São Paulo, Quinta-feira, 28 de Janeiro de 1999
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ECONOMIA REAL
Em duas semanas, alguns produtos chegam a custar até 12,5% mais nas lojas, segundo a federação paulista
Preços sofrem impacto da desvalorização

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Duas semanas após a desvalorização do real, o consumidor paga mais caro por produtos que vão da cesta básica, como farinha de trigo, café e macarrão, a confecções, eletrônicos e material de construção.
Na semana passada, os preços de alguns produtos subiram até 12,5%, no caso de peças do vestuário, na comparação com a semana anterior, segundo levantamento feito pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP).
Na média, as roupas encareceram 1,44%, segundo a federação. Nesse grupo de produtos, os artigos que mais subiram foram shorts, 12,5%; tênis, 7,9%, e roupas para bebê, 5,72%.
O consumidor também já teve de desembolsar mais dinheiro na semana passada para comprar frango (5,59%), carne suína (4,33%), biscoitos (4,95%), móveis (5,64%), videocassete (1,84%), tijolo (5,05%) e pisos (2,66%).
A desvalorização do real, segundo Rosana Curzel, economista da federação, pode ter influenciado parte desses aumentos, "pois não há como evitar as especulações", mas os efeitos sazonais também pesaram nos reajustes. "Em pleno verão, podem subir os preços das roupas, por exemplo."
A federação acredita que o reflexo da desvalorização do real deverá ser notado mais fortemente a partir de fevereiro, pois muitas indústrias, apesar de terem reajustado as suas tabelas, estão ainda negociando com o comércio.
Na linha de duráveis (eletroeletrônicos), pelo levantamento da federação, houve até queda de preço, de 0,69%, em média, na semana passada em relação à anterior.
"A tendência é de os preços subirem dos produtos que têm matérias-primas importadas e também daqueles que são exportados.
"A exportação ficou mais convidativa. Se diminuir a oferta no mercado interno, os preços sobem", diz Cornélia Nogueira Porto, economista do Dieese.
A farinha de trigo, segundo levantamento do Dieese, encareceu 3,57% do dia 22 de janeiro para o dia 27 de janeiro. O trigo é importado. O preço do café subiu 2,94% nesse período. "É que ficou mais atrativo exportar café, portanto, o preço subiu no mercado interno."
Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preço ao Consumidor) da Fipe, diz que esses aumentos pontuais que ocorreram depois da desvalorização do real não dão sinais de que a inflação vai ou não vai voltar.
"Com a desvalorização do real, algum repasse de custo ao preço sempre ocorre, mas pode não ser recorrente e ficar concentrado nos primeiros três meses do ano", afirma Carmo. Para ele, a inflação de 99 deve ficar entre 6% e 7%.

Negociações intensas
As negociações entre a indústria e o comércio serão tão intensas, diz o coordenador do IPC, que, provavelmente, os aumentos de preços, mesmo dos produtos que têm peças ou insumos importados, não serão na mesma proporção da variação cambial. "Se os preços subirem muito, as vendas vão despencar."
As discussões sobre preços estão generalizadas em todos os setores da indústria e do comércio. Os supermercados, por exemplo, continuam resistindo aos reajustes de até 35% propostos pelos fornecedores, informa José Humberto Pires de Araújo, presidente da Abras, associação que reúne os supermercadistas brasileiros.
Segundo ele, hoje e amanhã, os supermercadistas vão fazer um levantamento dos reajustes que estão sendo propostos pelas indústrias e, na próxima segunda-feira, vão discutir os aumentos com a equipe econômica do governo.
A Abiplast, associação que reúne a indústria de transformação de plásticos, informa que os fornecedores de resinas termoplásticas, usadas na produção de peças plásticas, cogitam aumentos de preços que variam de 8% a 48%.
Por conta dessas altas, informa a associação, os negócios estão paralisados e pode até faltar produto. Os transformadores de plásticos atendem às indústrias de embalagens, autopeças e material de construção.
"O que está chateando neste momento é o fato de muitos fornecedores de matérias-primas estarem segurando as entregas para esperar pelos aumentos de preços. Essa postura prejudica toda a cadeia produtiva", afirma Albano Schmidt, presidente da Associação Comercial e Industrial de Joinville. "Estamos tentando buscar alternativas."


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