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Planalto tenta evitar mudança na LDO
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às voltas com sua maior crise
política, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva ainda terá de se desgastar no Congresso para derrubar modificações introduzidas
pelo próprio PT no projeto da Lei
de Diretrizes Orçamentárias.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) disse à Folha que
negociará com os parlamentares a
nova versão da LDO para 2006,
apresentada na última sexta-feira
pelo relator do projeto, o deputado Gilmar Machado (PT-MG).
Em tese, a LDO deveria ser votada
hoje pela Comissão de Orçamento e depois de amanhã pelo Congresso -que, só então, poderá
entrar em recesso.
Na contramão da política econômica, o texto de Machado abre
caminho para um aperto fiscal
menor no próximo ano e cria brechas para driblar os limites fixados para a carga tributária e os
gastos públicos -o que o ministro considerou "preocupante".
Machado, com o apoio da bancada petista, introduziu na LDO
uma antiga promessa da equipe
econômica: a política fiscal anticíclica, pela qual o governo deve
poupar mais nos momentos de
maior crescimento e elevar o déficit público para enfrentar os períodos de retração.
A idéia, que contava -oficialmente, ao menos- com a simpatia do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda), foi abandonada
em 2004, em razão do temor de o
mercado e o mundo político a interpretarem como forma de escapar das metas fiscais cujo objetivo
é a redução da dívida pública.
Se aprovado, o texto de Machado tende a reduzir a meta do superávit primário, fixada em 4,25%
do Produto Interno Bruto. Pela
regra prevista, o superávit será reduzido para 4% do PIB se a economia crescer menos de 4,5% em
2006 -o mercado estima taxa de
3,5%- e elevado a 4,5% do PIB
na hipótese hoje improvável de
crescimento econômico maior.
"Vão querer mudar a política
econômica com uma emenda na
LDO?", questiona Bernardo.
O ministro disse ter encomendado estudos sobre a proposta de
Machado ao Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Planejamento) e a conclusão foi que "há dificuldade de
entender o efeito que aquilo [o superávit anticíclico] causaria".
Em avaliações reservadas, o núcleo mais ortodoxo da equipe
econômica avalia que a prioridade zero é reduzir a dívida pública,
hoje na casa dos 50% do PIB, para
um patamar inferior a 40% do
produto no menor intervalo de
tempo possível -que, nos cálculos mais otimistas, seria de no mínimo mais um mandato presidencial. Logo, a política anticíclica
deveria servir para elevar o superávit primário; reduzir, nunca.
Limites
Outra preocupação é com as
brechas introduzidas contra os limites máximos fixados pelo governo para a arrecadação administrada pela Receita, de 16% do
PIB, e para as despesas correntes
(pessoal e custeio, incluindo programas sociais), de 17% do PIB.
O novo texto tira do limite para
a carga tributária as receitas atípicas, não obtidas pela cobrança ordinária de tributos, e cria a possibilidade de uma "reserva de recursos" a ser formada com o
eventual excesso da arrecadação
normal -e autoriza o uso do dinheiro em despesas que extrapolem os 17% do PIB. A proposta de
Bernardo é que, caso haja excesso
de arrecadação, o governo envie
ao Congresso um projeto para reduzir a carga tributária e/ou elevar os investimentos federais.
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