São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Versão preliminar do Relatório de Inflação do BC, feita por técnicos, compara crise às de 97 e 98 e vê ameaça a crescimento

Tensão lembra crises russa e asiática, diz BC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As dificuldades enfrentadas atualmente pela economia brasileira se comparam às turbulências vividas durante a crise asiática e a crise russa, na opinião do Banco Central. Para o BC, as eleições presidenciais e a instabilidade do cenário externo são os principais motivos do nervosismo do mercado financeiro e deverão prejudicar o crescimento da economia neste ano.
Essa avaliação deve constar do Relatório de Inflação que o BC divulga na próxima segunda-feira. Preparado a cada três meses, o documento avalia periodicamente as perspectivas para a economia brasileira.
"A aproximação das eleições e a deterioração da conjuntura internacional refletiram-se em nervosismo no mercado cambial, com desdobramentos desfavoráveis sobre as expectativas internas, cujos indicadores situam-se em patamar equivalente ao de momentos que precederam as crises russa e asiática", afirma versão preliminar do documento, elaborada por técnicos do BC.
A versão final do documento ainda precisa ser aprovada pela diretoria da instituição e deve ser impressa durante este fim de semana para que possa ser divulgada depois de amanhã.
A crise asiática, ocorrida em 1997, foi o nome dado ao processo que levou países do Sudeste Asiático a desvalorizar suas moedas. Nos dias que antecederam à plena explosão da crise, o pânico que se espalhou no mercado financeiro internacional provocou uma redução do fluxo de dólares para os países emergentes. Um ano depois, a moratória decretada pela Rússia teve consequências semelhantes nos mercados.
Combinados, os efeitos dessas crises sobre o Brasil acabaram fazendo com que o BC promovesse um brutal aumento de juros e levasse o país a crescimento quase zero em 98. Também colaboraram para que, em 99, o governo desvalorizasse o real e adotasse o câmbio flutuante.

Consequências
Para o BC, uma das principais consequências desse nervosismo dos investidores será uma queda na taxa de crescimento da economia. "O cenário para o nível de atividade nos próximos meses deve considerar como fatores restritivos a permanência das incertezas decorrentes do pleito eleitoral e da conjuntura internacional", diz o documento.
Além disso, as turbulências observadas no mercado financeiro afetam negativamente a confiança dos consumidores, que acabam sendo mais cautelosos na hora de suas compras. Esse comportamento prejudica, principalmente, a venda de bens de consumo duráveis, como automóveis.
No mais recente Relatório de Inflação, publicado em junho, o BC projetava um crescimento de 2% para este ano. As últimas estimativas feitas pela instituição apontam para uma taxa menor, entre 1% e 1,5%.
Para o BC, o atual nervosismo do mercado faz com que os bancos fiquem mais cautelosos na hora de emprestar dinheiro a seus clientes. Essa queda no crédito provoca uma redução no consumo das pessoas e no investimento das empresas, colaborando para frear o crescimento da economia.
A expectativa expressa no documento é que ocorra em breve uma retomada nas linhas de crédito externo para o país, o que ajudaria a conter a alta do dólar e a reduzir o nervosismo do mercado, colaborando para uma melhora no nível de atividade.
A situação pode ficar ainda pior caso os Estados Unidos decidam iniciar uma guerra contra o Iraque. Segundo o BC, "um novo conflito no Oriente Médio poderá alterar radicalmente o cenário para a economia mundial, a começar por nova escalada nos preços internacionais do petróleo. Dessa forma, a volatilidade no mercado de petróleo deverá ser intensa nos próximos meses, afetando negativamente a economia mundial no restante do ano".


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