São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2005

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Com expansão menor, dívida do governo cresce

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os efeitos negativos da desaceleração da economia já são sentidos pelos indicadores fiscais do país. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, a dívida pública, na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto), é, hoje, maior do que se imaginava.
Em maio, o endividamento do setor público representava 50,3% do PIB. Antes, o BC calculava que essa proporção fosse ficar em 50%, mas refez suas contas depois da notícia de que a economia brasileira está crescendo menos do que se supunha.
"Isso se deve à alteração do PIB. Nós trabalhávamos com um crescimento de 5,2%, e veio 4,9%", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. No mês passado, o IBGE divulgou uma revisão nos seus cálculos, segundo os quais o país cresceu 4,9% em 2004, e não 5,2%.
A mudança representou queda de R$ 13 bilhões no valor do PIB usado pelo BC para o cálculo da dívida pública. Conseqüentemente, o endividamento, que no mês passado somava R$ 957,570 bilhões, representa, agora, uma fatia maior do PIB.
O PIB é o total de riquezas produzidas em um determinado período de tempo e é formado por gastos e investimentos feitos por famílias e empresas e pelas despesas do governo. Ao comparar a dívida pública com o PIB, o que se faz é relacionar os compromissos financeiros do governo com o tamanho da economia do país -em tese, quanto maior a economia, maior é a capacidade do governo de conseguir empréstimos ou arrecadar tributos para, assim, pagar suas dívidas em dia.
A situação fiscal do país era uma das principais preocupações em 1998, quando o governo fechou o primeiro de uma série de acordos com o FMI, que só se encerrou no começo deste ano. Naquela época, a idéia era estabilizar a relação dívida/PIB em torno de 46,5%, objetivo nunca alcançado. Em 2002, às vésperas das eleições presidenciais, a disparada do dólar fez com que o endividamento de União, Estados, municípios e estatais ultrapassasse 60% do PIB.
Neste ano, porém, o BC acha que o crescimento menor poderá ser compensado pela queda mais acentuada do dólar. Ela deve ser suficiente para fazer com que a proporção entre endividamento e PIB feche 2005 em 51,3%, como já previsto pelo governo.
Outro fator de pressão sobre o equilíbrio fiscal é a taxa Selic, que corrige metade dos compromissos do governo. A taxa é fixada pelo BC com o objetivo de controlar a inflação, mas juros altos prejudicam o equilíbrio fiscal.
Ao longo de 2004, por exemplo, o setor público precisou pagar R$ 128,256 bilhões de juros -o equivalente a 7,26% do PIB do período. O impacto dos juros na relação entre dívida e PIB poderia ser compensado com um crescimento maior da economia, o que não tem se observado.
O governo poderia optar ainda por tomar novos empréstimos, mas isso provocaria um aumento muito forte na dívida. A alternativa é o aperto fiscal, obtido por meio de uma combinação de cortes de gastos e aumento de tributos. No ano passado, esse aperto resultou em um superávit primário de R$ 81,112 bilhões, que serviu para compensar parte das despesas com juros. (NHC)


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