São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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CRISE NO AR

Envolta em dívidas, empresa diz que fez pagamento ontem à noite

Com salários atrasados, Vasp deixará de voar por 48 horas

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Aeronave da Vasp parada para manutenção em hangar no aeroporto de Congonhas (SP)


MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pilotos e comissários da Vasp, ainda sem ter recebido os salários de agosto, decidiram entrar em greve por 48 horas a partir da 0h de hoje. A adesão, segundo sindicalistas, deve ser maciça. Das 26 aeronaves utilizadas para o transporte de passageiros, a empresa tem operado com 15 e vem cancelando vôos diariamente desde a última terça.
A crise na companhia se intensifica. Ontem e domingo, a empresa teve problemas com alguns cortes no fornecimento de combustível, segundo sindicalistas. Isso porque os fornecedores exigem pagamento à vista, o que complica a vida da empresa, sem fluxo de caixa por causa dos cancelamentos.
De acordo com a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), 26 vôos foram cancelados ontem no país. A autarquia, para a qual a Vasp deve cerca de R$ 500 milhões, estuda exigir da companhia aérea, a partir de outubro, pagamentos diários das taxas aeroportuárias.
Segundo a Folha apurou, na avaliação do governo federal, a Vasp só consegue voar, no máximo, até janeiro ou fevereiro do próximo ano. É quando entram em vigor novos padrões de ruído. A companhia de Wagner Canhedo não tem condições técnicas e muito menos financeiras para fazer as mudanças necessárias.
As aeronaves são obsoletas, e Canhedo, apesar de sucessivas investidas no governo e em financiadores privados, não consegue recursos para renovação de frota.
Dos 19 Boeing-737/200, modelo que começou a ser fabricado em 1961, apenas 11 estão voando -seis dos quais foram proibidos de operar pelo DAC (Departamento de Aviação Civil) na semana passada porque a aérea não realizou a manutenção determinada pela fabricante.
Segundo a Folha apurou, três aviões foram "canibalizados", ou seja, a empresa os estacionou para utilizar suas peças na manutenção dos outros. O mesmo aconteceu com dois dos três Airbus 300.
Em dezembro do ano passado, a Vasp tinha uma dívida que somava R$ 2,678 bilhões: R$ 550 milhões de curto prazo e R$ 2,128 bilhões de longo prazo.

Petróleo
Os problemas conjunturais que intensificam a crise atravessada pela companhia aérea, que no passado já foi a segunda maior no país, são: a alta do petróleo -ontem, o barril maior cotação da história-, a guerra tarifária entre o setor no início do ano e as dificuldades em manter sua frota.
O problema já ocorreu com outra companhia brasileira. A Transbrasil, que parou de voar em dezembro de 2001, também não operava parte de sua frota por falta de manutenção. A Varig, com uma dívida de R$ 6 bilhões, é outra que sente a crise enfrentada pelo setor. Em melhor situação, restam a TAM e a Gol.
De acordo com uma operadora de turismo, que tradicionalmente vende 245 bilhetes da Vasp por dia, as vendas na sexta-feira caíram para 83 passagens.
Segundo a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, os trabalhadores vão organizar um protesto na manhã de hoje em frente ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, para exigir uma solução do governo do Estado -que tem participação na empresa. Durante a tarde, os funcionários vão se reunir para avaliar a situação e determinar se vão seguir em greve.

O que fazer
Para evitar mais transtornos, os passageiros que têm vôos pela companhia aérea marcados para hoje devem ligar para o aeroporto de Congonhas (0/xx/11/5090-9000) ou Guarulhos (0/xx/11/ 6445-2945) para confirmá-los.
A companhia, segundo o Procon, tem o dever de providenciar outro vôo para o passageiro e o embarcar por outra empresa -ou devolver o valor pago pelo bilhete.

Colaborou Eliane Cantanhêde, colunista da Folha


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