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EM TRANSE
Versão preliminar do Relatório de Inflação do BC, feita por técnicos, compara crise às de 97 e 98 e vê ameaça a crescimento
Tensão lembra crises russa e asiática, diz BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As dificuldades enfrentadas
atualmente pela economia brasileira se comparam às turbulências
vividas durante a crise asiática e a
crise russa, na opinião do Banco
Central. Para o BC, as eleições
presidenciais e a instabilidade do
cenário externo são os principais
motivos do nervosismo do mercado financeiro e deverão prejudicar o crescimento da economia
neste ano.
Essa avaliação deve constar do
Relatório de Inflação que o BC divulga na próxima segunda-feira.
Preparado a cada três meses, o
documento avalia periodicamente as perspectivas para a economia brasileira.
"A aproximação das eleições e a
deterioração da conjuntura internacional refletiram-se em nervosismo no mercado cambial, com
desdobramentos desfavoráveis
sobre as expectativas internas, cujos indicadores situam-se em patamar equivalente ao de momentos que precederam as crises russa
e asiática", afirma versão preliminar do documento, elaborada por
técnicos do BC.
A versão final do documento
ainda precisa ser aprovada pela
diretoria da instituição e deve ser
impressa durante este fim de semana para que possa ser divulgada depois de amanhã.
A crise asiática, ocorrida em
1997, foi o nome dado ao processo
que levou países do Sudeste Asiático a desvalorizar suas moedas.
Nos dias que antecederam à plena
explosão da crise, o pânico que se
espalhou no mercado financeiro
internacional provocou uma redução do fluxo de dólares para os
países emergentes. Um ano depois, a moratória decretada pela
Rússia teve consequências semelhantes nos mercados.
Combinados, os efeitos dessas
crises sobre o Brasil acabaram fazendo com que o BC promovesse
um brutal aumento de juros e levasse o país a crescimento quase
zero em 98. Também colaboraram para que, em 99, o governo
desvalorizasse o real e adotasse o
câmbio flutuante.
Consequências
Para o BC, uma das principais
consequências desse nervosismo
dos investidores será uma queda
na taxa de crescimento da economia. "O cenário para o nível de
atividade nos próximos meses deve considerar como fatores restritivos a permanência das incertezas decorrentes do pleito eleitoral
e da conjuntura internacional",
diz o documento.
Além disso, as turbulências observadas no mercado financeiro
afetam negativamente a confiança dos consumidores, que acabam sendo mais cautelosos na
hora de suas compras. Esse comportamento prejudica, principalmente, a venda de bens de consumo duráveis, como automóveis.
No mais recente Relatório de
Inflação, publicado em junho, o
BC projetava um crescimento de
2% para este ano. As últimas estimativas feitas pela instituição
apontam para uma taxa menor,
entre 1% e 1,5%.
Para o BC, o atual nervosismo
do mercado faz com que os bancos fiquem mais cautelosos na hora de emprestar dinheiro a seus
clientes. Essa queda no crédito
provoca uma redução no consumo das pessoas e no investimento
das empresas, colaborando para
frear o crescimento da economia.
A expectativa expressa no documento é que ocorra em breve uma
retomada nas linhas de crédito
externo para o país, o que ajudaria a conter a alta do dólar e a reduzir o nervosismo do mercado,
colaborando para uma melhora
no nível de atividade.
A situação pode ficar ainda pior
caso os Estados Unidos decidam
iniciar uma guerra contra o Iraque. Segundo o BC, "um novo
conflito no Oriente Médio poderá
alterar radicalmente o cenário para a economia mundial, a começar por nova escalada nos preços
internacionais do petróleo. Dessa
forma, a volatilidade no mercado
de petróleo deverá ser intensa nos
próximos meses, afetando negativamente a economia mundial no
restante do ano".
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