São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Economia dos EUA sofre maior contração desde 82

PIB recuou 6,2% no último trimestre de 08, muito abaixo das piores previsões

Só os gastos do governo cresceram no período, e novos dados mostram que resultado pode se repetir neste primeiro trimestre

DE NOVA YORK

A economia norte-americana encolheu 6,2% em termos anualizados no último trimestre de 2008. Foi a maior contração desde 1982 e mais um sinal de que os EUA podem estar a caminho da sua pior crise econômica desde os anos 1930.
Em apenas três momentos após a chamada Grande Depressão, os EUA tiveram uma retração dessa magnitude, em 1957, 1980 e 1982.
A queda do PIB no último trimestre do ano passado foi muito maior do que os 3,8% inicialmente projetados pelo Departamento do Comércio. Também foi mais negativa do que as expectativas mais pessimistas dos analistas, de 5,4%.
A contração do consumo das famílias foi a principal causa da queda e apresentou o pior resultado desde 1980: caiu 4,3% entre outubro e dezembro, meses imediatamente posteriores à fase aguda da crise, após a quebra do banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008. O consumo das famílias representa cerca de 70% do PIB dos EUA.
O comércio também fez cortes profundos nos pedidos às indústrias no período, com redução de 22,1%.
O resultado do PIB do último trimestre de 2008 mostrou que o governo esteve sozinho (e provavelmente ainda continua assim) no papel de dar algum estímulo para a maior economia do mundo. Enquanto caíram consumo, vendas, exportações (-23,6%) e importações (-16%), os gastos estatais subiram 6,7%. Mas foram insuficientes para amenizar o resultado negativo.
A contração de 6,2% do PIB veio na sequência de um encolhimento de 0,5% no trimestre anterior (julho a setembro). Em 2008, o crescimento americano foi de 1,1%, ante 2% no ano anterior. Para 2009, o FMI projeta um encolhimento de 1,6%. Mas as estimativas do Fundo vêm sendo constantemente revisadas para baixo.
Analistas acreditam que ainda levará alguns meses até que o novo pacote de estímulo de US$ 787 bilhões do governo Obama aprovado no Congresso comece a surtir efeito. Uma nova contração na faixa de 6% no primeiro trimestre de 2009 não está descartada para muitos analistas.
Em janeiro, quase 600 mil empregos foram perdidos nos EUA. Embora o consumo tenha crescido 1% no mês, interrompendo uma sequência de vários meses de queda, muitos acreditam que a recuperação tenha sido temporária.
Indicador sobre a confiança dos consumidores da Reuters e da Universidade de Michigan mostrou ontem queda de 61,2 pontos em janeiro para 56,3 pontos em fevereiro, o menor em três meses
"Não há nenhuma evidência de que o ritmo da queda esteja diminuindo, mas existe alguma chance de que o novo pacote de estímulo faça algum efeito mais à frente", afirma Bill Cheney, economista da John Hancock Financial Services.
Anteontem, o governo Obama apresentou sua primeira proposta para o orçamento do próximo ano fiscal. Ela prevê um déficit de US$ 1,75 trilhão e uma série de gastos para reaquecer a economia. Para cada US$ 1 arrecadado, o governo prevê gastar quase US$ 2.
Pela proposta, o governo espera contração de 1,2% no PIB neste ano e recuperação de 3,2% em 2010. As projeções oficiais são muito mais otimistas do que quaisquer outras feitas tanto por órgãos multilaterais estatais quanto privados. Se as expectativas de Obama não se confirmarem, o déficit fiscal dos EUA deverá aumentar abruptamente nos próximos anos. (FERNANDO CANZIAN)


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