|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O MoMA e o Masp
A contrapartida para ser aceito em tal instituição [MoMA] era a de contribuir para sua manutenção
|
ALGUM TEMPO atrás, o sonho
de status de dez em dez milionários brasileiros era ser do
Conselho do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Pouquíssimos conseguiram, pois necessitavam casar bom gosto, discrição, padrinhos influentes e... recursos financeiros. A contrapartida para ser
aceito em tão prestigiosa instituição
era a de contribuir para sua manutenção.
O Masp (Museu de Arte de São
Paulo) é um dos melhores museus
do mundo. Foi um ato benigno de
megalomania do jornalista Assis
Chateaubriand. Do Brasil, o acervo
incorporou Anita Malfatti, Volpi, Lívio Abramo, Portinari, Flávio de
Carvalho, Almeida Júnior entre
muitos outros. Da França, importou
Monet, Delacroix, Matisse, Toulouse-Lautrec, Marc Chagall, o basco
Picasso, esculturas de Rodin. Da Itália, adquiriu Modigliani, Boticelli,
Tiziano. Tem Rembrandt, Rubens,
Bosch.
Durante algum tempo, o Masp
serviu de álibi para as façanhas de
Edemar Cid Ferreira, o banqueiro-mecenas responsável por um dos
maiores rombos da história do sistema financeiro brasileiro. Mas foi um
acidente de percurso. A diretoria do
Masp é uma constelação de nomes
tradicionais, uma elite discreta e de
bom gosto.
O presidente é o arquiteto Júlio
Neves, o "rei" da Faria Lima, um dos
mais prestigiados e bem-sucedidos
da praça. O vice é Plínio Salles Souto,
o último dos gentil-homens e que,
nos anos 50, estimulado por Assis
Chateaubriand, contribuiu com um
quadro relevante para o acervo do
museu, se não me engano um Rembrandt.
O secretário-geral é João da Cruz
Vicente de Azevedo, dono de um
acervo portentoso, que inclui obras
de Benedito Calixto. O tesoureiro é
Luiz de Camargo Aranha Neto, sócio de uma das mais prestigiadas
bancas de advocacia da praça. Entre
os diretores, tem dona Beatriz Pimenta Camargo, que também é do
"board" do MoMA. O sogro de sua filha é Aloisio Rebello de Araújo, dono
da CBPO. E tem Manuel Francisco
Pires da Costa, homem de finanças
muito bem-sucedido e um bom intérprete de sambas-canções.
O Conselho Deliberativo é outra
constelação onde brilham cirurgiões consagrados, como Adib Jatene e José Aristodemo Pinotti, publicitários de sucesso, como Alex Periscinotto e Nizan Guanaes, a condessa
Graziella Leonetti, filha do conde
Luiz Eduardo Matarazzo, o único do
clã que manteve uma sólida fortuna
imobiliária. Tem Pedro Franco Piva,
da Klabin, o advogado Paulo José da
Costa Júnior, o rico criador de gado
Jovelino Mineiro, o banqueiro Antonio Beltrán Martinez.
Pois é essa casa, que honra tanto
os seus membros, conselheiros e diretores, que orgulha São Paulo, que
teve sua energia elétrica cortada por
conta de um débito de R$ 3 milhões,
muito para os mortais comuns, pouco para esse ilustre colegiado de ricos e notáveis.
Que tal começar a importar os aspectos mais sadios e meritórios da
sociedade americana e de Wall
Street, e os ilustres diretores e conselheiros começarem a correr o pires? Será uma maneira de demonstrar ao Brasil que os ricos de São
Paulo vão muito além do provincianismo deslumbrado de uma Daslu.
@ - Luisnassif uol.com.br
Texto Anterior: Banco Central e Fazenda divergem na turbulência Próximo Texto: Equipe temeu "estragos irreversíveis" Índice
|