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Com expansão menor, dívida do governo cresce
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os efeitos negativos da desaceleração da economia já são sentidos pelos indicadores fiscais do
país. Segundo dados divulgados
ontem pelo Banco Central, a dívida pública, na comparação com o
PIB (Produto Interno Bruto), é,
hoje, maior do que se imaginava.
Em maio, o endividamento do
setor público representava 50,3%
do PIB. Antes, o BC calculava que
essa proporção fosse ficar em
50%, mas refez suas contas depois
da notícia de que a economia brasileira está crescendo menos do
que se supunha.
"Isso se deve à alteração do PIB.
Nós trabalhávamos com um crescimento de 5,2%, e veio 4,9%", diz
o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. No
mês passado, o IBGE divulgou
uma revisão nos seus cálculos, segundo os quais o país cresceu
4,9% em 2004, e não 5,2%.
A mudança representou queda
de R$ 13 bilhões no valor do PIB
usado pelo BC para o cálculo da
dívida pública. Conseqüentemente, o endividamento, que no mês
passado somava R$ 957,570 bilhões, representa, agora, uma fatia
maior do PIB.
O PIB é o total de riquezas produzidas em um determinado período de tempo e é formado por
gastos e investimentos feitos por
famílias e empresas e pelas despesas do governo. Ao comparar a dívida pública com o PIB, o que se
faz é relacionar os compromissos
financeiros do governo com o tamanho da economia do país
-em tese, quanto maior a economia, maior é a capacidade do governo de conseguir empréstimos
ou arrecadar tributos para, assim,
pagar suas dívidas em dia.
A situação fiscal do país era uma
das principais preocupações em
1998, quando o governo fechou o
primeiro de uma série de acordos
com o FMI, que só se encerrou no
começo deste ano. Naquela época, a idéia era estabilizar a relação
dívida/PIB em torno de 46,5%,
objetivo nunca alcançado. Em
2002, às vésperas das eleições presidenciais, a disparada do dólar
fez com que o endividamento de
União, Estados, municípios e estatais ultrapassasse 60% do PIB.
Neste ano, porém, o BC acha
que o crescimento menor poderá
ser compensado pela queda mais
acentuada do dólar. Ela deve ser
suficiente para fazer com que a
proporção entre endividamento e
PIB feche 2005 em 51,3%, como já
previsto pelo governo.
Outro fator de pressão sobre o
equilíbrio fiscal é a taxa Selic, que
corrige metade dos compromissos do governo. A taxa é fixada
pelo BC com o objetivo de controlar a inflação, mas juros altos prejudicam o equilíbrio fiscal.
Ao longo de 2004, por exemplo,
o setor público precisou pagar R$
128,256 bilhões de juros -o equivalente a 7,26% do PIB do período. O impacto dos juros na relação entre dívida e PIB poderia ser
compensado com um crescimento maior da economia, o que não
tem se observado.
O governo poderia optar ainda
por tomar novos empréstimos,
mas isso provocaria um aumento
muito forte na dívida. A alternativa é o aperto fiscal, obtido por
meio de uma combinação de cortes de gastos e aumento de tributos. No ano passado, esse aperto
resultou em um superávit primário de R$ 81,112 bilhões, que serviu para compensar parte das
despesas com juros.
(NHC)
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