São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Dólar vai a R$ 3,88; mercado prepara segunda-feira ainda mais tensa

Risco-país supera o da crise russa; dólar é novo recorde

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar e o risco Brasil encerraram a semana em níveis recordes. A moeda americana subiu 3,19% ontem, para R$ 3,88, a maior cotação do real. Nesta semana, o dólar subiu 14%; no mês, 29%. O risco-país subiu 9,7%, para 2.440 pontos, nível mais alto desde 1998, ano da crise russa.
Os C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira, derreteram 5,5% e fecharam a US$ 0,4881.
A proximidade das eleições brasileiras e fatores específicos de mercado pressionaram os indicadores durante toda a semana.
Segundo os operadores, o mercado começou a movimentar os preços para adequá-los a uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições. A hipótese passou a ser considerada após a divulgação de pesquisa Datafolha, no fim de semana, que apurou a subida do candidato de oposição.
O mercado continuou a especular com o resultado de próxima sondagem do instituto ontem. Duas versões circularam pelas mesas de operações. Uma delas apontava a vitória de Lula já no primeiro turno; a outra sinalizava um segundo turno entre o petista e o candidato do mercado, José Serra (PSDB). A pesquisa sequer havia sido concluída enquanto os números circulavam.
Isso indica o forte grau de especulação do mercado. Mas, segundo os analistas, o dólar a R$ 3,88 ainda não espelha a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno.
"Muita gente ainda não acredita que Lula vence. Se a pesquisa voltar a sinalizar essa vitória, o dólar vai subir ainda mais", diz Helio Osaki, analista da Finambras.
A rolagem de títulos públicos atrelados à variação cambial também continua ampliando a especulação do mercado. O governo iniciou ontem a renovação de 70% do vencimento de US$ 1,25 bilhão em dívida cambial, na terça-feira. Renovou 21% dos papéis com resgate em 2005, pagando taxas próximas aos 30%. Para os títulos com resgate neste ano, a demanda foi baixa e as taxas pedidas, altas. Logo, o BC não concluiu a operação. Como o mercado já prevê que o lote não será rolado totalmente, por falta de demanda, as tesourarias dos bancos começam a pressionar a cotação, uma vez que quanto mais alto o dólar, maior o ganho de quem irá receber pelos papéis.
"A princípio, não vejo nada que possa derrubar esse câmbio nos próximos dias. Não há razão para o câmbio não abrir fortemente pressionado [na segunda"", afirma Sérgio Machado, diretor de tesouraria do banco Fator.
"Na véspera da eleição, não é surpresa a volatilidade que tem caracterizado o mercado cambial. O que surpreende é a altura [que a cotação do dólar" já chegou", diz. O governo também rolou ontem US$ 150 milhões de US$ 350 milhões em linhas externas que vencem na semana que vem.


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