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TURBULÊNCIA GLOBAL
China detona crise nos mercados
Bolsas caem pelo mundo, e mercados de países emergentes sofrem maiores impactos
Analistas vêem "ajuste" após ações, títulos
e commodities estarem em níveis recordes
Bovespa cai 6,6%, maior queda desde setembro de 2001, e risco-país sobe 12%; em Nova York, índice
Dow Jones recua 3,29%
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Investidores do mundo inteiro venderam ações ontem, em
movimento que derrubou todas as grandes Bolsas mundiais. A turbulência global começou na China. A Bolsa de
Xangai caiu 8,84%, atingiu os
mercados asiáticos, alastrou-se
pela Europa e atingiu o mercado americano e os emergentes.
No Brasil, a Bovespa caiu
6,63%, e o risco-país subiu
12%, fechando a 204. Nos EUA,
o Dow Jones registrou queda
de 3,29%. As quedas nas Bolsas
de Brasil e EUA foram as maiores desde os ataques terroristas
de 11 de setembro de 2001.
O movimento de ontem -estimulado por temores de desaceleração nos dois maiores motores da economia global, EUA
e China- foi chamado por analistas de "soluço temporário"
ou "ajuste de preços". Ele ocorre num momento em que
ações, títulos e commodities
registram níveis recordes.
As Bolsas asiáticas voltaram
a cair no início do pregão hoje,
com Tóquio recuando 3,71%
(tinha caído só 0,52% ontem) e
Xangai recuando mais 1,35%.
O "ajuste" começou no mercado chinês. Nenhum indicador econômico mudou os cenários com que analistas e economistas trabalham para a economia chinesa ou mundial. Foi a
possibilidade de Pequim impor
restrições às operações no
mercado acionário que assustou os investidores. O vice-presidente do Parlamento chinês,
Cheng Siwei, já advertira, nos
últimos dias, que " há uma bolha" no mercado local.
Ontem, o governo do país
anunciou a criação de uma comissão que será responsável
por checar a procedência do dinheiro aplicado na Bolsa para
detectar fraudes como o uso de
informação privilegiada.
O anúncio chamou a atenção
de investidores tanto para o
risco de os preços estarem
muito altos quanto para a possibilidade de intervenção estatal. Resultado: Xangai teve sua
maior queda desde 1996.
Para piorar o cenário, nos
EUA, logo pela manhã, investidores se depararam com estatística que mostrava que os pedidos de bens duráveis caíram
7,8% em janeiro -o mercado
esperava 3%, alimentando a
queda nos mercados europeus
e, logo depois, em Nova York.
Mas houve notícias positivas
também nos EUA, como o aumento na venda de imóveis
usados e na confiança de consumidores. Os dados positivos
não mudaram o mau humor no
mercado, que, um dia antes, já
ouvira do todo-poderoso Alan
Greenspan, ex-presidente do
bc dos EUA, que havia risco de
recessão no país.
Prevaleceu, pelo menos ontem, a avaliação de que o cenário para a economia americana
pode ser um pouco pior que o
esperado. A interpretação mais
generalizada é que a turbulência de ontem foi uma correção
que pode durar alguns dias,
mas que não muda o cenário
econômico de crescimento
mundial projetado para o ano.
Para Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, alguma correção nos mercados já
era esperada. "Não acho que vá
ser o fim do mundo, mas não
arrisco fazer uma previsão para
o curto prazo", disse Armínio
(leia entrevista à pág. B2). Já
Nuno Câmara, economista do
Dresdner Bank em Nova York,
vê pouca mudança no cenário
mundial e brasileiro, mas, disse, "independentemente dos
fundamentos, muitos ativos estão com preços altos".
De fato, 2006 foi o quarto
ano seguido de altas na maioria
dos mercados acionários mundiais. O último ano de queda
mais ou menos generalizada foi
2002. Ações, preços de commodities e outros ativos de risco, como títulos de emergentes, atingiram níveis recordes
de preços no ano passado, o
que leva muitos economistas a
afirmar que os investidores estão subestimando seus riscos.
"O mercado mundial está
muito alavancado e com muitos ganhos, é natural que os
preços se ajustem", disse Roberto Padovani, do WestLB.
Já analistas estrangeiros ouvidos pelo diário inglês "Financial Times" avaliam que a turbulência de ontem pode afastar
estrangeiros dos emergentes.
Simon Hayley, do Capital Economics, adverte: "Se os fatos de
ontem nos dizem algo, é que o
sentimento sobre os emergentes é frágil". Para Mary Ann
Bartels, do Merrill Lynch, "os
mercados que subiram mais rápido do que outros enfrentarão
uma queda mais aguda com
fundos "hedge", reduzindo sua
exposição a eles".
O mundo parece começar a
se adaptar a um novo cenário
-2007 deve ser o ano de transição do rápido crescimento recente para uma expansão mais
moderada. Transição cheia de
incertezas, o que deve, diz Padovani, tornar soluços como o
de ontem mais freqüentes.
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