São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Parte do gabinete quer fim do câmbio flutuante, mas presidente resiste; medidas podem sair na segunda

Duhalde analisa novo modelo cambial

FABRICIO VEIRA
DE BUENOS AIRES

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo da Argentina usará o feriado de cinco dias, que começa hoje, para definir e pode anunciar até segunda-feira novas medidas econômicas.
O formato do anúncio dependerá de qual linha de conduta prevalecerá no gabinete do governo Duhalde: o primeiro conjunto de medidas, defendido por políticos e parte do gabinete, prevê a mudança do modelo cambial -e o abandono do câmbio flutuante.
A segunda vertente, na qual trabalha o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, prevê apenas medidas pontuais para conter a escalada do dólar, mas rechaça qualquer possibilidade de modificação no regime cambial. Por ora, é essa mesma posição a defendida pelo presidente argentino.
A substituição do modelo de câmbio, seria a forma, defendida por membros do partido Justicialista e ministros, como José Ignacio de Mendiguren (Produção), para estancar a contínua desvalorização do peso e o temor de hiperinflação. Desde o fim da conversibilidade, em janeiro, o peso já perdeu 65% de seu valor frente ao dólar. Na segunda-feira, a moeda americana fechou cotada a 3,90 pesos. Entre terça e ontem, por conta de uma série de ações, que incluíram pagar taxas de juros de 90% ao ano (para que os investidores trocassem o dólar por aplicação em papéis da dívida pública), o BC argentino conseguiu conter a disparada.
De acordo com o diário ""Clarín" as três alternativas de sistema cambial analisadas pelo governo são: adotar uma nova conversibilidade, determinar uma banda de flutuação para a cotação do dólar ou atrelar a cotação do peso a uma cesta de moedas.
Por quase 11 anos, vigorou na Argentina o sistema de conversibilidade, que previa a paridade de um por um entre o peso e o dólar. A nova proposta, entretanto, estabeleceria uma paridade de um dólar para cada três pesos.
A fórmula de bandas cambiais encontra antecedentes no Brasil. De 1994 a 1999, o governo usou o sistema de bandas, com limites mínimos e máximos para o dólar frente ao real. Para defender a moeda, porém, contra ataques especulativos chegou a queimar US$ 1 bilhão de suas reservas internacionais em apenas dois dias.
Similar, o modelo em estudo na Argentina, determinaria um piso de 2,60 pesos por dólar e um teto de 2,80 pesos. O BC venderia dólares para segurar a cotação, se o valor superasse o teto. Ou compraria, se a cotação caísse abaixo do piso de 2,60 pesos. Usaria suas reservas internacionais, que hoje estão em cerca de US$ 13 bilhões.
A possibilidade de atrelar a cotação do peso a uma cesta de moeda fora tornada pública por Domingo Cavallo, ainda antes de tornar-se ministro do governo Fernando de la Rúa. Meses mais tarde, já no cargo, mencionaria seguidas vezes o tema, mas a única medida nesse sentido seria a de criar um câmbio diferenciado para os exportadores (com o valor do peso determinada metade pela cotação do dólar e metade pela cotação do peso). Uma cesta de moedas agora, incluiria a cotação do dólar (50%), do real (25%) e do peso (25%), por serem os mercados com os quais a Argentina mais negocia.
Para analistas, o eventual abandono do regime de flutuação, por qualquer um dos três modelos, será muito mais uma decisão política. Primeiro porque significaria, de imediato, uma renúncia do ministro da Economia, Remes Lenicov. Segundo porque poderia isolar de vez a Argentina da comunidade financeira internacional.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) já havia condenado o câmbio fixo argentino e poderia não validar um retorno ao modelo. Abandonar a flutuação, em princípio, seria o mesmo que esquecer qualquer possibilidade de empréstimo do Fundo.
Uma nova conversibilidade significaria impor outra camisa de força à economia (embora membros do governo afirmem que, com uma paridade de 3 por 1, os produtos argentinos manteriam competitividade). Para analistas, qualquer medida é um ganha-tempo: de nada adiantaria modificar o sistema cambial se não forem feitas reformas estruturais.
Resta ainda uma quarta opção, considerada inevitável por parte do mercado: a dolarização. Cálculos de consultorias apontam que o governo teria, com o atual nível das reservas, como trocar toda a base monetária em pesos.



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