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SDE suspende garrafa personalizada da AmBev
Concorrentes apontam abuso de poder econômico
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A AmBev, donas das marcas
Skol, Antarctica, Brahma e Bohemia, tem um prazo de dez
dias para suspender o uso de
sua nova garrafa retornável de
630 ml, com o nome da empresa em relevo. Além disso, tem
três meses para recolher as que
já estão nos mercados do Rio e
de Porto Alegre. A decisão, da
Secretaria de Direito Econômico (SDE), foi publicada ontem
no "Diário Oficial da União".
A SDE também determinou
que, toda vez que os concorrentes da companhia acumularem
seis pallets (um pallet equivale
a um conjunto de 44 caixas de
cervejas empilhadas) de garrafas com a grafia da AmBev, poderão solicitar a troca das embalagens pelas de uso comum
dos fabricantes por meio de um
fax, que deverá ser disponibilizado pela AmBev. A cervejaria
terá 48 horas para fazer a troca.
Em caso de descumprimento
das medidas, a AmBev terá de
pagar multa diária no valor de
R$ 100 mil até a decisão final do
processo administrativo.
A decisão da SDE, considerada medida preventiva, ocorreu
após pedido de investigação de
eventual abuso de poder econômico da Abrabe (Associação
Brasileira de Bebidas), da Afrebras (Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil) e
da Femsa (Kaiser), caso as novas garrafas da AmBev permaneçam no mercado.
Para as duas associações e a
Femsa, o compartilhamento de
garrafas retornáveis de 600 ml,
como ocorre há décadas no
país, favorece indústrias, comerciantes e consumidores.
Com as novas garrafas, na
avaliação de concorrentes, a
AmBev, que é líder no mercado
de cerveja, limitaria o uso de
embalagens pelos concorrentes e aumentaria os custos dos
pontos-de-venda, que teriam
de separar os vasilhames.
"A AmBev pode ter o tipo de
garrafa que quiser e se diferenciar do mercado. O problema é
que a garrafa que lançou é muito parecida com a que está no
mercado e causa confusão e alta de custos para a separação
nos pontos-de-venda", afirma
Ana Paula Martinez, diretora
do Departamento de Proteção
e Defesa Econômica da SDE.
A SDE instaurou processo
administrativo para investigar
se a nova garrafa da AmBev
causa abuso de poder econômico. Após defesa feita pela cervejaria, o processo deverá ser enviado ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para julgamento do processo em última instância.
"Como há indícios fortes de
que essa prática afeta o mercado de forma severa, adotamos
medida preventiva, que é determinar que a AmBev se abstenha de usar a garrafa", diz.
Para identificar o impacto da
introdução da nova garrafa da
AmBev no mercado, técnicos
da SDE visitaram 32 pontos-de-venda no Rio de Janeiro
-40,6% dos comerciantes informaram que a nova embalagem resultou em aumento de
trabalho para os empregados e
81% disseram que eles mesmos
tinham de fazer a separação
dos vasilhames da AmBev.
Técnicos da SDE também visitaram a fabrica da Cervejaria
Petrópolis, no Rio de Janeiro, e
viram as garrafas da AmBev
que foram trazidas por engano
e que voltariam aos pontos-de-venda para serem trocadas.
"O relato é que a alternativa
mostra-se custosa e significa
redução no volume de cerveja
vendido pela Petrópolis. A armazenagem também seria custosa, uma vez que exige espaço
físico", cita relatório da SDE.
Fernando Rodrigues Bairros,
presidente da Afrebras, diz que
a decisão da SDE mostra que o
"país passou a se preocupar
com concorrência desleal". "As
novas garrafas da AmBev limitam a concorrência", afirma.
"A decisão da SDE foi perfeita tecnicamente e estancou um
problema que afligia as cervejarias", afirma Gianni Nunes,
uma das advogadas da Femsa.
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