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FÓRUM
Relatório da instituição diz que, como último recurso na crise, países podem restringir dinheiro estrangeiro
Banco Mundial admite controle de capital
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos
O Banco Mundial admite controles de capitais, desde que
sejam temporários e adotados
como último recurso em situação de crise.
É o que diz recente relatório da
instituição sobre as perspectivas
da economia mundial em 98/99,
mencionado em seminário internacional por Uri Dadush, diretor
do Grupo de Perspectivas de Desenvolvimento do Banco Mundial.
Dadush vai mais longe: acha que
não se deve descartar a suspensão
do pagamento da dívida externa,
sob certas condições -uma tese
que continua sendo anátema para
o pensamento dominante nas organizações internacionais e nos
meios financeiros.
O raciocínio de Dadush é o de
que o exponencial aumento no fluxo de capitais privados para países
em desenvolvimento, combinado
com fragilidades nos sistemas financeiros domésticos, está na origem da crise que se iniciou na Ásia,
passou para a Rússia e, agora, atinge o Brasil.
"Há bons argumentos para a restrição de fluxos de capital, pois não
se pode consertar o sistema financeiro da noite para o dia", diz o técnico do Banco Mundial.
Além do aumento do fluxo (pulou de US$ 42 bilhões em 1990 para
US$ 250 bilhões em 1996), surgiu
outro fenômeno novo: os capitais
vão do setor privado dos países em
desenvolvimento para o setor privado dos mercados ditos emergentes, quando, antes, a participação
dos governos e/ou instituições
multilaterais era enorme nas duas
pontas.
Como lidar com esse fenômeno e
suas características até aqui desestabilizadoras tende a ser um dos
pontos centrais na agenda do 29º
encontro anual do Fórum Econômico Mundial, que se inicia hoje
na cidadezinha de Davos, encravada nos Alpes suíços.
Até porque o Banco Mundial estará representado pelo seu vice-presidente sênior, Joseph Stiglitz,
conhecido crítico das carências do
sistema financeiro global para lidar com as sucessivas crises.
A situação brasileira, aliás, deu
um forte empurrão para que a
questão do controle dos capitais
voltasse a ser discutida mesmo entre os países ricos.
É sintomático que outro dos convidados de Davos, o ministro francês das Finanças, Dominique
Strauss-Kahn, tenha usado o caso
brasileiro para dizer que, nas próximas reuniões do G-7 (o grupo
dos sete países mais ricos do mundo) vai propor que se discutam
"medidas de coordenação sobre a
evolução dos mercados de câmbio,
a fim de evitar desequilíbrios excessivos que afastem o valor da
moeda dos fundamentos de cada
economia".
A primeira oportunidade para
Strauss-Kahn levar adiante a sua
proposta se dará exatamente em
Davos, amanhã pela manhã, em
debate a que comparecerão pelo
menos três outras altas autoridades de países do G-7 (Lawrence
Summers, subsecretário do Tesouro norte-americano, Gordon
Brown, ministro britânico do Tesouro, e Eisuke Sakakibara, vice-ministro japonês para Assuntos
Financeiros Internacionais).
Há outras vozes que estarão em
Davos e usam igualmente o Brasil
para pedir "maior cooperação internacional na reforma da arquitetura financeira global".
É o caso de Tung Chee Hwa, executivo-chefe de Hong-Kong, hoje
sob administração da China.
A pregação por uma nova arquitetura financeira global foi feita pelo presidente norte-americano Bill
Clinton em discurso realizado na
esteira da crise na Rússia, quando
os primeiros respingos já ameaçavam o Brasil.
Os representantes oficiais brasileiros em Davos, os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Luiz Felipe
Lampreia (Relações Exteriores),
certamente endossarão a tese,
igualmente cara ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas o mais provável é que passem a maior parte do tempo dando
explicações e garantias sobre o
presente imediato. A inquietação
óbvia entre os cerca de mil executivos de portentosas multinacionais
que estarão em Davos é com a
perspectiva de o Brasil se tornar incapaz de pagar sua dívida externa,
encarecida na mesma proporção
da desvalorização do real.
Ou seja, o Brasil está chegando à
situação extrema em que até o
Banco Mundial, um dos pilares do
establishment, admite o controle
sobre o fluxo de capitais.
Expectativa
O presidente do Banco Mundial,
James Wolfensohn, disse acreditar
que o governo brasileiro conseguirá em breve pôr em prática reformas para estabilizar sua economia
e honrar seus compromissos.
com agências internacionais
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