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Folhainvest
Investidor abandona fundos de ações
Saques nessas aplicações superam R$ 15 bilhões no acumulado do ano; recurso de pessoa física migra para renda fixa
Na opinião de especialistas, perda de ritmo da Bolsa em 2008 e retomada da alta da taxa básica de juros tendem a acentuar esse movimento
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de estar entre as Bolsas de Valores com melhor desempenho em 2008, a Bovespa
tem patinado neste ano. E a
resposta do investidor brasileiro foi imediata: os fundos de
ações têm sofrido saques pesadíssimos nos últimos meses.
Em 2008, até o último dia 18,
os fundos de ações sofreram saques líquidos de R$ 15,03 bilhões. No ano passado, a categoria havia sido destaque na
captação de recursos, com a entrada de novos R$ 18,29 bilhões. Os dados pertencem a levantamento periódico da Anbid (Associação Nacional dos
Bancos de Investimento).
Foi só a Bovespa perder ritmo para que muitos investidores abandonassem o mercado
acionário. A retomada do processo de elevação da taxa básica
da economia apenas tende a
agravar esse cenário.
A perda de recursos representou, para os fundos de
ações, o encolhimento em sua
participação na indústria de
fundos brasileira. De um percentual de 15,59% do total do
mercado alcançado no fim de
2007, essa participação recuou
para 13,57% agora.
A inversão na rota das aplicações no mercado de fundos brasileiro acompanhou a perda de
fôlego da Bolsa. A alta da Bovespa neste ano é bastante tímida,
de apenas 2,04%. Em 2007, a
alta ficou em 43,6%, e em 2006
foi de 32,9%. Este é o sexto ano
consecutivo de alta da Bolsa.
Rodrigo Bresser-Pereira, sócio-diretor da Bresser Asset
Management, afirma que "há
ainda muito uma visão de curto
prazo" em relação à Bolsa de
Valores.
"Muitos investidores entraram na Bolsa animados com a
seqüência de altas dos últimos
anos. Há investidores que entram [em ações] sem estar muito preparados", diz. Dessa forma, como o desempenho de
muitos fundos de ações neste
ano tem decepcionado -ao
menos se pensarmos nos retornos conquistados nos últimos
anos-, os saques acabaram
ocorrendo de forma volumosa.
Vendas de ações
Além dos fundos -que carregam ações e são oferecidos por
bancos, gestoras e outras instituições financeiras- o investidor brasileiro tem sacado recursos de suas aplicações diretas em ações.
Isso é o que mostram dados
da Bovespa, segundo os quais as
vendas de ações feitas pelo investidor pessoa física batem as
compras em R$ 4,12 bilhões
neste mês, até o dia 23.
Com essa fuga de recursos, a
Bovespa apenas não está em
terreno negativo neste mês devido à forte entrada de capital
externo.
O balanço das operações dos
investidores estrangeiros na
Bovespa está positivo em R$
6,39 bilhões neste mês, sendo
este o melhor saldo mensal já
registrado na história.
Com isso, o índice Ibovespa,
o mais relevante do mercado
brasileiro, conseguiu até o momento resultado mensal bastante forte: 6,92% de valorização. Mesmo assim, o investidor
pessoa física tem preferido migrar para a renda fixa.
Concorrência dos juros
A retomada da rota de alta da
taxa básica Selic, que subiu de
11,25% para 11,75% neste mês,
deu novo alento às aplicações
que acompanham os juros, como os fundos DI e de renda fixa.
O economista Alexandre
Lintz, do BNP Paribas, diz que a
elevação dos juros pelo Banco
Central eleva a atratividade dos
investimentos de renda fixa
"em detrimento do mercado
acionário". "E isso acaba por fazer com que investidores prefiram trocar o risco [representado pelas ações] por aplicações
de renda fixa."
Os fundos DI registram captação líquida (diferença entre
aplicações e resgates) de R$
12,09 bilhões no ano. E a renda
fixa captou outros R$ 10,34 bilhões em 2008. Os dados mostram o rumo que os investidores têm preferido dar a suas
economias neste momento.
Se nos últimos cinco anos a
Bolsa liderou o ranking de rentabilidade dentre as principais
formas de aplicação, deixando
para trás investimentos como
os fundos de renda fixa e DI
-que seguem a oscilação das
taxas de juros-, em 2008 a realidade é diferente. Enquanto os
fundos que seguem os juros
têm retorno médio anual acima
de 3%, o Ibovespa -principal
índice da Bolsa- subiu 2,04%
em 2008 até o momento. Além
disso, esteve no vermelho em
vários momentos do ano.
A expectativa do mercado é
que a taxa básica Selic seguirá
em alta, o que pode tirar ainda
mais recursos do mercado acionário -a não ser que a Bolsa dê
continuidade a seu bom desempenho de abril.
A pesquisa "Focus", que é
realizada semanalmente pelo
Banco Central junto a cem instituições financeiras, mostra
que a expectativa é que a taxa
básica de juros da economia esteja em 12,75% anuais no fim de
2008. Ou seja, todos esperam
que os juros sigam em rota de
alta por algum tempo.
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