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Juro baixo nos EUA pode se manter
EDMUND L. ANDREWS
DO "NEW YORK TIMES"
As autoridades do Fed (Federal
Reserve, o banco central americano), que irão se reunir nesta semana, estão começando a suspeitar que a queda desconcertante
nos juros de longo prazo é mais
do que uma simples aberração
temporária.
A possibilidade tem implicações importantes para a economia e, para os responsáveis pelo
Fed, gera novas dúvidas sobre como devem reagir.
É quase certo que, na quinta-feira, o Fed eleve os juros de curto
prazo em mais um quarto de ponto percentual, para 3,25%. Seria o
nono aumento nos últimos 12
meses, e a expectativa é que o BC
norte-americano assinale que vai
continuar a elevar os juros em ritmo "moderado".
Mas a verdadeira discussão que
terá lugar na reunião deverá girar
em torno do inesperado declínio
dos juros de longo prazo, que vêm
mantendo os índices de hipotecas
no menor nível das últimas décadas e alimentando o que muitos
analistas temem que possa ser
uma bolha nos preços de casas.
O presidente do Fed, Alan
Greenspan, disse em fevereiro
que os juros baixos de longo prazo constituem um "enigma", mas
que possivelmente não passem de
"aberração de curto prazo".
Agora, Greenspan e outras autoridades estão sugerindo que a
mudança talvez seja mais duradoura. O que se discute é o porquê
da mudança, e as teorias aventadas conduzem a conclusões inteiramente diferentes quanto à melhor maneira de reagir.
"Minha impressão é que as pessoas pensam que podemos estar
diante de uma nova realidade,
que isso pode ser algo fundamental e duradouro", disse Laurence
H. Meyer, ex-presidente do Fed e
atual vice-presidente da firma de
previsões econômicas Macroeconomic Advisers.
Depondo no Congresso no início do mês, Greenspan descreveu
a tendência como importante e
"de origem claramente internacional". Ele acrescentou: "Estamos dedicando tempo considerável ao estudo de como integrá-la à
estrutura básica subjacente da política monetária".
O prêmio por prazo -ou seja, o
pagamento adicional exigido pelos investidores para cobrir a incerteza de lidar com títulos de
longo prazo- se reduziu para
quase nada. Os investidores parecem estar supondo que a taxa de
juros chegará a 3,75% até o final
do ano. Mas o rendimento dos títulos do Tesouro de dez anos continua a ser de mais ou menos 4%.
Uma linha de pensamento afirma que os rendimentos baixos
dos títulos são indicativos de uma
desaceleração do crescimento
econômico, o que reduziria a demanda futura por crédito. Outra
linha sugere que os investidores
globais hoje têm expectativas de
inflação menores do que no passado, o que reduz o risco dos títulos de longo prazo.
Se qualquer uma das teorias estiver correta, o Fed teria menos
necessidade de combater a inflação e poderia parar de elevar os
juros num nível muito mais baixo
do que no passado, possivelmente
abaixo dos 4%.
Mas ainda outra teoria afirma
que os juros de longo prazo podem ter sido reduzidos em função
de outros fatores, incluindo um
"superávit de poupança" em todo
o mundo e pelos esforços feitos
pelos bancos centrais asiáticos para manter baixo o valor de suas
moedas, para isso comprando títulos do Tesouro dos EUA.
Se isso for verdade, o fluxo de
moeda estrangeira que chega aos
EUA pode estar diluindo o esforço do Fed para prevenir a inflação. Isso significaria que o Fed
precisaria elevar os juros mais do
que prevêem muitos investidores.
Depondo diante do Congresso
em 20 de junho, Greenspan manifestou ceticismo com relação às
teorias baseadas nas expectativas
de inflação baixa ou de desaceleração econômica próxima. "Uma
disparidade estreita entre juros de
curto e longo prazo freqüentemente é interpretada, erroneamente, como sinal de que estamos
prestes a cair em recessão", disse.
"Se for esse o caso, então a hipótese de que é a economia fraca que
vem puxando os juros para baixo
provavelmente não é correta."
Ele também disse que os juros
baixos de longo prazo teriam contribuído para causar incertezas e
podem estar alimentando pressões inflacionárias.
Outras autoridades vêm se
mostrando mais otimistas. William Poole, diretor do Federal
Reserve Bank de St. Louis, já afirmou em diversas ocasiões que os
juros de longo prazo são movidos
sobretudo pelas expectativas dos
investidores em relação à inflação
de longo prazo. Embora o Fed tenha elevado os juros de curto prazo, disse Poole em discurso feito
em 14 de junho, no último ano os
investidores não tiveram razões
para prever uma inflação maior
no longo prazo. "As surpresas
econômicas têm sido mínimas no
último ano e não há razão para rever os juros de curto prazo no futuro previsível", disse ele.
Jeffrey Lacker, presidente do Federal Reserve Bank de Richmond,
sugeriu em 20 de junho que as incertezas em relação à inflação podem ser menores hoje. "É importante manter em mente que não
se deve esperar que o prêmio por
prazo se comporte como se comportou nos ciclos de pós-guerra,
quando a inflação era irregular",
disse ele. "A explicação mais provável disso é que a inflação está
baixa, e as expectativas de inflação, também."
Os economistas de Wall Street
estão tão divididos quanto os representantes do Fed sobre a interpretação mais acertada.
James Glassman, economista
sênior do JP Morgan, afirma que
os juros de longo prazo refletem
os efeitos deflacionários da globalização. "Se pensarmos em termos econômicos, a Ásia oriental e
o Nafta [Acordo de Livre Comércio da América do Norte] foram
anexados aos EUA. Isso significa
mais capacidade excedente e tempo maior para se voltar ao nível de
emprego pleno."
Segundo essa interpretação, o
Fed poderia parar de elevar os juros de curto prazo quando chegassem aos 3,75%. Mas outros
prevêem que o Fed vai continuar
a preocupar-se com pressões inflacionárias, o nível crescente da
dívida externa dos EUA e o perigo
de uma bolha habitacional.
Quando congressistas lhe pedem que especifique a taxa "neutra" de juros -que não acelere
nem desacelere a economia-,
Greenspan responde que as pessoas a reconhecerão quando a virem. Em seu depoimento mais recente, porém, acrescentou uma
variante: que as pessoas a reconhecerão porque "vamos observar um certo equilíbrio não observado até agora" na economia.
Tradução de Clara Allain
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