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TRABALHO
Metalúrgicos de SP apontam efeito dos juros altos nas vendas da indústria e no emprego e preparam ato contra o governo
Sindicato já vê onda de férias coletivas e cortes
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A desaceleração na economia,
resultado da política de juros altos
e da carga tributária elevada, já
provoca demissões, redução na
jornada e férias coletivas no setor
metalúrgico, segundo sindicalistas. A crise política que o país
atravessa também influencia a
freada econômica, afirma o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, ligado à Força Sindical -central sindical que
marca oposição ao governo Lula.
Representantes dos empresários, entretanto, informam que o
desempenho das empresas são
afetados pelo longo ciclo de altas
taxas de juros e por uma queda
nas exportações. Descartam o
efeito "mensalão" em seus resultados econômicos. Para a CUT, a
generalização é um "exagero".
Os metalúrgicos de São Paulo
vão fazer uma manifestação em
defesa do emprego e por mudanças na política econômica na próxima segunda-feira, em São Paulo. Pelo menos 5.300 trabalhadores de 11 empresas -principalmente de eletroeletrônicos e metais sanitários (ligados à construção civil)- dizem ser prejudicados por essa situação. O sindicato
de São Paulo representa 250 mil
funcionários de 8.000 empresas.
"A política econômica do governo Lula, aliada ao aprofundamento da crise política, está freando a economia, provocando desemprego, diminuindo o consumo e parando a produção", diz
Eleno José Bezerra, presidente do
sindicato. "Há uma semana estamos sendo procurados por empresas que, para ajustar a produção à queda nas vendas, estão demitindo, reduzindo jornada e
querendo cortar salários. Isso tem
um efeito dominó entre as fábricas", afirma o sindicalista.
A metalúrgica Arouca, fabricante de fechaduras, quer reduzir
a jornada de trabalho (44 horas
semanais) e os salários de seus
300 empregados em cerca de 25%
para compensar a fraca produção.
"A incerteza dos acontecimentos
políticos traz instabilidade nos investimentos, os pedidos caem e,
conseqüentemente, a produção
pára", diz Manoel Carvalho, gerente de RH da empresa.
Segundo Carvalho, se a redução
da jornada não for negociada com
o sindicato, a Arouca deve demitir
um terço dos empregados. "Até
março estávamos contratando,
aumentamos nosso quadro em 80
pessoas. Mas, nas últimas semanas, o quadro mudou. Nossa carteira de pedidos era, em média,
para 30 dias, e passou para dois.
Houve uma queda vertiginosa
nos pedidos e na produção."
Por causa da retração nas vendas, BSH Continental e Multibras,
fabricantes de eletrodomésticos,
vão conceder férias coletivas para
seus funcionários. A BSH confirma que serão dez dias em julho
para 800 empregados. A Multibras, segundo o sindicato, já deu
coletivas para 430 dos 500 operários da produção desde a semana
passada até o dia 4 de julho.
Para o presidente da Eletros
(Associação dos Fabricantes de
Eletroeletrônicos), Paulo Saab, o
nível de emprego sofre o impacto
dos juros elevados e da queda nas
exportações -principalmente na
linha branca (fogão, refrigerador
e máquina de lavar). "No início de
junho encaminhamos documento ao governo mostrando que 350
empregos podem ser cortados em
razão de queda de investimentos
e cancelamento de contratos para
exportação." A Eletros não fechou
o estudo do desempenho do setor
neste ano, mas, segundo Saab, no
primeiro trimestre os resultados
foram "abaixo" do esperado.
"Há mais de dois meses estamos
advertindo o governo sobre a situação do setor." Sobre a crise política, Saab afirma que "as denúncias de corrupção podem ter impacto [na economia] se não forem
apuradas, porque implica perda
de credibilidade [do governo]".
O representante dos metalúrgicos da CUT, Carlos Alberto Grana, diz que "é um exagero atribuir
[a desaceleração] à crise política.
De 2002 até abril deste ano foram
criadas 238 mil vagas no setor".
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