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COLAPSO DA ARGENTINA
Parte do gabinete quer fim do câmbio flutuante, mas presidente resiste; medidas podem sair na segunda
Duhalde analisa novo modelo cambial
FABRICIO VEIRA
DE BUENOS AIRES
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo da Argentina usará o
feriado de cinco dias, que começa
hoje, para definir e pode anunciar
até segunda-feira novas medidas
econômicas.
O formato do anúncio dependerá de qual linha de conduta prevalecerá no gabinete do governo
Duhalde: o primeiro conjunto de
medidas, defendido por políticos
e parte do gabinete, prevê a mudança do modelo cambial -e o
abandono do câmbio flutuante.
A segunda vertente, na qual trabalha o ministro da Economia,
Jorge Remes Lenicov, prevê apenas medidas pontuais para conter
a escalada do dólar, mas rechaça
qualquer possibilidade de modificação no regime cambial. Por ora,
é essa mesma posição a defendida
pelo presidente argentino.
A substituição do modelo de
câmbio, seria a forma, defendida
por membros do partido Justicialista e ministros, como José Ignacio de Mendiguren (Produção),
para estancar a contínua desvalorização do peso e o temor de hiperinflação. Desde o fim da conversibilidade, em janeiro, o peso já
perdeu 65% de seu valor frente ao
dólar. Na segunda-feira, a moeda
americana fechou cotada a 3,90
pesos. Entre terça e ontem, por
conta de uma série de ações, que
incluíram pagar taxas de juros de
90% ao ano (para que os investidores trocassem o dólar por aplicação em papéis da dívida pública), o BC argentino conseguiu
conter a disparada.
De acordo com o diário ""Clarín" as três alternativas de sistema
cambial analisadas pelo governo
são: adotar uma nova conversibilidade, determinar uma banda de
flutuação para a cotação do dólar
ou atrelar a cotação do peso a uma
cesta de moedas.
Por quase 11 anos, vigorou na
Argentina o sistema de conversibilidade, que previa a paridade de
um por um entre o peso e o dólar.
A nova proposta, entretanto, estabeleceria uma paridade de um
dólar para cada três pesos.
A fórmula de bandas cambiais
encontra antecedentes no Brasil.
De 1994 a 1999, o governo usou o
sistema de bandas, com limites
mínimos e máximos para o dólar
frente ao real. Para defender a
moeda, porém, contra ataques especulativos chegou a queimar
US$ 1 bilhão de suas reservas internacionais em apenas dois dias.
Similar, o modelo em estudo na
Argentina, determinaria um piso
de 2,60 pesos por dólar e um teto
de 2,80 pesos. O BC venderia dólares para segurar a cotação, se o
valor superasse o teto. Ou compraria, se a cotação caísse abaixo
do piso de 2,60 pesos. Usaria suas
reservas internacionais, que hoje
estão em cerca de US$ 13 bilhões.
A possibilidade de atrelar a cotação do peso a uma cesta de
moeda fora tornada pública por
Domingo Cavallo, ainda antes de
tornar-se ministro do governo
Fernando de la Rúa. Meses mais
tarde, já no cargo, mencionaria
seguidas vezes o tema, mas a única medida nesse sentido seria a de
criar um câmbio diferenciado para os exportadores (com o valor
do peso determinada metade pela
cotação do dólar e metade pela
cotação do peso). Uma cesta de
moedas agora, incluiria a cotação
do dólar (50%), do real (25%) e do
peso (25%), por serem os mercados com os quais a Argentina
mais negocia.
Para analistas, o eventual abandono do regime de flutuação, por
qualquer um dos três modelos,
será muito mais uma decisão política. Primeiro porque significaria, de imediato, uma renúncia do
ministro da Economia, Remes Lenicov. Segundo porque poderia
isolar de vez a Argentina da comunidade financeira internacional.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) já havia condenado o
câmbio fixo argentino e poderia
não validar um retorno ao modelo. Abandonar a flutuação, em
princípio, seria o mesmo que esquecer qualquer possibilidade de
empréstimo do Fundo.
Uma nova conversibilidade significaria impor outra camisa de
força à economia (embora membros do governo afirmem que,
com uma paridade de 3 por 1, os
produtos argentinos manteriam
competitividade). Para analistas,
qualquer medida é um ganha-tempo: de nada adiantaria modificar o sistema cambial se não forem feitas reformas estruturais.
Resta ainda uma quarta opção,
considerada inevitável por parte
do mercado: a dolarização. Cálculos de consultorias apontam que o
governo teria, com o atual nível
das reservas, como trocar toda a
base monetária em pesos.
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