São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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LETRA CAPITAL
Livro identifica obstáculo para reformar "chaebols" na Coréia


A OBRA

"The Korean Business Conglomerate - Chaebol Then and Now" Myung Hun Kang. Institute os East Asian Studies - University of California - Bekerley 520 págs. 30.000 wons (cerca de US$ 18,00).



OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro


A principal tarefa do novo presidente da Coréia do Sul, Kim Dae Jung, que tomou posse nesta semana, será desatar um nó tão antigo quanto difícil: o da reforma estrutural dos "chaebols", os gigantescos conglomerados que formam a base da economia do país.
Eleito em dezembro, Kim não esperou a solenidade de transmissão de poder e já conseguiu flexibilizar a legislação trabalhista, que permite aos "chaebols" fazer demissões em massa.
A mudança é apenas o primeiro passo para a reestruturação dos "chaebols", mas não necessariamente o mais importante.
O novo presidente prometeu em campanha enquadrar os conglomerados. Eles deverão ser levados a limitar suas atividades a nichos em que têm excelência, desfazendo-se de negócios que se espalham por todos os setores da economia.
Redimensionados, os "chaebols" poderiam reduzir o elevado nível de endividamento que provocou a crise financeira que quase levou o país à moratória no final do ano passado.
Se a crise é recente, os problemas da Coréia datam de pelo menos duas décadas, como mostra o livro "The Korean Business Conglomerate - Chaebol Then and Now", do economista Myung Hun Kang, da Universidade de Nova York.
O trabalho, anterior à crise do ano passado, identifica em meados dos anos 70 o início da preocupação do governo coreano com o gigantismo das empresas.
Em 1974, numa primeira tentativa de controle, o governo baixou uma série de medidas para tentar melhorar a estrutura financeira dos "chaebols".
Seis anos mais tarde, em 1980, outro pacote limitou a capacidade de as empresas manterem imóveis como ativos e tornou mais rigoroso o critério para a concessão de empréstimos bancários.
A última tentativa de impor limites aos "chaebols" foi feita pelo presidente anterior, que, no entanto, não teve força política para impor sua vontade.
Kim Dae Jung leva pelo menos uma vantagem relativa sobre seu antecessor: Ele conta com o apoio do Fundo Monetário Internacional, que, em dezembro, liderou um empréstimo internacional de US$ 57 bilhões ao país.
Outra vantagem é a percepção popular na Coréia de que algo radical precisa ser feito para enquadrar os "chaebols".
Nenhum dos dois motivos, no entanto, torna o remédio menos amargo. Estimativas conservadoras dão conta de que cerca de 1 milhão de pessoas perderiam o emprego neste ano com o previsto enxugamento dos "chaebols".
Essas empresas nasceram a partir dos anos 50, quando ainda eram pequenas e tinham controle familiar. Na época, a Coréia, que antes da última crise figurava como a décima primeira economia do mundo, era um país pobre.
Os "chaebols" cresceram seguindo o modelo do "zaibatsu", o conglomerado japonês que surgiu após a Segunda Guerra Mundial.
Entre os efeitos positivos dos "chaebols", Hun Kang cita a sinergia. O gigantismo favorece a obtenção de capital, tecnologia e recursos administrativos.
A lista de efeitos negativos, no entanto, é mais importante. O autor menciona a concentração de poder econômico, que leva a uma situação de oligopólio.
Analisa também a distorção provocada pela deterioração vertical e horizontal dos mercados. Ou seja, os "chaebols" produzem tudo (horizontal) e dominam a cadeia de produção (vertical), eliminando a possibilidade de concorrência.
Com isso, os conglomerados acabam sufocando a economia que ajudaram a construir. O crescimento médio dos "chaebols" foi substancialmente superior ao das pequenas e médias empresas desde os anos 60, diz o autor.
Outro efeito negativo é a relação promíscua entre os "chaebols" e o governo, fonte de corrupção.



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