São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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BC sinaliza que taxa de juro pode cair mais lentamente

Instituição afirma que é recomendável "maior parcimônia" nas novas reduções

Selic já foi reduzida em cinco pontos desde setembro; Copom avalia que "boa parte" dos efeitos ainda não se refletiu na atividade

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de nove cortes seguidos, o Banco Central dá sinais de que a queda na taxa Selic deve passar a acontecer mais lentamente. Na avaliação dos diretores do BC, os juros estão cada vez mais próximos do seu piso e, por isso, é recomendável "maior parcimônia" nas futuras reduções.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reuniu e deu continuidade ao processo de cortes iniciado em setembro, cortando a Selic em meio ponto percentual, para 14,75% ao ano.
Ontem, foi divulgada a ata do encontro. Segundo o texto, o BC traça um cenário positivo para a inflação e diz que a economia continua dando sinais concretos de crescimento. Com a relativa tranqüilidade observada nos mercados internacionais nas últimas semanas, "as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária" são apontadas como um dos principais obstáculos à queda dos juros.
Desde setembro do ano passado, a Selic foi reduzida em cinco pontos percentuais. Para o BC, "boa parte dos efeitos desse corte de juros ainda não se refletiu no nível de atividade, assim como os efeitos da recente retomada da atividade sobre a inflação também não tiveram tempo de se materializar".
Ou seja, o ritmo de expansão da economia ainda deve se acelerar nos próximos meses por causa de cortes nos juros, e o BC diz ainda ter dúvidas sobre o comportamento que a inflação terá quando esse crescimento se acelerar. Além disso, a ata indica que o BC não vê necessidade de uma queda muito grande nos juros para estimular uma retomada do crescimento, pois a recuperação já ocorre conforme o esperado.
Diante desse quadro, o mais provável é que a redução dos juros passe a ser feita de forma ainda mais cautelosa. "Parecem estar adotando uma política do "devagar e sempre" ", afirma Renato Motta, diretor da Máxima Asset Management. O analista evita fazer previsões sobre a próxima decisão do Copom, que só volta a se reunir daqui a um mês, mas ressalta que a taxa Selic "está chegando cada vez mais perto do seu nível de equilíbrio".
De acordo com Motta, a inflação parece estar sob controle e deve ficar abaixo da meta de 4,5% fixada pelo governo para este ano. Diante disso, espera-se que o preço dos combustíveis sofra um reajuste para compensar a alta do petróleo no mercado internacional.
Se esse aumento ocorrer neste ano, diz ele, evita-se uma pressão sobre os preços em 2007, ano em que o cumprimento da meta de inflação não é tão certo quanto neste ano.
Para Carlos Cintra, do banco Prosper, o documento divulgado ontem não deixa dúvidas sobre a estratégia do BC em relação aos juros. "A ata é exatamente igual à ata passada, exceto por uma palavra: agora, eles dizem que vão conduzir a política monetária com "maior" parcimônia." O termo "parcimônia" já havia aparecido na ata do encontro anterior do Copom. Para Cintra, o uso da palavra "maior" indica, agora, que o cuidado na redução da taxa Selic será redobrado. "Claramente é isso aí. Vão reduzir [os juros] em 0,25 ponto, em vez de 0,50", diz.
Segundo a previsão do analista, os juros devem cair para 14% ao ano até dezembro. Depois disso, afirma, a expectativa é que o BC mantenha a taxa inalterada nos primeiros meses de 2007 para ver como a economia brasileira reage a uma taxa que estaria em níveis historicamente baixos.


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