São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Fórum de Davos começa com executivos em pânico

Pesquisa mostra que grau de confiança cai para o nível mais baixo desde 2003

Indianos e brasileiros são os mais otimistas ao prever receita de empresas em alta neste ano; menos chineses esperam ganhar mais


Fabrice Coffrini/France Presse
Arame farpado circunda área perto do local em que será realizado o Fórum Econômico Mundial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O Fórum Econômico Mundial começa hoje com a sua principal clientela -os executivos globais- em tal estado de pânico que um deles (Chip Hornsby, da Wolseley, fabricante britânica de material de construção) diz que ligaram "o modo de sobrevivência", porque aumento de receita, que é o sonho de consumo de qualquer empresário, só uma minoria antevê.
Não se trata de impressão subjetiva, nascida das notícias sobre a crise, mas de medição científica, contida na pesquisa que a PricewaterhouseCoopers divulga todos os anos na véspera da abertura do encontro anual do Fórum.
A confiança dos executivos caiu para o nível mais baixo desde 2003, quando a Price começou a pesquisar as expectativas dos executivos-chefes das grandes empresas do mundo. Só 21% deles disseram estar confiantes em que o faturamento aumente nos próximos 12 meses. Na pesquisa do ano passado, eram 50%, mais que o dobro, portanto.
A queda é generalizada, por países e por regiões, mas há diferenças abismais entre eles e elas. No caso dos executivos brasileiros, por exemplo, encontra-se o segundo menor índice de pessimismo: 33% dos pesquisados acreditam em crescimento dos ganhos em 2009, 50% mais do que a média global.
Mas é um número que deve ser relativizado pela comparação com o resultado da pesquisa anterior, ano em que dois terços dos brasileiros -e não apenas um terço como agora- contavam aumentar as receitas.
Duas outras boas notícias para o Brasil e para os emergentes em geral: os executivos ouvidos pela Price acham que a mudança estratégica representada pela ascensão dos países emergentes veio para ficar.
Acham também que os emergentes serão os últimos a entrar em recessão e os primeiros a dela sair.
No quesito menor pessimismo, os brasileiros só perdem para os indianos, os únicos a dizer, majoritariamente, que vão, sim, faturar mais neste ano: 70% acreditam nessa hipótese, de todo modo uma queda de 20 pontos em relação à quase-unanimidade (90%) que era otimista na pesquisa de 2008.
O levantamento da Price foi feito no último trimestre do ano passado, exatamente quando a crise ganhou velocidade vertiginosa, o que apareceu claramente na pesquisa: entre 10 de setembro (mês em que quebrou o Lehman Brothers) e 24 de novembro, período em que foi feito o grosso das 1.124 entrevistas em 50 países, o número de executivos-chefes que se diziam muito confiantes nas perspectivas de suas empresas no curto prazo desabou de 42% para meros 11%.

Foco do pessimismo
Como era previsível, os mais pessimistas são os executivos de países ricos: só 5% dos franceses, 8% dos italianos, 9% dos japoneses, 12% dos britânicos, 13% dos norte-americanos e espanhóis esperam aumento de receita no curto prazo.
Mesmo os chineses, que operam na usina de maior crescimento no planeta nos últimos 20 anos, revelam pessimismo: só 29% esperam ganhar mais neste ano (eram 73% no ano passado).
Para o médio prazo, o pessimismo continua, mas levemente atenuado: só 34% acreditam que haverá crescimento de receita nos próximos três anos, quando eram 42% os que tinham tal expectativa na pesquisa divulgada no ano passado, mas feita no último trimestre de 2007, quando se começava a sentir o efeito do estouro da bolha imobiliária dos EUA.
O pânico é tanto que John Donahoe, presidente da empresa de leilões on-line eBay, comentou: "Se eu conseguir três noites de bom sono nos próximos 12 meses, vou considerar 2009 um sucesso".
A crise pegou os executivos no contrapé, diz o texto da pesquisa: "No ano passado, muitos executivos-chefes estavam esperando uma desaceleração econômica, mas nenhum estava plenamente preparado para a intensificação da contração de crédito ocorrida na segunda metade de 2008 ou para a crise financeira global que se seguiu. Por quê? A crise atual é diferente das que ocorreram nas poucas décadas anteriores porque o dano que ela causa se espalha mais amplamente e mais depressa do que qualquer coisa que tenha ocorrido antes".
Consequência: "A velocidade e a intensidade da recessão abalaram o psiquismo dos executivos-chefes e criou uma crise global de confiança", escreve Samuel DiPiazza Jr., o executivo-chefe da Price.
Segunda consequência: os palpites, a que são tão afeitos economistas e executivos, saíram do cenário. "A severidade e a duração da recessão são difíceis de prever", diz o executivo-chefe da Price.


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