São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2005

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TRABALHO

Metalúrgicos de SP apontam efeito dos juros altos nas vendas da indústria e no emprego e preparam ato contra o governo

Sindicato já vê onda de férias coletivas e cortes

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desaceleração na economia, resultado da política de juros altos e da carga tributária elevada, já provoca demissões, redução na jornada e férias coletivas no setor metalúrgico, segundo sindicalistas. A crise política que o país atravessa também influencia a freada econômica, afirma o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, ligado à Força Sindical -central sindical que marca oposição ao governo Lula.
Representantes dos empresários, entretanto, informam que o desempenho das empresas são afetados pelo longo ciclo de altas taxas de juros e por uma queda nas exportações. Descartam o efeito "mensalão" em seus resultados econômicos. Para a CUT, a generalização é um "exagero".
Os metalúrgicos de São Paulo vão fazer uma manifestação em defesa do emprego e por mudanças na política econômica na próxima segunda-feira, em São Paulo. Pelo menos 5.300 trabalhadores de 11 empresas -principalmente de eletroeletrônicos e metais sanitários (ligados à construção civil)- dizem ser prejudicados por essa situação. O sindicato de São Paulo representa 250 mil funcionários de 8.000 empresas.
"A política econômica do governo Lula, aliada ao aprofundamento da crise política, está freando a economia, provocando desemprego, diminuindo o consumo e parando a produção", diz Eleno José Bezerra, presidente do sindicato. "Há uma semana estamos sendo procurados por empresas que, para ajustar a produção à queda nas vendas, estão demitindo, reduzindo jornada e querendo cortar salários. Isso tem um efeito dominó entre as fábricas", afirma o sindicalista.
A metalúrgica Arouca, fabricante de fechaduras, quer reduzir a jornada de trabalho (44 horas semanais) e os salários de seus 300 empregados em cerca de 25% para compensar a fraca produção. "A incerteza dos acontecimentos políticos traz instabilidade nos investimentos, os pedidos caem e, conseqüentemente, a produção pára", diz Manoel Carvalho, gerente de RH da empresa.
Segundo Carvalho, se a redução da jornada não for negociada com o sindicato, a Arouca deve demitir um terço dos empregados. "Até março estávamos contratando, aumentamos nosso quadro em 80 pessoas. Mas, nas últimas semanas, o quadro mudou. Nossa carteira de pedidos era, em média, para 30 dias, e passou para dois. Houve uma queda vertiginosa nos pedidos e na produção."
Por causa da retração nas vendas, BSH Continental e Multibras, fabricantes de eletrodomésticos, vão conceder férias coletivas para seus funcionários. A BSH confirma que serão dez dias em julho para 800 empregados. A Multibras, segundo o sindicato, já deu coletivas para 430 dos 500 operários da produção desde a semana passada até o dia 4 de julho.
Para o presidente da Eletros (Associação dos Fabricantes de Eletroeletrônicos), Paulo Saab, o nível de emprego sofre o impacto dos juros elevados e da queda nas exportações -principalmente na linha branca (fogão, refrigerador e máquina de lavar). "No início de junho encaminhamos documento ao governo mostrando que 350 empregos podem ser cortados em razão de queda de investimentos e cancelamento de contratos para exportação." A Eletros não fechou o estudo do desempenho do setor neste ano, mas, segundo Saab, no primeiro trimestre os resultados foram "abaixo" do esperado.
"Há mais de dois meses estamos advertindo o governo sobre a situação do setor." Sobre a crise política, Saab afirma que "as denúncias de corrupção podem ter impacto [na economia] se não forem apuradas, porque implica perda de credibilidade [do governo]".
O representante dos metalúrgicos da CUT, Carlos Alberto Grana, diz que "é um exagero atribuir [a desaceleração] à crise política. De 2002 até abril deste ano foram criadas 238 mil vagas no setor".


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