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Investidor externo tira US$ 1,5 bi em 2 dias
Após alta de 145% em dólares em 2009, Bolsa brasileira já perdeu 11% em 2010, a maior desvalorização depois da Venezuela
Para analistas, reversão está ligada a fatores externos
como restrição ao crédito na
China, retirada de estímulos e
regulação maior nos bancos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de terminar o ano como "queridinho" do mercado
global, o Brasil desponta em janeiro como um dos países que
mais perdem recursos dos investidores internacionais.
A piora nas condições do
mercado no final da semana
passada provocou uma saída de
quase US$ 1,5 bilhão do país em
apenas dois dias -quarta e
quinta-feira da semana passada-, segundo o Banco Central.
No ano passado, o país teve um
saldo positivo de US$ 19 bilhões na sua conta financeira.
A Bolsa brasileira, que subiu
em dólares 145% no ano passado, já teve uma baixa de 11%
(5,13% em reais) em 2010, após
cinco dias seguidos de perdas.
Foi a maior baixa do mundo depois da Venezuela, que recuou
49,3%, já contando o impacto
da desvalorização do bolívar.
A maior parte dessa perda da
Bolsa está ligada a uma desvalorização do real, que segue um
movimento internacional de
alta do dólar e da busca por
aplicações de menor risco.
Só neste ano, o real já perdeu
5,88% diante do dólar, indo de
R$ 1,743 para R$ 1,859. No
mundo, o real é também a moeda com a maior depreciação
após a divisa venezuelana.
Segundo analistas, a reversão
está mais ligada a fatores externos do que a brasileiros. Entre
os motivos, estão a restrição ao
crédito na China, a revisão da
avaliação de risco na Europa e
no Japão, regras mais apertadas para os bancos nos EUA fazerem apostas no mercado de
capitais, a queda no preço de
commodities e dúvidas sobre a
recuperação da economia global com a retirada de estímulos
e aumento nos juros.
Para Ajay Kapur, estrategista
da Mirae Investments de Hong
Kong, o Brasil está agora sendo
punido porque os grandes fundos de investimento estão "superexpostos" ao real e a ativos
brasileiros, após a procura de
oportunidades de alto retorno
no país até 2009. "O mercado
brasileiro está agora caro, apesar de haver razões fortes para
justificar essa alta. Uma reversão é bastante provável."
Segundo o economista Alkimar Moura, ex-diretor do BC, o
momento atual ainda não representa uma reversão completa do otimismo, mas exige
cautela dos investidores. "Pouco depende do Brasil; depende
mais da economia mundial. Há
também uma má vontade dos
banqueiros com a tentativa de
regulação no setor financeiro,
que afeta o fluxo de dinheiro
para o Brasil", disse.
Para Sidnei Nehme, diretor
da corretora de câmbio NGO,
há, sim, um "cheiro de reversão" do quadro otimista no ar,
mas nada ainda que aponte para um caminho de histeria como o visto dias após a quebra do
Lehman Brothers, em 2008.
Além da saída de estrangeiros, Nehme afirma que a taxa
de câmbio está pressionada
porque algumas empresas e investidores tiveram de comprar
dólar para desmontar operações com derivativos que apostavam na continuidade da baixa da moeda americana, como
ocorreu no final de 2008. "Mas
isso deve ter acontecido em
uma escala muito menor. Até
porque está fresca a memória
do estrago dos derivativos para
os bancos."
Fluxo cambial
Durante toda a última semana, o fluxo de dólares ficou negativo em US$ 85 milhões. Ou
seja, houve mais dinheiro saindo que entrando na economia
brasileira. O resultado só não
foi pior devido a um fluxo positivo no comércio exterior, já
que os contratos de exportação
superaram as operações de importação.
Com a piora da semana passada, no acumulado de janeiro,
o fluxo cambial ficou positivo
em apenas US$ 10 milhões. Na
área financeira, entraram US$
671 milhões. Nas operações comerciais, as importações ainda
superam os contratos de exportação em US$ 660 milhões.
Se a queda da Bolsa e a alta do
dólar, verificados nos últimos
dias, provocarem nova saída de
recursos nesta semana, janeiro
pode fechar com o primeiro resultado negativo em dez meses.
Segundo relatório da NGO,
os números da próxima semana devem mostrar um movimento mais forte de saída de
dólares. Para a corretora, há um
"afastamento de especuladores
estrangeiros", já que a moeda
nacional perdeu a atratividade
para esse fim, o que acentua a
"tendência gradual de depreciação do real".
Com a alta do dólar, o BC reduziu, pela segunda semana seguida, o volume das suas intervenções no mercado de câmbio. As compras somaram US$
425 milhões. No ano, já foi adquirido US$ 1,7 bilhão, 50% a
menos do que foi comprado em
dezembro passado. As reservas
internacionais do Brasil estão
hoje no patamar recorde de
US$ 241,5 bilhões.
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