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TURBULÊNCIA
Relatório do BIS diz que investidores ainda temem repique da inflação
Para "BC mundial", Brasil é vulnerável a crise externa
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL À BASILÉIA
Apesar de significativos avanços
nos últimos anos, a economia
brasileira ainda apresenta importantes vulnerabilidades que, combinadas com os desequilíbrios
globais, representam riscos à recente recuperação, de acordo
com o BIS (sigla em inglês para
Bank for International Settlements, o BC dos BCs).
A grande parcela da dívida pública que é pós-fixada preocupa, e
a alta taxa dos juros reais revela
que os investidores ainda temem
um repique inflacionário.
Segundo Malcolm Knight, diretor-geral do BIS, no contexto internacional de desequilíbrios nas
contas externas de vários países e
elevados preços do petróleo, o
maior risco para os mercados
emergentes da América Latina é
uma possível forte desaceleração
da demanda externa.
"O risco-chave para a América
Latina neste momento seria um
evento que causasse a desaceleração forte da demanda mundial. O
crescimento mundial no ano passado foi muito forte, o que ajudou
os países da América Latina a
avançar", disse Knight.
Por isso, segundo ele, se houver
uma forte desaceleração global, a
expansão econômica dos países
da região tende a ser comprometida. "Se o crescimento mundial
desacelerar, acho que isso teria
implicações negativas [para a região]", afirmou.
Pior ainda, alerta William White, economista-chefe do BIS, seria
se esse cenário de desaceleração
mais brusca -que não é tido como certo, mas está longe de ser
descartado, segundo a instituição- ocorrer em um ambiente
de elevação das taxas de juros internacionais.
A nova alta recente do petróleo
e os sinais, dados pelos elevados
preços da commodity nos mercados futuros, de que essa tendência
vai persistir pelos próximos dois
ou três anos indicam que políticas
monetárias mais restritivas podem estar a caminho nos países
desenvolvidos.
Dívida
Considerando esses riscos, a alta
relação entre a dívida pública e o
PIB brasileiros -atualmente, no
patamar de 50%- e o fato de que
parcela ainda expressiva desse endividamento é pós-fixada, ou seja,
corrigida pela variação da taxa de
juros são fatores preocupantes,
segundo o BIS.
Ao citar especificamente os casos do Brasil e da Turquia, o relatório anual da instituição, divulgado ontem, diz que países com
percentual elevado de dívida pós-fixada e de curto prazo estarão
muito vulneráveis quando terminar a atual fase de grande liquidez
nos mercados.
Segundo analistas, isso ocorreria porque, se os juros em países
desenvolvidos, principalmente
nos EUA, subirem mais, investidores tendem a reduzir suas exposições a mercados emergentes.
Risco maior
Nesse contexto, para o governo
brasileiro, por exemplo, ficaria
mais difícil rolar sua dívida, o que
tenderia a exigir o pagamento de
"prêmios de risco" maiores. Além
disso, como parcela importante
da dívida é pós-fixada, se os juros
subirem nos mercados futuros, o
endividamento total em relação
ao PIB voltaria a aumentar.
De acordo com Knight -que
não quis comentar a crise política
brasileira e suas possíveis conseqüências econômicas-, como o
Brasil é um país "altamente endividado", é fundamental que a
atual linha de política macroeconômica seja mantida. O receituário seguido pelo país, segundo ele,
permitiu crescimento econômico
significativo em 2004 e garantirá
uma expansão menor mas ainda
alta neste ano.
O BIS estima que o PIB brasileiro vá crescer 3,6% em 2005, o menor entre os números projetados
para um grupo de oito países
emergentes, mas considerado
bom em termos históricos recentes. "Acho que, para o Brasil, um
país ainda altamente endividado,
é absolutamente essencial continuar no caminho que vem sendo
perseguido nos anos recentes",
diz Knight.
Em termos de políticas específicas, ele citou a necessidade de manutenção de superávit primário
elevado e da continuação na tendência de redução do estoque da
dívida pública em relação ao PIB.
A insistência nessa segunda medida permitirá, segundo ele, cortes na taxa de juros doméstica em
relação às internacionais.
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