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OPINIÃO ECONÔMICA
Brasil na veia
BENJAMIN STEINBRUCH
Quando mais jovem, costumava ir com meu pai ao
Pantanal. Era um passeio maravilhoso. No meio do rio Coxim,
havia bancos de areia, verdadeiras ilhotas. Gostávamos muito de
ficar ali, em pé, olhando os peixes
nas águas claras.
Os dourados nos divertiam
muito. Atraídos pelos reflexos de
relógios ou fivelas de cintos, eles
saltavam para fora d'água, para
cima da gente. Um espetáculo e
tanto.
Sempre que posso dou uma fugida para conhecer regiões novas
no Pantanal, como as do rio São
Lourenço, onde o visitante é recepcionado com toda a pompa da
natureza.
Com os rios cheios, os canais do
Pantanal viram avenidas planas,
navegáveis, com "acostamentos"
vegetais. O barco pequeno passa
suavemente, "aplaudido" por orquestras de pássaros e animais
variados.
Enormes tuiuiús tricolores, a
ave-símbolo da região, com suas
cabeças pretas, coleiras vermelhas
e corpo banco esperam até o último momento para iniciar uma
decolagem que parece desafiar a
lei da gravidade. Garças, milhares delas, habitam os ninhais. São
quase estatuetas de gesso que, de
repente, se movem. Biguás voam
em bandos. Vaidosos colhereiros,
com seus bicos achatados, que
lembram uma colher, mostram as
penas cor-de-rosa do peito. Maguaris fazem idêntico exibicionismo com o dorso cinza escuro.
Famílias de jacarés, do avô de
cinco metros ao neto de 50 centímetros, dominam as minúsculas
praias que a vazão já descobriu.
São centenas, talvez milhares. Os
jacarés estão por toda parte. Com
a aproximação do barco, fogem
para a água e mantêm na superfície apenas os olhos atentos, que à
noite refletem a luz dos faroletes.
Famílias de macacos bugios, o
macho negro e a fêmea loira, escolhem as árvores mais altas para
pular em segurança. Ao longe, seu
guincho lembra o vento.
Na água, dourados carnudos
perseguem lambaris na superfície. Branquinhas, surubins, piauçus e piraputangas aguardam a
queda das frutinhas cheirosas da
sardinheira, do tucum, da ingá,
do jatobá e do jenipapo. Piranhas
vorazes, gordas e espinhentas,
não dão trégua ao pescador.
Reincidentes, mordem as iscas
preparadas para dourados, pintados, jaús, pacus, surubins e
piauçus. Mordem tudo o que encontram pela frente, até o rabo do
peixe fisgado. Abotoados barulhentos, com sua aparência pré-histórica, também insistem em
morder iscas preparadas para
peixes nobres. São mais desprezados que os bagres.
Passarinhos de todas as cores
disputam a quirera de milho deixada no chão. O banquete atrai
cardeais e galos-de-campina
(com suas cabeças vermelhas), sanhaços, bicos-de-prata, canários-da-terra, joão-pintos, pássaros-pretos e socós.
Visitar o Pantanal é como tomar injeções de Brasil na veia: beleza incomparável em 140.000
km2 nos dois Mato Grosso, uma
imensa planície de áreas alagáveis, 175 rios em declividade quase nula, 650 espécies de aves, 260
de peixes, 1.100 de borboletas, 80
de mamíferos e 50 de répteis.
Ao voltar do Pantanal, em
maio, deparei-me com uma notícia alarmante. A Amazônia perdeu uma área de 26.0002 de floresta em apenas um ano, de agosto
de 2003 a agosto de 2004. Um desastre em matéria de devastação,
que fez sumir em 12 meses uma
área florestal do tamanho do Estado de Alagoas.
A beleza natural na Amazônia,
no Pantanal, no Nordeste e em
várias outras regiões do país é patrimônio brasileiro. Vale qualquer preço e precisa ser preservada a qualquer custo.
A Amazônia e o Pantanal exigem com urgência uma polícia
ambiental e florestal poderosa e
eficiente, com recursos que hoje
não existem. E bancada pela iniciativa privada -por que não?
Benjamin Steinbruch, 51, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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