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Norte e Nordeste concentram projetos de zona exportadora
Ao menos 26 propostas de criação de áreas de produção para o mercado externo sem pagamento de tributos tramitam no Senado
Na prática, propostas
são inócuas, pois formação
de zonas depende de
autorização de conselho de
ministros e do presidente
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As ZPEs (Zonas de Processamento de Exportações) se tornaram uma importante bandeira política para os senadores, especialmente do Norte e
do Nordeste. Pelo menos 26
projetos tramitam no Senado
autorizando a criação dessas
áreas, nas quais a produção para a exportação será feita sem o
pagamento de tributos. Na prática, no entanto, os projetos são
inócuos.
A legislação atual e a medida
provisória que o governo começará a discutir com os senadores em agosto para fazer ajustes
na lei das ZPEs estabelecem
que a criação e a autorização de
funcionamento dessas áreas
são exclusividade do Conselho
Nacional das ZPEs, formado
por cinco ministros de Estado.
As propostas de lei que tramitam no Senado são meramente autorizativas, mas não
garantem a instalação da ZPE
em nenhuma cidade ou região
citada. Para isso, segundo as regras atuais, o Estado e/ou município onde as empresas se
instalarão devem apresentar
um projeto para o Conselho
Nacional mostrando, entre outras coisas, que têm capacidade
econômica para financiar a infra-estrutura necessária para a
ZPE, se será preciso desapropriar alguma área para a instalação das empresas e também
que tipo de empresa a região
pretende atrair.
Se o Conselho considerar a
proposta viável, ainda será preciso um decreto do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para
que a ZPE exista no papel. Na
proposta de medida provisória,
a criação e a autorização de funcionamento continuam a cargo
do Conselho e não existe nenhuma referência à necessidade de autorização do Congresso
Nacional.
A senadora Roseana Sarney
(PMDB-MA) é quem mais tem
projetos para autorizar o funcionamento de ZPEs em seu
Estado: são cinco no total. Imperatriz, segunda cidade mais
importante do Maranhão, mereceu dois projetos apresentados pela senadora.
Dunas de areia
A justificativa apresentada
pela senadora nos cinco projetos é exatamente a mesma, mudando apenas a descrição das
cidades. Na avaliação de Roseana Sarney, até Barreirinhas,
uma cidade litorânea, que é
"um importante centro turístico" e onde o que mais chama a
atenção na geografia são as dunas de areia que "chegam a
atingir a altura de pequenos
prédios", deve ser sede de uma
ZPE.
"A instalação de novas empresas, atraídas pelo regime
aduaneiro e cambial especial,
acarretaria a geração de empregos e renda, indispensáveis para garantir a melhoria das condições de vida da população local", explica a senadora, na justificativa aos cinco projetos.
A autorização para criar
ZPEs em Rondônia também
parece ser uma prioridade para
o senador Valdir Raupp
(PMDB-RO). O parlamentar
apresentou neste ano quatro
projetos que tratam do assunto. O mais curioso é que o texto
da justificativa ao projeto é praticamente o mesmo da senadora Roseana Sarney.
"O projeto não tem força de
lei, é mais para marcar posição
política e dizer que Rondônia
também quer uma ZPE", afirmou o senador.
Os senadores Paulo Paim e
Sergio Zambiasi apresentaram
dois projetos cada um para autorizar a instalações de ZPEs
no Rio Grande do Sul. Há também propostas para Amapá,
Roraima, Pará, Piauí, Paraíba,
Goiás e Mato Grosso.
O líder do governo, Romero
Jucá (PMDB-RR), embora não
seja autor de nenhum projeto,
já disse que lutará para garantir
a instalação de uma ZPE em
Boa Vista (RR).
"Esses projetos são desnecessários, não têm finalidade. É
muito mais uma sinalização
política. Onde houver condições, o governo pode autorizar
o funcionamento da ZPE", afirmou Jucá.
Sem data
Já existe autorização, inclusive com decretos assinados,
para a instalação de 17 ZPEs no
país, mas apenas quatro têm a
infra-estrutura instalada e nenhuma delas funciona. A última ZPE foi oficialmente criada
no governo Itamar Franco
(1992-1994).
Se depender do Conselho
Nacional das ZPEs, o interesse
dos senadores continuará sendo apenas uma manobra política sem efeito prático. Os cinco
ministros responsáveis pela
criação dessas áreas se reuniram pela última vez em 1997 e
apenas quatro pedidos oficiais
de abertura de ZPEs feitos por
Estados e municípios aguardam análise do governo.
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