UOL


São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para analistas, programa deve ser mantido para acalmar mercados

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As projeções de analistas sobre a situação das contas externas brasileiras não são tão otimistas quanto as do Banco Central. Há quem estime um volume de remessas US$ 5 bilhões maior do que o valor esperado pelo governo. Ainda assim, eles avaliam que o Brasil fecharia suas contas mesmo sem a ajuda do FMI, apesar de essa ser uma estratégia arriscada.
Segundo a UAM (Unibanco Asset Management), a necessidade de financiamento externo pode chegar a US$ 36,6 bilhões em 2004. O BC prevê US$ 30 bilhões.
Para analistas de mercado e economistas ouvidos pela Folha, do ponto de vista exclusivamente financeiro, um novo acordo é dispensável. "O governo tem condições de fechar as contas sem o FMI", diz Alexandre Mathias, economista-chefe da UAM.
Mas esse seria um passo arriscado, segundo os especialistas, porque a economia hoje guardaria um paralelo com um terreno minado. "Muitas minas explodiram no passado recente, na forma de ataques terroristas, guerra e crises financeiras internacionais."
Essas explosões jogaram no chão modelos econômicos cuidadosamente desenhados nos manuais. "Eu não correria o risco de deixar o país exposto a algum acidente de percurso, como um repique da inflação ou uma crise externa", acrescenta Mathias.
Pelos seus cálculos, o país teria condições de fazer frente aos pagamentos do ano que vem, desde que consiga rolar o grosso das amortizações de empréstimos de médio e longo prazo, US$ 29,5 bilhões, segundo sua estimativa.
Apesar da escassez de recursos internacionais, Mathias diz que, se for mantido o ritmo de rolagem de dívida dos últimos dois meses, daria para passar o ano sem ajuda do Fundo. Ele conta com algum aumento nos investimentos diretos, que deverão subir de US$ 8,6 bilhões neste ano, segundo suas projeções -o BC projeta US$ 10 bilhões-, para US$ 11,07 bilhões.
Nas suas contas entrariam, ainda, US$ 21,8 bilhões em novos empréstimos de médio e longo prazo, US$ 2,3 bilhões de curto prazo e US$ 1,5 bilhão em aplicações em Bolsa e em renda fixa.
Para os analistas, um novo acordo vale muito mais pelo respaldo que ele dá à política econômica do país e como tranquilizante para os investidores do que pelo dinheiro. "Os recursos do FMI não têm livre uso. Por isso questiona-se por que pegar esse dinheiro e pagar por ele", diz Monica Baer, economista da MB Consultoria.
Segundo Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco, "o dinheiro do Fundo não serve para financiar o balanço de pagamentos nem o governo. Ele vai para as reservas do país, dorme lá e volta para o FMI".
Ao equilibrar parcialmente as reservas do país, o dinheiro do Fundo evita que, numa crise, o governo tenha de centralizar o câmbio para evitar fuga de capitais. Em última instância, os recursos do FMI ajudam o país a pagar sua dívida soberana.
Segundo Raul Velloso, especialista em contas públicas, o último acordo com o Fundo foi fundamental para dar credibilidade ao país, para os credores, num momento de transição política. "O risco-país caiu e o fluxo de capitais de curto prazo voltou", diz.
Mas as últimas captações, que vieram para obter ganhos com juros elevados, são incertas. Com a mesma rapidez com que vieram, vão. "Já o investimento direto, de longo prazo, está caindo. Não é hora de o governo abrir mão de uma fonte segura de recursos como o FMI", diz Velloso.
Baer prevê que o governo brasileiro fará um acordo do tipo "guarda-chuva", deixando engatilhado o acesso aos recursos se houver turbulências.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Análise: Falta responder se país fica de pé sem o Fundo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.