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Bolívia rompe contrato com brasileira
Queiroz Galvão, que faria estrada, é acusada pelo governo de Evo Morales de atraso na execução da obra de US$ 200 mi
Empresa, que nega culpa pelo atraso e ainda acha possível retomar projeto,
é a segunda brasileira a ter problemas na Bolívia
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A Bolívia anunciou a rescisão
do contrato com a empresa
brasileira Queiroz Galvão para
a construção de uma estrada no
sul do país por supostas irregularidades em obras executadas.
"Existe uma investigação,
um informe técnico feito por
funcionários da CAF [Cooperação Andina de Fomento] que
demonstra com um luxo de detalhes as irregularidades dessa
empresa. Portanto, a presidente da ABC [Administradora Boliviana de Caminhos] tomou a
decisão de rescindir o contrato", disse o vice-presidente boliviano, Alvaro García Linera,
durante entrevista a um canal
de TV boliviana anteontem à
noite.
O contrato foi assinado no final de 2003, no governo Carlos
Mesa, e se refere a uma estrada
de 433 km no sul da Bolívia. A
obra tem um orçamento de
US$ 198 milhões, dos quais US$
120 milhões foram financiados
pelo Proex (Programa de Financiamento às Exportações
do Banco do Brasil), e o restante, via CAF.
A Bolívia acusa a Queiroz
Galvão de não cumprir com o
cronograma de obras previsto
no contrato e do aparecimento
de fissuras em trechos do pavimento recém-construídos.
García Linera defendeu que a
empresa "seja indiciada e pague as responsabilidades que
tem de assumir". O anúncio da
rescisão ocorre seis dias após a
empresa apresentar sua defesa,
de mais de 1.500 páginas.
A construtura diz que uma
ampliação do cronograma, inicialmente de 36 meses, foi
aprovada pelas empresas fiscalizadora e supervisora e enviada à ABC em maio, mas que o
governo não se pronunciou até
agora, provocando atrasos.
Sobre as fissuras, a Queiroz
Galvão afirma que, segundo
análises técnicas, o problema
não é responsabilidade da empresa, mas decorre de uma falha no projeto, que prevê um tipo de pavimento inadequado.
A assessoria de comunicação
da empresa disse ontem que
"ainda há espaço" para que a
rescisão do contrato não seja
decretada oficialmente e que,
se ela de fato ocorrer, deverá recorrer à Justiça boliviana.
Já o Itamaraty informou que
a Embaixada do Brasil em La
Paz tem feito gestões para que a
empresa seja ouvida e tratada
corretamente, mas consciente
de que a decisão final é do governo boliviano.
A Queiroz Galvão tem uma
péssima reputação com o governo boliviano, sobretudo depois do desmoronamento, no
início do ano, de parte de um
túnel em outra estrada construída por ela, concluída meses
antes.
Há nove dias, três funcionários da ABC tiveram a prisão
preventiva decretada, acusados
de favorecer a Queiroz Galvão.
A Folha conversou com o promotor do caso, Marco Antonio
Vargas, mas ele se recusou a
detalhar a acusação. A juíza
que acatou a denúncia, Betty
Yañiquez, tampouco quis comentar o processo, mas alegou
que há "motivos consistentes"
para decretar as prisões.
García Linera disse que a intenção do governo é substituir
a Queiroz Galvão por outra empresa brasileira para não perder o financiamento do Proex.
Tecnicamente, no entanto, a
mudança pode ser impossível,
já que o Proex financia diretamente a Queiroz Galvão. Como
se tratava da sua única obra em
execução na Bolívia, a rescisão
de contrato deve levar a Queiroz Galvão a deixar o país, onde
vem atuando há 15 anos. Terá
sido a segunda empresa brasileira a deixar a Bolívia no governo Morales. A EBX foi proibida de operar depois de iniciar
a construção de uma siderúrgica sem licença ambiental.
Brasil
Para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, o financiamento da obra na Bolívia não será encerrado caso a
Queiroz Galvão seja substituída por outra empresa brasileira. Segundo o MDIC, o Brasil é
apenas o credor nesse caso, e a
única exigência é que o prestador de serviços seja brasileiro.
A assessoria do Desenvolvimento também informou que
não há risco de o país levar calote, pois todos os empréstimos
feitos pelo Proex têm exigência
de garantia, seja por carta de
crédito, seguro de crédito ou
operação com CCR (Convênio
de Crédito Recíproco).
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