São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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Homens sem emprego no Japão chegam a 1,2 mi em janeiro

MARCIO AITH
de Tóquio

Nunca foi tão alto o índice de desemprego entre homens no Japão desde que o número começou a ser calculado, na segunda metade da década de 40.
Informações divulgadas ontem pelo governo mostram que 3,7% dos japoneses (cerca de 1,2 milhão de trabalhadores) aptos a trabalhar estavam sem emprego no primeiro mês de 1998 -cerca de 115 mil a mais que em dezembro.
O aumento no "índice masculino" só não elevou os números totais de desemprego porque foi compensado pelo número crescente de japonesas que aceitam trabalhos de meio período no setor de serviços para sustentar as despesas domésticas.
Os trabalhos de meio período são praticamente os únicos empregos que têm sido criados desde o início da recente crise econômica japonesa, deflagrada no começo desta década.
Por serem culturalmente associados às mulheres, esses trabalhos não atraem os homens, mesmo os desempregados, que ficam sem alternativa de trabalho.
Um exemplo desse processo foi exposto ontem num programa da televisão japonesa pela família de um ex-executivo da corretora Yamaichi, a quarta maior do país quando quebrou, no final de 97.
Protegida pelo anonimato, a mulher do executivo, desempregado depois da crise da corretora, disse que sustenta sozinha as despesas domésticas com um emprego de três horas diárias.
A tarefa seria mais fácil, segundo ela, se não tivesse que testemunhar a decadência psicológica do marido (52 anos), que trabalhava num emprego que considerava que teria por toda a sua vida.
A mulher disse que estava pensando em suicidar-se, já que o equilíbrio familiar havia sido quebrado. "Não aguento mais vê-lo sentado quando chego em casa."
O emprego para a vida inteira, ou o "lifetime job", é considerado um dos dois segredos da dedicação japonesa ao trabalho. O outro, a promoção por antiguidade, também foi colocado em risco nesta semana, quando os cinco maiores bancos anunciaram que vão extingui-la devido ao corte de custos.



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