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análise
Crédito para as empresas segue travado
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao divulgar os dados sobre
a evolução das operações de
crédito do sistema financeiro em abril, o Banco Central
afirmou que o crédito "manteve a tendência de expansão
moderada".
O release do Banco Central citou, para sustentar essa afirmativa, que o estoque
total de crédito cresceu 0,4%
sobre março. Esse crescimento é bastante limitado.
Nos últimos três anos, só
houve dois meses em que se
observaram taxas de variação (sobre o mês imediatamente anterior) ainda mais
baixas: em janeiro e em fevereiro deste ano.
E mesmo esse baixo crescimento só tem sido possível
graças à expansão do crédito
ofertado pelos bancos públicos -que voltaram a aumentar seu peso no estoque total
de crédito, para 37,7%.
Isso significa uma participação 3,5 pontos percentuais
maior do que na média dos
primeiros nove meses de
2008 -vale lembrar que foi
sobretudo a partir de meados
de setembro (quando a confiança despencou, em nível
mundial, como reflexo da
quebra do gigantesco banco
de investimentos Lehman
Brothers) que os bancos privados aumentaram a seletividade em suas operações de
crédito.
O crédito às famílias até
que tem se recuperado. A demanda dos consumidores
por crédito tem recebido forte estímulo, por meio das reduções de impostos concedidas primeiro aos automóveis, depois a materiais de
construção e a eletrodomésticos da linha branca.
Pelo lado da oferta, os bancos têm relaxado um pouco
sua cautela. Contribuem para isso os cortes da Selic (taxa
básica de juros), que estão
barateando a captação de recursos, e o fato de que o desemprego não tem aumentado tão rapidamente quanto
se chegou a temer, amenizando o risco de inadimplência.
As dificuldades continuam
maiores no crédito às empresas, sobretudo às de menor
porte, que têm menos garantias a oferecer. Uma das razões é a inadimplência, que
em abril voltou a aumentar
(enquanto a inadimplência
das pessoas físicas diminuiu
ligeiramente, de acordo com
os dados do Banco Central).
Um dos números divulgados pelo Banco Central dá
uma ideia do aperto: em
abril, os novos empréstimos
concedidos às pessoas jurídicas a partir dos chamados recursos livres (a parcela da
captação dos bancos que não
tem de ser direcionada a ramos específicos, como a agricultura ou a habitação) foram 7,7% menores, em termos nominais, do que em
igual mês de 2008.
O travamento do crédito às
empresas é um gargalo que
limita o ritmo da recuperação da atividade econômica.
O Ministério da Fazenda
prometeu, há duas semanas,
enviar ao Congresso uma
medida provisória criando
um fundo, com dotação de
R$ 4 bilhões, que daria garantias a quem emprestar
para pequenas e médias empresas. Até agora, a proposta
não chegou ao Legislativo.
Os dados do Banco Central
atestam o quanto a matéria,
sem dúvida relevante, continua urgente.
FERNANDO SAMPAIO , economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores.
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