|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O Itamaraty e os riscos inúteis
A política externa é vista até agora como a parte
mais forte do governo Lula, mas
os últimos atos do ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim, provocaram alguma
apreensão em observadores
mais simpáticos à gestão anterior do ministério.
Há um problema de fundo na
atuação do ministério. O governo Lula definiu-se como ortodoxo no capítulo econômico e tem
procurado compensar com certa
pirotecnia na área externa. De
certo modo se repete o início do
governo Jânio Quadros, ortodoxo na economia, com Clemente
Mariani, buscando na política
externa o caminho para lidar
com a opinião pública mais à esquerda.
Os primeiros movimentos internacionais foram brilhantes,
devido à intuição de Lula e à sua
capacidade de poder frequentar,
simultaneamente, Davos e Porto
Alegre.
As críticas dizem respeito aos
atos seguintes. Há críticas de forma e de fundo.
De forma, na tentativa de
Amorim e do assessor especial
de política internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, de
reinventar a roda. Em mensagem ao Congresso, Amorim salientou que a nova linha da diplomacia brasileira seria a de
conferir maior importância ao
Mercosul e à América do Sul.
Pois esse foi o foco da política internacional do governo Fernando Henrique Cardoso. A própria
proposta de ampliar o Mercosul
para o Pacto Andino é expressão
dessa linha.
O Tratado de Cooperação
Amazônica foi outro ponto relevante, além de o Brasil ter sido
chave na promoção da paz entre
Peru e Equador.
Outro prioridade apresentada
por Amorim é aumentar a relação com a Índia e a China, os
chamados países-baleias. Essa
foi outra prioridade do governo
FHC, com resultados econômicos, políticos, culturais e científicos expressivos.
Além disso, há queixas sobre o
discurso de posse de Amorim,
que nem sequer mencionou o
ex-presidente, apesar de dever a
ele seus postos em Nova York,
Genebra e Londres.
Obviamente tais análises refletem mais mágoas do que críticas
substantivas. Mesmo para esses
observadores, Celso Amorim é
um dos grandes diplomatas da
sua geração. As críticas objetivas
dizem respeito a medidas concretas.
A política interna dá mais espaço de manobra para erros e
acertos, avaliam esses analistas.
Já a política externa se faz pela
palavra e pelo gesto, lida com
credibilidade internacional. Por
isso mesmo, princípio básico de
política internacional é a minimização dos riscos. Os conflitos
devem se circunscrever ao que é
inequivocamente interesse nacional. Já existe uma agenda
conflitiva relevante nas negociações da Alca, e o governo
Bush Jr. já demonstrou não ser o
mais sereno do mundo.
Na opinião desses analistas, as
nomeações de Samuel Pinheiro
Guimarães para a Secretaria
Geral do Itamaraty e do diplomata José Maria Bustami para
embaixador na Inglaterra
-ambos com uma agenda de
conflitos com os EUA- caracterizam uma dispersão de energias. São gestos que têm repercussão interna, mas não ajudam
na estratégia externa.
Além disso, Amorim terá de
conviver com o assessor especial
Marco Aurélio Garcia. Tradicionalmente o assessor faz o meio-campo entre o presidente e o Itamaraty. Marco Aurélio demonstrou que pretende ir além disso.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Contribuição: Empresas podem pagar a Previdência no dia 6 Próximo Texto: Panorâmica - Fusão: Governo aprova operação conjunta entre Varig e TAM, mas veta devolução de aviões Índice
|