São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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COMÉRCIO EXTERIOR
Insuficiência de financiamento para exportações limita vantagem obtida com a desvalorização do real
Crédito curto anula ganho de exportador

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local


O entusiasmo durou pouco. Depois da desvalorização do real, as empresas imaginaram que era hora de aumentar as exportações rapidamente. Mas não contavam com um problema: o crédito, escasso desde setembro de 98, agora está ainda mais raro.
"Está cada vez mais difícil obter financiamento", diz Marcus Vinícius Pratini de Moraes, presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB). "A falta de crédito é o principal impedimento ao crescimento das exportações."
Cada banco tem uma conta diferente para a retração do mercado. A estimativa mais otimista é que hoje estejam sendo renovadas 50% das linhas de crédito que estão vencendo, segundo levantamento da Folha junto a oito grandes bancos. A mais pessimista é de que nem 10% dos empréstimos estão sendo renovados.
"Em janeiro, a renovação dos créditos estava em 60% e agora caiu para 45%", diz Ângelo Vasconcellos, diretor do Unibanco. "A oferta caiu, mas houve aumento de demanda pelos exportadores."
O crédito é importante porque ajuda, principalmente pequenas e médias empresas, a comprar matéria-prima, pagar os empregados e viabilizar a produção.
Nas contas de José Augusto de Castro, diretor da AEB, o Brasil deixou de exportar US$ 3 bilhões, por falta de crédito, desde que o mercado se retraiu para o país, em setembro de 98.
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Boas oportunidades "A desvalorização criou boas oportunidades. Algumas empresas poderiam dobrar as exportações, mas falta crédito", diz Castro.
A razão da seca financeira é uma desconfiança extrema em relação ao país. "A situação devia ter melhorado, mas os investidores querem ter certeza que não vai sair do controle", diz Lúcio de Moura Netto, do Lloyds Bank.
A desconfiança afeta linhas comerciais, mesmo sendo consideradas a forma mais segura de empréstimo. "Teoricamente, o risco é menor porque o país deve privilegiar as exportações", diz Angelim Curiel, do Citibank.
O temor é que o país seja levado a situações extremas, como limitar a saída de dólares, por meio de controle de capitais, ou decretar moratória. Outra razão é que o Brasil ganhou má fama. Analistas financeiros rebaixam a avaliação de empresas com dinheiro aplicado no país, considerado de alto risco.
O preço das ações do Bank of America caiu 40% devido a exposição aos países emergentes. Em 99, o banco não vai trazer dinheiro novo. Vai se limitar a reemprestar o que receber dos clientes no país.
"Os banqueiros estrangeiros vêm aqui e vêem que a situação não é tão grave quanto se fala no exterior, mas é preciso tempo para recuperar a imagem do país", diz Ralf Sommer, diretor do HSBC.




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