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ECONOMIA REAL
Em duas semanas, alguns produtos chegam a custar até 12,5% mais nas lojas, segundo a federação paulista
Preços sofrem impacto da desvalorização
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
Duas semanas
após a desvalorização do real,
o consumidor
paga mais caro
por produtos
que vão da cesta
básica, como farinha de trigo, café e macarrão, a
confecções, eletrônicos e material
de construção.
Na semana passada, os preços de
alguns produtos subiram até
12,5%, no caso de peças do vestuário, na comparação com a semana
anterior, segundo levantamento
feito pela Federação do Comércio
do Estado de São Paulo (FCESP).
Na média, as roupas encareceram 1,44%, segundo a federação.
Nesse grupo de produtos, os artigos que mais subiram foram
shorts, 12,5%; tênis, 7,9%, e roupas
para bebê, 5,72%.
O consumidor também já teve de
desembolsar mais dinheiro na semana passada para comprar frango (5,59%), carne suína (4,33%),
biscoitos (4,95%), móveis (5,64%),
videocassete (1,84%), tijolo
(5,05%) e pisos (2,66%).
A desvalorização do real, segundo Rosana Curzel, economista da
federação, pode ter influenciado
parte desses aumentos, "pois não
há como evitar as especulações",
mas os efeitos sazonais também
pesaram nos reajustes. "Em pleno
verão, podem subir os preços das
roupas, por exemplo."
A federação acredita que o reflexo da desvalorização do real deverá ser notado mais fortemente a
partir de fevereiro, pois muitas indústrias, apesar de terem reajustado as suas tabelas, estão ainda negociando com o comércio.
Na linha de duráveis (eletroeletrônicos), pelo levantamento da
federação, houve até queda de preço, de 0,69%, em média, na semana
passada em relação à anterior.
"A tendência é de os preços subirem dos produtos que têm matérias-primas importadas e também
daqueles que são exportados.
"A exportação ficou mais convidativa. Se diminuir a oferta no
mercado interno, os preços sobem", diz Cornélia Nogueira Porto, economista do Dieese.
A farinha de trigo, segundo levantamento do Dieese, encareceu
3,57% do dia 22 de janeiro para o
dia 27 de janeiro. O trigo é importado. O preço do café subiu 2,94%
nesse período. "É que ficou mais
atrativo exportar café, portanto, o
preço subiu no mercado interno."
Heron do Carmo, coordenador
do IPC (Índice de Preço ao Consumidor) da Fipe, diz que esses aumentos pontuais que ocorreram
depois da desvalorização do real
não dão sinais de que a inflação
vai ou não vai voltar.
"Com a desvalorização do real,
algum repasse de custo ao preço
sempre ocorre, mas pode não ser
recorrente e ficar concentrado nos
primeiros três meses do ano",
afirma Carmo. Para ele, a inflação
de 99 deve ficar entre 6% e 7%.
Negociações intensas
As negociações entre a indústria
e o comércio serão tão intensas,
diz o coordenador do IPC, que,
provavelmente, os aumentos de
preços, mesmo dos produtos que
têm peças ou insumos importados, não serão na mesma proporção da variação cambial. "Se os
preços subirem muito, as vendas
vão despencar."
As discussões sobre preços estão
generalizadas em todos os setores
da indústria e do comércio. Os supermercados, por exemplo, continuam resistindo aos reajustes de
até 35% propostos pelos fornecedores, informa José Humberto Pires de Araújo, presidente da
Abras, associação que reúne os supermercadistas brasileiros.
Segundo ele, hoje e amanhã, os
supermercadistas vão fazer um levantamento dos reajustes que estão sendo propostos pelas indústrias e, na próxima segunda-feira,
vão discutir os aumentos com a
equipe econômica do governo.
A Abiplast, associação que reúne a indústria de transformação
de plásticos, informa que os fornecedores de resinas termoplásticas, usadas na produção de peças
plásticas, cogitam aumentos de
preços que variam de 8% a 48%.
Por conta dessas altas, informa a
associação, os negócios estão paralisados e pode até faltar produto. Os transformadores de plásticos atendem às indústrias de embalagens, autopeças e material de
construção.
"O que está chateando neste momento é o fato de muitos fornecedores de matérias-primas estarem
segurando as entregas para esperar pelos aumentos de preços. Essa postura prejudica toda a cadeia
produtiva", afirma Albano
Schmidt, presidente da Associação Comercial e Industrial de
Joinville. "Estamos tentando buscar alternativas."
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