São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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NOVOS TEMPOS

Após 115 anos, Bovespa encerrará operações viva-voz; espaço dará lugar a atividades para o público, como museu e café

Bolsa de Valores troca pregão por "lounge"

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 115 anos que a Bovespa comemora em 2005 trarão uma das mudanças mais radicais de sua história -ao menos simbolicamente. Setembro será o último mês em que os operadores fecharão negócios gritando no saguão principal da Bolsa de Valores de São Paulo.
Entre outubro e janeiro, o espaço dedicado ao agonizante pregão viva-voz passará por uma ampla reforma. Mesas de simulação de operações, sofás modernos, um museu, estandes de corretoras e um café entrarão em cena como parte do projeto que pretende transformar os 1.000 m2 -onde por anos operadores disputaram melhores negócios- em um espaço de visitação aberto diariamente ao grande público.
Orçada em R$ 2,5 milhões, a reforma no prédio, no centro de São Paulo, deverá ser entregue no aniversário da cidade em 2006, no dia 25 de janeiro.
Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa, explica que não queria que o espaço dedicado antes ao viva-voz ficasse vazio, sem utilidade. "Essa é uma forma de ampliarmos a divulgação do mercado acionário, criando mais um ambiente para auxiliarmos na educação financeira das pessoas", diz Magliano.
Além de receber visitas agendadas de estudantes e grupos, o novo espaço ficará à disposição do público em geral que passa pelo centro da cidade e tem curiosidade de ver como funciona o mercado acionário.
Apesar de ainda hoje a imagem da Bolsa ser associada à cena de operadores gesticulando e gritando para comprar e vender ações (o pregão viva-voz), essa forma de negociação perdeu espaço vertiginosamente nos últimos anos.
Neste ano, o viva-voz representou apenas uma média de 0,11% dos negócios totais da Bolsa. A maioria dos negócios é feita pelo pregão eletrônico (em que as operações são fechadas por meio de computadores, sem contato físico entre os operadores). No fim da década de 90, o viva-voz já demonstrava não ter o mesmo ímpeto que tinha em um passado recente, quando era a principal forma de operação do mercado acionário. Em 2001, o viva-voz já respondia por apenas 11,19% dos negócios, parcela que só encolheu de lá para cá.

Tentativa falha
Hoje, circulam apenas cerca de 45 pessoas pelo saguão da Bolsa ostentando o crachá de "operador". Em meados da década de 90, chegou a se acotovelar no pregão um contingente estimado em 1.400 operadores.
"Terminamos uma reforma na virada de 2002 para 2003 para arejar o espaço [do pregão], deixar o ambiente menos pesado, como tentativa de dar uma força para o viva-voz. Mas não deu certo. O mercado fez sua escolha", afirma Marcos Costa e Silva, superintendente-executivo de administração da Bolsa.
Quem saiu do pregão viva-voz acabou sendo realocado nas corretoras de valores para trabalhar atrás de um computador, fazendo parte do pregão eletrônico.
Mas, como em toda mudança impulsionada por novidades tecnológicas, há histórias de pessoas que não se adaptaram e perderam o emprego. Os operadores não são funcionários da Bolsa de Valores, mas das corretoras.

Extinção
No caso da BM&F (Bolsa de Mercadoria & Futuros), analistas explicam que o pregão eletrônico ainda não é tão ativo quanto o da Bovespa nos últimos anos. Com isso, os operadores da BM&F ainda devem ter algum tempo para gritar no pregão.
A profissão de operador carrega o estigma de ser estressante. Não faltam histórias de operadores que desmaiaram no trabalho ou foram obrigados a tirar licença por estresse. Mesmo assim, a procura pelos cursos de formação de operadores segue em alta. Criado em 1998, o curso de formação de operadores do Labfin (Laboratório de Finanças), da FIA (Fundação Instituto de Administração), é um dos mais tradicionais.


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