São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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análise

Crédito para as empresas segue travado

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao divulgar os dados sobre a evolução das operações de crédito do sistema financeiro em abril, o Banco Central afirmou que o crédito "manteve a tendência de expansão moderada".
O release do Banco Central citou, para sustentar essa afirmativa, que o estoque total de crédito cresceu 0,4% sobre março. Esse crescimento é bastante limitado.
Nos últimos três anos, só houve dois meses em que se observaram taxas de variação (sobre o mês imediatamente anterior) ainda mais baixas: em janeiro e em fevereiro deste ano.
E mesmo esse baixo crescimento só tem sido possível graças à expansão do crédito ofertado pelos bancos públicos -que voltaram a aumentar seu peso no estoque total de crédito, para 37,7%.
Isso significa uma participação 3,5 pontos percentuais maior do que na média dos primeiros nove meses de 2008 -vale lembrar que foi sobretudo a partir de meados de setembro (quando a confiança despencou, em nível mundial, como reflexo da quebra do gigantesco banco de investimentos Lehman Brothers) que os bancos privados aumentaram a seletividade em suas operações de crédito.
O crédito às famílias até que tem se recuperado. A demanda dos consumidores por crédito tem recebido forte estímulo, por meio das reduções de impostos concedidas primeiro aos automóveis, depois a materiais de construção e a eletrodomésticos da linha branca.
Pelo lado da oferta, os bancos têm relaxado um pouco sua cautela. Contribuem para isso os cortes da Selic (taxa básica de juros), que estão barateando a captação de recursos, e o fato de que o desemprego não tem aumentado tão rapidamente quanto se chegou a temer, amenizando o risco de inadimplência.
As dificuldades continuam maiores no crédito às empresas, sobretudo às de menor porte, que têm menos garantias a oferecer. Uma das razões é a inadimplência, que em abril voltou a aumentar (enquanto a inadimplência das pessoas físicas diminuiu ligeiramente, de acordo com os dados do Banco Central).
Um dos números divulgados pelo Banco Central dá uma ideia do aperto: em abril, os novos empréstimos concedidos às pessoas jurídicas a partir dos chamados recursos livres (a parcela da captação dos bancos que não tem de ser direcionada a ramos específicos, como a agricultura ou a habitação) foram 7,7% menores, em termos nominais, do que em igual mês de 2008.
O travamento do crédito às empresas é um gargalo que limita o ritmo da recuperação da atividade econômica.
O Ministério da Fazenda prometeu, há duas semanas, enviar ao Congresso uma medida provisória criando um fundo, com dotação de R$ 4 bilhões, que daria garantias a quem emprestar para pequenas e médias empresas. Até agora, a proposta não chegou ao Legislativo.
Os dados do Banco Central atestam o quanto a matéria, sem dúvida relevante, continua urgente.


FERNANDO SAMPAIO , economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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