São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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EXUBERÂNCIA IRRACIONAL
Aumento dos juros levou em conta a "alta inexplicável" das ações, diz presidente do Fed
Greenspan diz estar atento às Bolsas

das agências internacionais

O presidente do Fed (o banco central dos EUA), Alan Greenspan, afirmou ontem que a decisão de aumentar as taxas de juros norte-americanas levou em consideração a "alta inexplicável" da Bolsa de Valores do país.
"Nós não podemos mais nos dar ao luxo de simplesmente olharmos o valor dos bens e serviços produzidos para determinar o rumo da política monetária", disse Greenspan, num discurso no Fed de Grand Tetons, Wyoming.
De acordo com Greenspan, a escalada dos preços das ações e dos bens imóveis nos últimos cinco anos está transformando a forma como os consumidores gastam e as empresas aplicam seus recursos. "E isso deve ser levado em consideração pelo BC", disse.
Na última terça-feira, o Fed elevou em 0,25 ponto percentual a taxa de juros básica, que passou para 5,25%.
A fala de Greenspan foi interpretada pelos analistas como uma nova fase na política monetária dos EUA.
Em junho, em seu testemunho ao Congresso, o presidente do Fed havia dito que a política monetária "deveria enfatizar a estabilidade dos preços dos bens e serviços".

Cautela
Greenspan procurou ser cauteloso e evitou afirmar que os preços das ações estariam sobrevalorizados. O presidente do Fed também evitou falar de possíveis novos aumentos nas taxas de juros.
As afirmações de Greenspan, no entanto, voltaram a despertar incertezas entre os investidores sobre o real valor das ações e geraram rumores de uma nova alta nos juros até o fim do ano, derrubando o preço das ações.
A Bolsa de Nova York caiu 0,97% ontem, fechando em 11.090,17 pontos. O índice eletrônico Nasdaq, que reúne as empresas de tecnologia, fechou com perda de 0,57%. Os títulos da dívida norte-americana (T-bonds) de 30 anos subiram 0,08 ponto percentual e pagaram juros de 5,961%.
Greenspan vem repetindo há pelo menos três anos que as ações estão sobrevalorizadas.
Em dezembro de 96, quando o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York atingiu 6.500 pontos, o presidente do Fed alertou para a "exuberância irracional" da Bolsa de Valores.
O índice acumula alta de 172% nos últimos cinco anos. O preço dos bens imóveis subiu, em média, 23% no período.
Greenspan defendeu a intervenção do Fed para corrigir o preço das ações em caso de alta exagerada e repentina.
"Bancos centrais não agem quando há alta gradual nos preços das ações. Mas se houver uma alta repentina, gerando problemas de liquidez no mercado, o BC deve intervir", disse.
De acordo com o dirigente do Fed, o "efeito saudável" da alta das Bolsas foi sentido no começo dos anos 90, quando a "exuberância" do mercado acionário fez o país crescer. Isso aconteceu porque os consumidores gastavam mais em carros ou comprando casas quando as ações estavam subindo. "Mas essa fase já passou", disse.
Greenspan admitiu que hoje, com o surgimento de novas tecnologias e os ganhos de produtividade, é cada vez mais difícil estimar com precisão o preço "razoável" de uma ação. No entanto, afirmou, isso continua não explicando o aumento das ações nos últimos anos.
A economia norte-americana está em seu nono ano consecutivo de crescimento. No primeiro trimestre, o país registrou expansão de 4,3%. No segundo, o crescimento foi de 1,8%.


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