São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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BC prevê inflação acima da meta e sinaliza alta de juros

Banco eleva projeção de alta do PIB de 4,5% a 4,8% e do IPCA de 4,3% a 4,7%

Diretor do BC argumenta que agir com rapidez contra expectativa de alta de preços minimizaria a intensidade da ação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio à crise financeira externa, o Banco Central elevou de 4,5% para 4,8% sua projeção para o crescimento da economia neste ano, reforçando ainda mais as indicações de que um aumento nos juros está cada vez mais próximo. Segundo o BC, o forte ritmo de expansão é o principal fator a ameaçar o cumprimento das metas de inflação do governo.
A avaliação consta do Relatório de Inflação, divulgado pelo BC a cada três meses com análise da conjuntura econômica do país. Além da nova estimativa para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto), o documento também traz uma elevação nas projeções para a inflação.
A expectativa do BC é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) suba 4,7% neste ano e 4,8% em 2009. Antes, previa um aumento de 4,3% e 4,7%, respectivamente. As contas foram feitas considerando que a taxa Selic e a cotação do dólar vão variar, nos próximos meses, de acordo com as expectativas do mercado financeiro colhidas em levantamento feito há duas semanas.
As novas projeções de inflação não estão muito distantes da meta de 4,5%. Ainda assim, o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse que isso não significa que o cumprimento do objetivo não está ameaçado. A meta de inflação está em 4,5% desde 2005. Embora tenha ficado acima ou abaixo dela no período, a alta do IPCA ficou sempre dentro da margem de tolerância do BC, hoje de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
"Não existe um número mágico [de inflação projetada] que faz com que o Banco Central decida isso ou aquilo. O Banco Central que espera a inflação divergir muito da meta para atuar tende a atuar de forma muito mais intensa e por muito mais tempo", disse.
O aperto monetário seria necessário porque, nas palavras do diretor do BC, "o [risco] mais importante [para a inflação] é o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta". Ou seja, o consumo tem aumentado rapidamente, e há dúvidas sobre a capacidade das empresas em atender à demanda. Esse desequilíbrio pode levar a uma alta da inflação, risco que se reduziria caso o BC elevasse os juros para, justamente, esfriar a economia e reduzir a propensão ao consumo.
Para o economista Tomás Goulart, da Modal Asset Management, o relatório do BC "deixa bem claro que o movimento é de alta [dos juros] já na próxima reunião [do Comitê de Política Monetária do BC]", em abril. A taxa Selic está hoje em 11,25% ao ano.
Goulart concorda que o forte ritmo do PIB pode favorecer um aumento da inflação no futuro. "As pessoas estão consumindo cada vez mais por causa do otimismo geral em relação à economia", disse. Uma alta dos juros poderia, portanto, evitar que esse movimento levasse a um aumento nos preços.
Já para Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, é difícil dizer se o BC elevará os juros em abril ou se aguardará um pouco mais. Mas acha que a alta ocorrerá. "A intenção do BC é subir os juros mesmo, para arrefecer um pouco o avanço da forte demanda."
Teles disse que, pela atual estrutura da economia, não é possível sustentar por muito tempo um crescimento anual superior a 5% sem pressões inflacionárias. Esse problema, diz, só será resolvido com investimentos em setores como o de infra-estrutura, que colabore para o aumento da produtividade das empresas e as torne mais capazes de expandir a produção.


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