São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Desemprego vai a 10,4%, renda cresce 4,4% no ano

Vagas formais têm alta, mas não atendem ao aumento da busca por emprego

Junho geralmente traz recuperação do emprego, mas IBGE diz que reação da economia não foi suficiente para absorver mão-de-obra

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Na contramão de todas as previsões, a taxa de desemprego subiu em junho para 10,4% -contra 9,4% no mesmo mês de 2005. Em maio, havia sido de 10,2%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Tradicionalmente, o desemprego começa a ceder gradualmente a partir de abril ou maio e intensifica a queda em junho, o que não aconteceu neste ano. Para o IBGE, a economia não está crescendo na velocidade necessária para absorver o aumento da procura por trabalho, o que fez o desemprego subir.
Já a renda segue em expansão, mantendo o desempenho favorável dos últimos meses graças ao reajuste do salário mínimo e à estabilidade da inflação. A renda cresceu 6,7% ante junho de 2005. Foi a 12ª taxa positiva seguida nesse tipo de comparação. De maio para junho, a alta ficou em 0,5%, na sexta variação positiva seguida.
No primeiro semestre, a expansão chegou a 4,4%, melhor desempenho da nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE iniciada em 2002.

Juros x emprego
"A reação da economia não foi suficiente para absorver a maior procura por trabalho. Talvez a taxa de juro tenha de cair com mais força", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
No primeiro semestre, a taxa de desemprego ficou em 10,1%, praticamente no mesmo nível dos seis primeiros meses de 2005 (10,3%). Tal desempenho, diz Pereira, contrariou as expectativas: "Para este ano, todo mundo esperava uma queda da taxa de desemprego, o que não aconteceu".
Dados da CNI divulgados ontem também indicam que a economia caminha a passos mais lentos do que o previsto, segundo avaliação de empresários, e que a indústria pode demitir funcionários, principalmente nas empresas de pequeno e médio porte do setor.
Também divulgado ontem, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho revelou que o emprego com carteira assinada cresceu: 0,58% de maio para junho, com 155.455 postos de trabalho gerados. Nos 12 meses encerrados em junho, foi aberto 1,2 milhão de vagas.
Para Fábio Romão, economista da LCA, os dados do Caged confirmam a tendência apontada pelo IBGE, que também mostrou crescimento da ocupação apesar do aumento da taxa de desemprego.
Embora a taxa de desemprego tenha subido, os dados do IBGE mostram que há um aquecimento do mercado de trabalho, exemplificado pelo aumento da geração de novas vagas.
Em junho, o número de pessoas ocupadas cresceu 0,9% ante maio e 1,6% em relação a junho de 2005. Em números absolutos, a expansão foi de 170 mil pessoas no mês e de 310 mil no ano.

Mercado aquecido
Apesar de expressiva, a geração de vagas não cobriu o aumento da procura por trabalho: o crescimento de 1,1% da PEA (população economicamente ativa) de maio para junho correspondeu a 249 mil pessoas. Já a alta de 2,7% no ano representou mais 600 mil pessoas no mercado de trabalho.
"O mercado de trabalho está em aquecimento, mas de um modo ainda tímido, já que muitas pessoas que estavam fora do mercado estão voltando a procurar emprego, pressionando a taxa", disse Marcelo de Ávila, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Fábio Romão afirma que juros e inflação em queda e crescimento do rendimento "tornam o mercado de trabalho mais atrativo", trazendo mais pessoas da inatividade e desalentadas de volta para o mercado de trabalho.
O aumento da formalização também inflou o mercado de trabalho -o emprego com carteira subiu 3,7% ante junho de 2005, enquanto as contratações de sem-carteira caíram 4,7%.
Já Pereira, do IBGE, acredita que as eleições aumentaram a procura por trabalho, sem ainda a contrapartida de geração de novos postos em número suficiente, o que explica, em parte, a aceleração da taxa de desemprego.


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