São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2005

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OPINIÃO ECONÔMICA

Brasil na veia

BENJAMIN STEINBRUCH

Quando mais jovem, costumava ir com meu pai ao Pantanal. Era um passeio maravilhoso. No meio do rio Coxim, havia bancos de areia, verdadeiras ilhotas. Gostávamos muito de ficar ali, em pé, olhando os peixes nas águas claras.
Os dourados nos divertiam muito. Atraídos pelos reflexos de relógios ou fivelas de cintos, eles saltavam para fora d'água, para cima da gente. Um espetáculo e tanto.
Sempre que posso dou uma fugida para conhecer regiões novas no Pantanal, como as do rio São Lourenço, onde o visitante é recepcionado com toda a pompa da natureza.
Com os rios cheios, os canais do Pantanal viram avenidas planas, navegáveis, com "acostamentos" vegetais. O barco pequeno passa suavemente, "aplaudido" por orquestras de pássaros e animais variados.
Enormes tuiuiús tricolores, a ave-símbolo da região, com suas cabeças pretas, coleiras vermelhas e corpo banco esperam até o último momento para iniciar uma decolagem que parece desafiar a lei da gravidade. Garças, milhares delas, habitam os ninhais. São quase estatuetas de gesso que, de repente, se movem. Biguás voam em bandos. Vaidosos colhereiros, com seus bicos achatados, que lembram uma colher, mostram as penas cor-de-rosa do peito. Maguaris fazem idêntico exibicionismo com o dorso cinza escuro.
Famílias de jacarés, do avô de cinco metros ao neto de 50 centímetros, dominam as minúsculas praias que a vazão já descobriu. São centenas, talvez milhares. Os jacarés estão por toda parte. Com a aproximação do barco, fogem para a água e mantêm na superfície apenas os olhos atentos, que à noite refletem a luz dos faroletes.
Famílias de macacos bugios, o macho negro e a fêmea loira, escolhem as árvores mais altas para pular em segurança. Ao longe, seu guincho lembra o vento.
Na água, dourados carnudos perseguem lambaris na superfície. Branquinhas, surubins, piauçus e piraputangas aguardam a queda das frutinhas cheirosas da sardinheira, do tucum, da ingá, do jatobá e do jenipapo. Piranhas vorazes, gordas e espinhentas, não dão trégua ao pescador. Reincidentes, mordem as iscas preparadas para dourados, pintados, jaús, pacus, surubins e piauçus. Mordem tudo o que encontram pela frente, até o rabo do peixe fisgado. Abotoados barulhentos, com sua aparência pré-histórica, também insistem em morder iscas preparadas para peixes nobres. São mais desprezados que os bagres.
Passarinhos de todas as cores disputam a quirera de milho deixada no chão. O banquete atrai cardeais e galos-de-campina (com suas cabeças vermelhas), sanhaços, bicos-de-prata, canários-da-terra, joão-pintos, pássaros-pretos e socós.
Visitar o Pantanal é como tomar injeções de Brasil na veia: beleza incomparável em 140.000 km2 nos dois Mato Grosso, uma imensa planície de áreas alagáveis, 175 rios em declividade quase nula, 650 espécies de aves, 260 de peixes, 1.100 de borboletas, 80 de mamíferos e 50 de répteis.
Ao voltar do Pantanal, em maio, deparei-me com uma notícia alarmante. A Amazônia perdeu uma área de 26.0002 de floresta em apenas um ano, de agosto de 2003 a agosto de 2004. Um desastre em matéria de devastação, que fez sumir em 12 meses uma área florestal do tamanho do Estado de Alagoas.
A beleza natural na Amazônia, no Pantanal, no Nordeste e em várias outras regiões do país é patrimônio brasileiro. Vale qualquer preço e precisa ser preservada a qualquer custo.
A Amazônia e o Pantanal exigem com urgência uma polícia ambiental e florestal poderosa e eficiente, com recursos que hoje não existem. E bancada pela iniciativa privada -por que não?


Benjamin Steinbruch, 51, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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