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Grifes de moda e luxo voltam a protagonizar negócios milionários
Após a crise global provocar queda na demanda por produtos
de luxo, segmento retoma dinamismo e atrai investidores
Alguns grupos do ramo de
fusões e aquisições estão
redescobrindo seu apetite
pelo varejo e mirando em
marcas como Burberry
ANDREA FELSTED
LINA SAIGOL
DO "FINANCIAL TIMES"
Neste ano, o artigo de compra obrigatória não é um casaco
de couro macio, calças de corte
justo ou a bolsa Alexa da Mulberry, mas sim uma marca de
moda inteirinha.
Na semana passada, o grupo
de moda norte-americano Phillips-Van Heisen, que controla
a Calvin Klein, comprou a marca Tommy Hilfiger, controlada
pela Apax Partners, pagando
US$ 3 bilhões, enquanto a cadeia de varejo britânica French
Connection vendia sua deficitária marca de moda Nicole
Farhi por até US$ 7,4 milhões.
Moda e finanças sempre representaram uma combinação
difícil. Embora algumas marcas
de moda, a exemplo da Burberry e Louis Vuitton, aliem visão estilística e competência
comercial, é comum que exista
tensão entre a criatividade e o
corporativismo financeiro.
"O capital privado convencional tem apetite limitado por
empresas expostas a tendências de moda potencialmente
volúveis", diz Peter Smedley,
analista da Charles Stanley.
No pico da bolha de crédito,
os grupos de capital privado
correram para tomar o controle de marcas de moda. Mas a recessão arremessou o segmento
de bens de luxo a uma crise, o
que dificulta tanto as condições
operacionais quanto os esforços para deixar o setor.
O mercado para ofertas públicas iniciais de ações continua fechado a tudo, exceto às
mais convincentes histórias de
investimento. Muitas marcas
de moda e luxo estão à procura
de reestruturação de seus acordos com os bancos credores, e
querem converter dívidas em
participações de capital.
No entanto, o sentimento do
mercado está melhorando nos
segmentos de produtos de moda e luxo, com demanda mais
forte dos EUA, Europa e Ásia
desde o fim do ano passado. Há
sinais encorajadores de atividade na frente das fusões e aquisições, como a compra da
Tommy Hilfiger por valor equivalente a 7,5 vezes sua ebitda
(lucro antes de juros, impostos,
depreciação, amortização).
A transação sugere que as
empresas do setor, talvez em
busca por preencher lacunas
estratégicas, voltaram a considerar a possibilidade de aquisições. Alguns grupos do ramo de
fusões e aquisições também estão redescobrindo seu apetite
pelo varejo, embora ainda não
se possa determinar se as principais companhias do setor voltarão um dia a demonstrar o
apetite passado pela alta moda.
Enquanto isso, as empresas
de luxo podem também decidir
tirar vantagem do degelo no
mercado e vender subsidiárias,
a fim de concentrar atividades
em seu negócio principal.
Neil Saunders, diretor de
consultoria no grupo de pesquisa de varejo Verdict, diz que
algumas marcas de luxo estão
sendo subaproveitadas e oferecem uma oportunidade de extensão de marca a novas áreas
ou regiões do mundo.
Segundo James Lawson, diretor do Ledbury Research, que
coleta dados sobre mercado de
luxo, há "uma corrida aberta"
para entrar em mercados asiáticos que não o Japão; predominantemente China, depois
Coreia do Sul e Taiwan.
Como resultado, as empresas
estão tentando marcar terreno
nesses mercados, e os atrativos
da Ásia tornam as marcas bastante interessantes para potenciais compradores.
Mas Roger Holmes, diretor
executivo da Change Capital
Partners, uma empresa de capital privado especializada, diz
que os compradores continuarão seletivos, com interesse em
marcas que tenham forte potencial de crescimento e tenham superado a recessão -e
aversão a negócios frágeis.
"O mercado, a essa altura, será muito seletivo", disse Holmes, que vendeu a Jil Sander,
uma marca de moda alemã,
dois anos atrás por três vezes o
valor que sua companhia havia
pago originalmente.
Ao mesmo tempo, algumas
empresas que seriam alvos interessantes de aquisição, tais
como Hermès e Bulgari, continuam sob controle familiar.
Outras podem se provar mais
acessíveis. A Burberry há muito
é considerada como alvo provável de uma tentativa de tomada
de controle, ainda que sua avaliação esteja alta. Suas ações registraram mais de 100% de alta
nos últimos 12 meses.
A Prada tentou por mais de
duas vezes colocar ações no
mercado, com o objetivo de levantar dinheiro para manter
em dia o serviço da dívida em
que incorreu com sua onda de
aquisições no final dos anos 90.
Luca Solca, analista da corretora Sanford C. Bernstein, diz
que a moda fina está sofrendo
pressão estrutural devido aos
avanços do mercado de moda
de massa e a uma base de produção na qual os custos são elevados e prevê uma reacomodação nos próximos anos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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