São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Grifes de moda e luxo voltam a protagonizar negócios milionários

Após a crise global provocar queda na demanda por produtos de luxo, segmento retoma dinamismo e atrai investidores

Alguns grupos do ramo de fusões e aquisições estão redescobrindo seu apetite pelo varejo e mirando em marcas como Burberry

ANDREA FELSTED
LINA SAIGOL
DO "FINANCIAL TIMES"

Neste ano, o artigo de compra obrigatória não é um casaco de couro macio, calças de corte justo ou a bolsa Alexa da Mulberry, mas sim uma marca de moda inteirinha.
Na semana passada, o grupo de moda norte-americano Phillips-Van Heisen, que controla a Calvin Klein, comprou a marca Tommy Hilfiger, controlada pela Apax Partners, pagando US$ 3 bilhões, enquanto a cadeia de varejo britânica French Connection vendia sua deficitária marca de moda Nicole Farhi por até US$ 7,4 milhões.
Moda e finanças sempre representaram uma combinação difícil. Embora algumas marcas de moda, a exemplo da Burberry e Louis Vuitton, aliem visão estilística e competência comercial, é comum que exista tensão entre a criatividade e o corporativismo financeiro.
"O capital privado convencional tem apetite limitado por empresas expostas a tendências de moda potencialmente volúveis", diz Peter Smedley, analista da Charles Stanley.
No pico da bolha de crédito, os grupos de capital privado correram para tomar o controle de marcas de moda. Mas a recessão arremessou o segmento de bens de luxo a uma crise, o que dificulta tanto as condições operacionais quanto os esforços para deixar o setor.
O mercado para ofertas públicas iniciais de ações continua fechado a tudo, exceto às mais convincentes histórias de investimento. Muitas marcas de moda e luxo estão à procura de reestruturação de seus acordos com os bancos credores, e querem converter dívidas em participações de capital.
No entanto, o sentimento do mercado está melhorando nos segmentos de produtos de moda e luxo, com demanda mais forte dos EUA, Europa e Ásia desde o fim do ano passado. Há sinais encorajadores de atividade na frente das fusões e aquisições, como a compra da Tommy Hilfiger por valor equivalente a 7,5 vezes sua ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização).
A transação sugere que as empresas do setor, talvez em busca por preencher lacunas estratégicas, voltaram a considerar a possibilidade de aquisições. Alguns grupos do ramo de fusões e aquisições também estão redescobrindo seu apetite pelo varejo, embora ainda não se possa determinar se as principais companhias do setor voltarão um dia a demonstrar o apetite passado pela alta moda.
Enquanto isso, as empresas de luxo podem também decidir tirar vantagem do degelo no mercado e vender subsidiárias, a fim de concentrar atividades em seu negócio principal.
Neil Saunders, diretor de consultoria no grupo de pesquisa de varejo Verdict, diz que algumas marcas de luxo estão sendo subaproveitadas e oferecem uma oportunidade de extensão de marca a novas áreas ou regiões do mundo.
Segundo James Lawson, diretor do Ledbury Research, que coleta dados sobre mercado de luxo, há "uma corrida aberta" para entrar em mercados asiáticos que não o Japão; predominantemente China, depois Coreia do Sul e Taiwan.
Como resultado, as empresas estão tentando marcar terreno nesses mercados, e os atrativos da Ásia tornam as marcas bastante interessantes para potenciais compradores.
Mas Roger Holmes, diretor executivo da Change Capital Partners, uma empresa de capital privado especializada, diz que os compradores continuarão seletivos, com interesse em marcas que tenham forte potencial de crescimento e tenham superado a recessão -e aversão a negócios frágeis.
"O mercado, a essa altura, será muito seletivo", disse Holmes, que vendeu a Jil Sander, uma marca de moda alemã, dois anos atrás por três vezes o valor que sua companhia havia pago originalmente.
Ao mesmo tempo, algumas empresas que seriam alvos interessantes de aquisição, tais como Hermès e Bulgari, continuam sob controle familiar.
Outras podem se provar mais acessíveis. A Burberry há muito é considerada como alvo provável de uma tentativa de tomada de controle, ainda que sua avaliação esteja alta. Suas ações registraram mais de 100% de alta nos últimos 12 meses.
A Prada tentou por mais de duas vezes colocar ações no mercado, com o objetivo de levantar dinheiro para manter em dia o serviço da dívida em que incorreu com sua onda de aquisições no final dos anos 90.
Luca Solca, analista da corretora Sanford C. Bernstein, diz que a moda fina está sofrendo pressão estrutural devido aos avanços do mercado de moda de massa e a uma base de produção na qual os custos são elevados e prevê uma reacomodação nos próximos anos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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