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Para analistas, programa deve ser
mantido para acalmar mercados
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As projeções de analistas sobre a
situação das contas externas brasileiras não são tão otimistas
quanto as do Banco Central. Há
quem estime um volume de remessas US$ 5 bilhões maior do
que o valor esperado pelo governo. Ainda assim, eles avaliam que
o Brasil fecharia suas contas mesmo sem a ajuda do FMI, apesar de
essa ser uma estratégia arriscada.
Segundo a UAM (Unibanco Asset Management), a necessidade
de financiamento externo pode
chegar a US$ 36,6 bilhões em
2004. O BC prevê US$ 30 bilhões.
Para analistas de mercado e economistas ouvidos pela Folha, do
ponto de vista exclusivamente financeiro, um novo acordo é dispensável. "O governo tem condições de fechar as contas sem o
FMI", diz Alexandre Mathias,
economista-chefe da UAM.
Mas esse seria um passo arriscado, segundo os especialistas, porque a economia hoje guardaria
um paralelo com um terreno minado. "Muitas minas explodiram
no passado recente, na forma de
ataques terroristas, guerra e crises
financeiras internacionais."
Essas explosões jogaram no
chão modelos econômicos cuidadosamente desenhados nos manuais. "Eu não correria o risco de
deixar o país exposto a algum acidente de percurso, como um repique da inflação ou uma crise externa", acrescenta Mathias.
Pelos seus cálculos, o país teria
condições de fazer frente aos pagamentos do ano que vem, desde
que consiga rolar o grosso das
amortizações de empréstimos de
médio e longo prazo, US$ 29,5 bilhões, segundo sua estimativa.
Apesar da escassez de recursos
internacionais, Mathias diz que,
se for mantido o ritmo de rolagem
de dívida dos últimos dois meses,
daria para passar o ano sem ajuda
do Fundo. Ele conta com algum
aumento nos investimentos diretos, que deverão subir de US$ 8,6
bilhões neste ano, segundo suas
projeções -o BC projeta US$ 10
bilhões-, para US$ 11,07 bilhões.
Nas suas contas entrariam, ainda, US$ 21,8 bilhões em novos
empréstimos de médio e longo
prazo, US$ 2,3 bilhões de curto
prazo e US$ 1,5 bilhão em aplicações em Bolsa e em renda fixa.
Para os analistas, um novo acordo vale muito mais pelo respaldo
que ele dá à política econômica do
país e como tranquilizante para os
investidores do que pelo dinheiro.
"Os recursos do FMI não têm livre uso. Por isso questiona-se por
que pegar esse dinheiro e pagar
por ele", diz Monica Baer, economista da MB Consultoria.
Segundo Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco, "o dinheiro do Fundo não
serve para financiar o balanço de
pagamentos nem o governo. Ele
vai para as reservas do país, dorme lá e volta para o FMI".
Ao equilibrar parcialmente as
reservas do país, o dinheiro do
Fundo evita que, numa crise, o
governo tenha de centralizar o
câmbio para evitar fuga de capitais. Em última instância, os recursos do FMI ajudam o país a pagar sua dívida soberana.
Segundo Raul Velloso, especialista em contas públicas, o último
acordo com o Fundo foi fundamental para dar credibilidade ao
país, para os credores, num momento de transição política. "O
risco-país caiu e o fluxo de capitais de curto prazo voltou", diz.
Mas as últimas captações, que
vieram para obter ganhos com juros elevados, são incertas. Com a
mesma rapidez com que vieram,
vão. "Já o investimento direto, de
longo prazo, está caindo. Não é
hora de o governo abrir mão de
uma fonte segura de recursos como o FMI", diz Velloso.
Baer prevê que o governo brasileiro fará um acordo do tipo
"guarda-chuva", deixando engatilhado o acesso aos recursos se
houver turbulências.
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