São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

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Folhainvest

Investidor abandona fundos de ações

Saques nessas aplicações superam R$ 15 bilhões no acumulado do ano; recurso de pessoa física migra para renda fixa

Na opinião de especialistas, perda de ritmo da Bolsa em 2008 e retomada da alta da taxa básica de juros tendem a acentuar esse movimento

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de estar entre as Bolsas de Valores com melhor desempenho em 2008, a Bovespa tem patinado neste ano. E a resposta do investidor brasileiro foi imediata: os fundos de ações têm sofrido saques pesadíssimos nos últimos meses.
Em 2008, até o último dia 18, os fundos de ações sofreram saques líquidos de R$ 15,03 bilhões. No ano passado, a categoria havia sido destaque na captação de recursos, com a entrada de novos R$ 18,29 bilhões. Os dados pertencem a levantamento periódico da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Foi só a Bovespa perder ritmo para que muitos investidores abandonassem o mercado acionário. A retomada do processo de elevação da taxa básica da economia apenas tende a agravar esse cenário.
A perda de recursos representou, para os fundos de ações, o encolhimento em sua participação na indústria de fundos brasileira. De um percentual de 15,59% do total do mercado alcançado no fim de 2007, essa participação recuou para 13,57% agora.
A inversão na rota das aplicações no mercado de fundos brasileiro acompanhou a perda de fôlego da Bolsa. A alta da Bovespa neste ano é bastante tímida, de apenas 2,04%. Em 2007, a alta ficou em 43,6%, e em 2006 foi de 32,9%. Este é o sexto ano consecutivo de alta da Bolsa.
Rodrigo Bresser-Pereira, sócio-diretor da Bresser Asset Management, afirma que "há ainda muito uma visão de curto prazo" em relação à Bolsa de Valores.
"Muitos investidores entraram na Bolsa animados com a seqüência de altas dos últimos anos. Há investidores que entram [em ações] sem estar muito preparados", diz. Dessa forma, como o desempenho de muitos fundos de ações neste ano tem decepcionado -ao menos se pensarmos nos retornos conquistados nos últimos anos-, os saques acabaram ocorrendo de forma volumosa.

Vendas de ações
Além dos fundos -que carregam ações e são oferecidos por bancos, gestoras e outras instituições financeiras- o investidor brasileiro tem sacado recursos de suas aplicações diretas em ações.
Isso é o que mostram dados da Bovespa, segundo os quais as vendas de ações feitas pelo investidor pessoa física batem as compras em R$ 4,12 bilhões neste mês, até o dia 23.
Com essa fuga de recursos, a Bovespa apenas não está em terreno negativo neste mês devido à forte entrada de capital externo.
O balanço das operações dos investidores estrangeiros na Bovespa está positivo em R$ 6,39 bilhões neste mês, sendo este o melhor saldo mensal já registrado na história.
Com isso, o índice Ibovespa, o mais relevante do mercado brasileiro, conseguiu até o momento resultado mensal bastante forte: 6,92% de valorização. Mesmo assim, o investidor pessoa física tem preferido migrar para a renda fixa.

Concorrência dos juros
A retomada da rota de alta da taxa básica Selic, que subiu de 11,25% para 11,75% neste mês, deu novo alento às aplicações que acompanham os juros, como os fundos DI e de renda fixa.
O economista Alexandre Lintz, do BNP Paribas, diz que a elevação dos juros pelo Banco Central eleva a atratividade dos investimentos de renda fixa "em detrimento do mercado acionário". "E isso acaba por fazer com que investidores prefiram trocar o risco [representado pelas ações] por aplicações de renda fixa."
Os fundos DI registram captação líquida (diferença entre aplicações e resgates) de R$ 12,09 bilhões no ano. E a renda fixa captou outros R$ 10,34 bilhões em 2008. Os dados mostram o rumo que os investidores têm preferido dar a suas economias neste momento.
Se nos últimos cinco anos a Bolsa liderou o ranking de rentabilidade dentre as principais formas de aplicação, deixando para trás investimentos como os fundos de renda fixa e DI -que seguem a oscilação das taxas de juros-, em 2008 a realidade é diferente. Enquanto os fundos que seguem os juros têm retorno médio anual acima de 3%, o Ibovespa -principal índice da Bolsa- subiu 2,04% em 2008 até o momento. Além disso, esteve no vermelho em vários momentos do ano.
A expectativa do mercado é que a taxa básica Selic seguirá em alta, o que pode tirar ainda mais recursos do mercado acionário -a não ser que a Bolsa dê continuidade a seu bom desempenho de abril.
A pesquisa "Focus", que é realizada semanalmente pelo Banco Central junto a cem instituições financeiras, mostra que a expectativa é que a taxa básica de juros da economia esteja em 12,75% anuais no fim de 2008. Ou seja, todos esperam que os juros sigam em rota de alta por algum tempo.


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