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ENCONTRO ANUAL
Ex-vice do FMI, hoje banqueiro do Citi, diz que próximo governo terá "tempos difíceis" para evitar o calote
Piora a situação da dívida do país, diz Fischer
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Stanley Fischer, que ocupou até
o ano passado o segundo cargo
mais importante do FMI (Fundo
Monetário Internacional), disse
ontem que o tempo conspira contra a economia brasileira. "O problema que realmente (o Brasil)
defronta é que, a cada dia, a trajetória da dívida [pública" torna-se
mais difícil de se sustentar e, qualquer que seja o próximo governo,
ele enfrentará tempos difíceis para evitar uma reestruturação da
dívida." Reestruturar significa
modificar prazos e montantes da
dívida a serem pagos. O termo é
interpretado como calote pelos
mercados financeiros.
Fischer, que ocupa hoje o cargo
de vice-presidente do Citigroup
(o maior conglomerado financeiro dos Estados Unidos), falou
num seminário sobre globalização e América Latina, durante o
encontro anual do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
Embora Fischer tenha dito que é
possível evitar o calote, o economista claramente distanciou-se
do otimismo retórico da equipe
econômica brasileira.
Segundo o banqueiro, a reestruturação é um cenário plausível
para a economia brasileira, dependendo da dinâmica da dívida
e da definição das políticas do
próximo governo. "As coisas podem ficar muito ruins", disse ele.
"Qualquer governo pode optar
pelo "default" (calote). Qualquer
governo, a qualquer momento,
pode escolher isto. Além disso, se
alguma coisa se torna inevitável,
você tem que fazê-la. E é o fim da
história. Não é obviamente inevitável neste ponto."
Fischer, que foi fiador dos pacotes do FMI ao Brasil em 1998 e
2001, comentou ainda o estudo
sobre a sustentabilidade da dívida
brasileira preparado no final de
julho por Ilan Goldfajn, diretor de
Política Econômica do BC.
Esse documento é hoje o principal instrumento do governo brasileiro para defender tecnicamente a tese de que, se a responsabilidade fiscal for mantida pelo próximo governo sob determinadas
condições de mercado, a dívida
brasileira é pagável.
Para Fischer, ainda é possível
obter uma diferença de sete pontos percentuais entre a taxa de juros reais e o crescimento do PIB
brasileiro - uma das condições
descritas pelo estudo. No entanto,
segundo ele, as condições de mercado pioraram muito desde que
aqueles cálculos foram feitos.
"Desde que eles escreveram
aquele documento, o mercado
moveu-se negativamente. Ainda
pode ser possível obter a diferença de sete pontos percentuais,
mas está ficando mais difícil, como resultado deste período duradouro de incerteza."
Fischer afirmou que, se a reestruturação for inevitável, é melhor que ela seja feita de forma
"rápida e ordenada". E acrescentou que, "se necessária", uma
maior ajuda financeira "faria sentido para o Brasil e para os mercados emergentes em geral", em um
cenário específico. Segundo o
banqueiro, isso ocorreria "num
contexto de um programa convincente de outro governo, que
fortaleça as políticas com maior
chance de sucesso".
Fischer disse, no entanto, que o
pacote atual do FMI para o Brasil,
de US$ 30,4 bilhões, foi muito
bem formulado e seria suficiente,
ao menos sob as atuais condições.
"Se a próxima administração, seja
ela qual for, assegurar os mercados esclarecendo o tipo de políticas econômicas que vai seguir, veremos a taxa de câmbio se fortalecer, o que ajuda a reduzir a probabilidade de um "default" da dívida.
Poderia ser necessário um período temporário de política fiscal
mais forte também."
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