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AGROFOLHA
AGRICULTURA
Investidores dos Estados Unidos são atraídos pelos baixos preços da terra e pelo menor custo para produzir
Norte-americanos vêm ao Brasil plantar soja
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os produtores de soja norte-americanos descobriram o Brasil.
Trinta grupos chegaram ao país
nos últimos anos e outros 20 analisam o mercado atualmente e
mostram intenção de investir em
solo brasileiro.
Esses investidores aproveitam
os preços baixos da terra nas regiões de fronteiras agrícolas do
país, como o Centro-Oeste e o
Nordeste, e compram grandes extensões.
A participação de estrangeiros
na produção de soja no Brasil poderá chegar a 500 mil hectares nos
próximos anos. O tamanho médio das áreas adquiridas por esses
investidores é de 10 mil hectares.
O Brasil planta atualmente 15,6
milhões de hectares com soja.
A atração dos norte-americanos
pelo mercado brasileiro é provocada por vários fatores. Um deles
é a grande diferença de custo de
produção entre os Estados Unidos e as novas regiões agrícolas
brasileiras, segundo Anderson
Galvão, consultor da MPrado
Consultoria Empresarial, de
Uberlândia (MG).
Galvão assessora um grupo de
seis norte-americanos e quatro
brasileiros que possuem 22 mil
hectares em Jaborandi, na Bahia,
a 300 km de Brasília.
Declínio nos EUA
A produção em escala é outro
fator importante na decisão desses investidores, segundo Paulo
Marthaus, da Insolo, de Ponta
Grossa (PR), empresa especializada em assessoramento em investimentos agrícolas.
Marthaus diz que melhorias nos
meios de escoamento do produto
brasileiro, antes totalmente dependente da malha rodoviária,
também é um item favorável nessa decisão.
Para Fernando Muraro, analista
da Agência Rural, de Curitiba,
uma das causas da vinda desses
grupos é o atual estado de declínio
da produção norte-americana de
soja.
A terra é cara, a produtividade
não cresce, os investimentos ficam cada vez mais onerosos e o
risco financeiro aumenta ano a
ano. Os subsídios, apesar de elevados, vão para as mãos de poucos produtores devido à concentração de terras.
Para o governo brasileiro, que
acompanha esse movimento de
vinda de investidores estrangeiros ao país, os norte-americanos
vêm em busca de lucro.
Pedro de Camargo Neto, secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura,
diz que as boas condições de produção no Brasil são amplamente
divulgadas em revistas e jornais
especializados norte-americanos.
Essa publicidade acaba despertando a atenção dos produtores.
Nas contas do governo, esses grupos somam de 20 a 30.
Mais barato no Brasil
Uma comparação dos gastos e
da produção de soja nos Estados
Unidos e no Brasil mostra que as
diferenças são gritantes.
Colocados na balança, pesam a
favor dos brasileiros, que, na última década, registram aumentos
constantes de produtividade a
custos cada vez menores.
Um hectare de terra em Iowa, o
filé mignon da produção norte-americana de soja, custa US$
6.500 (R$ 16,25 mil).
Nas regiões de fronteiras agrícolas brasileiras, o custo do hectare é
de US$ 163 (R$ 407) para a terra
bruta, diz Galvão. Com US$ 280
(R$ 700), a terra fica em condições
de produzir, diz o consultor.
O produtor norte-americano
que quiser aumentar a área plantada em Iowa precisa de 770 sacas
de soja para adquirir um novo
hectare de terra.
No Brasil, com apenas 35 sacas
se compra um hectare de terra em
condições de produção nas novas
fronteiras agrícolas.
O custo de produção dos norte-americanos também fica distante
dos registrados no Brasil. Eles
gastam US$ 11,30 (R$ 28) para
produzir uma saca de soja, bem
acima dos US$ 8,60 (R$ 21) dos
produtores nacionais de Mato
Grosso, segundo dados do Usda
(Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos).
Há dez anos, a produção média
de soja no Brasil era de 34 sacas
por hectare. No mesmo período, a
produção norte-americana era de
39 sacas. Em 2001, a produção de
Mato Grosso chegou a 51 sacas
por hectare, contra apenas 44 nos
Estados Unidos.
Muraro diz que essa diferença
deve aumentar porque o mercado
norte-americano está mais voltado para a produção de milho, ao
contrário do brasileiro, que dá
prioridade à soja.
Parceria
Galvão diz que os investimentos
estrangeiros no Brasil são feitos
por grandes investidores e, em geral, sempre em parceria com brasileiros. O desconhecimento do
país e a barreira da língua dificultam investimentos isolados.
Marthaus diz que muitos desses
investidores são fundos de investimentos voltados para a área
agrícola, que dão o gerenciamento dos negócios a empresas brasileiras. A Insolo, empresa de Marthaus, presta assessoria a investimentos que somam 100 mil hectares entre investimentos nacionais
e estrangeiros.
Os investidores necessitam de
um bom capital inicial. A terra é
barata, mas só vai ficar em condições ideais de produção após cinco anos.
Quanto maior o investimento
inicial na preparação da terra,
mais rápido será o retorno do dinheiro aplicado devido ao aumento de produção.
Galvão diz que quando os investimentos iniciais são pequenos, a
produtividade é baixa e o custo de
produção chega a R$ 8,18 (R$ 20)
por saca, acima do valor recebido
na venda do produto. Em uma
terra melhor preparada, o custo
da saca fica por US$ 6,63 (R$
16,60) logo na primeira safra, diz
Galvão.
Poucas empresas informam o
valor dos investimentos. Em geral, ficam próximos dos da fazenda que Galvão está assessorando
em Jaborandi. Em sete anos, o
grupo deverá investir US$ 8 milhões (R$ 20 milhões).
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