hidrelétricas. Mas outras áreas também deverão ser atendidas, como a recuperação e abertura de estradas.
Para Melin, as vantagens na adoção da política de integração, "no geral, são muito grandes". Ele argumenta que as empresas nacionais aumentam suas exportações de bens e serviços para as economias sul-americanas, gerando empregos e divisas (dólares) para o Brasil. O crédito concedido pelo BNDES para projetos em outros países está condicionado ao fornecimento de produtos ou à prestação de serviços por empresas brasileiras.
No ano passado, o banco aprovou financiamentos para a Venezuela (US$ 145 milhões) e o Equador (US$ 242 milhões), nos dois casos para a construção de hidrelétricas. A Venezuela comprará equipamentos brasileiros. No Equador, as obras serão realizadas pela empreiteira baiana Norberto Odebrecht.

Integração
Segundo Melin, a aprovação de US$ 1 bilhão para este ano "é a melhor estimativa que se pode fazer no momento", pois o valor preciso dependerá de análise dos projetos que são oferecidos ao banco pelos países vizinhos. "Pode ser um pouco mais, um pouco menos. A avaliação tem de ser feita de forma bem segura", disse. Outro ponto que Melin considera importante é a integração da infra-estrutura e das atividades econômicas dos países da região.
Ele cita a construção de três pequenas hidrelétricas na fronteira da Bolívia com o Brasil, também financiadas pelo BNDES. Segundo Melin, a região hoje tem déficit de energia elétrica. Com as usinas, será possível realizar projetos de irrigação do solo e de nivelamento de um rio que corta a área, para aumentar sua extensão navegável.
"O solo da região é muito propício para o plantio de grãos. Com o nivelamento do rio, teremos um meio barato para o escoamento da produção. Isso é exemplo de integração econômica."
Melin rebate também "preocupações" que algumas pessoas têm levantado sobre a possibilidade de faltar recursos do BNDES para financiar projetos nacionais, devido ao fato de a instituição conceder crédito a empreendimentos no exterior. "A resposta [às preocupações] é categoricamente não", afirmou.
Ele diz que o banco não trabalha como os ministérios, que dependem de orçamento. "Nós concedemos crédito, que pode ser alavancado [ampliado]."
Ressalta, no entanto, que a instituição não empresta dinheiro a fundo perdido, pois precisa do retorno das operações para "continuar emprestando". Melin lembra também que os recursos aprovados para projetos de infra-estrutura são liberados ao longo da construção dos empreendimentos, que costuma demorar anos.


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